O dia 26 de abril de 1986 ficará marcado eternamente na história da humanidade como o ano da maior catástrofe causada pelo homem até hoje. Nessa data ocorreu o acidente na usina nuclear de Tchernóbil, próximo à cidade de Pripyat na Ucrânia. Um dos reatores teve problemas técnicos e explodiu, causando um grande incêndio no local, o que liberou uma nuvem radioativa contaminando pessoas, animais e o meio ambiente. Isso destruiu uma cidade inteira e os efeitos tóxicos foram espalhados por quase toda a Europa.
Durante semanas, as autoridades soviéticas escondiam a gravidade da situação para comunidade internacional, enquanto tentavam controlar os danos enviando até o desastre radioativo milhares de homens mal equipados e sem o menor conhecimento do que enfrentariam. E é sobre isso que trata o livro “Vozes de Tchernóbil”, da jornalista Svetlana Aleksiévitch, uma das mais recentes escritoras a ser condecorada com o prêmio Nobel de literatura. Sua escrita é sincera, sem floreios e tenta captar a realidade por meio da vida humana, mas sem cair no exagero ou sensacionalismo.
Nessa obra, com um olhar sensível, a autora apresenta um texto que fica entre o jornalismo e a literatura não ficcional, oferecendo aos leitores um relato oral de centenas de pessoas que viveram a tragédia, desde cidadãos comuns, como moradores da cidade próxima; bombeiros e médicos, que sentiram na pele as violentas consequências do desastre, até as forças do regime soviético que tentaram esconder o acidente. E exatamente isso que você, caro leitor, vai encontrar enquanto percorrer as mais de 400 páginas deste livro: a voz humana da tristeza e do desespero, diante do terror real que ainda hoje assola muitas vidas ao redor do mundo.