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Já imaginaram quão complexa é uma máquina ou sistema, a que chamamos SNS, que está aberto 24 horas por dia e 365 dias por ano.

E durante esse tempo, todo o tempo, e em todo o país, responde às necessidades de saúde.

Podem ser coisas muito simples, como uma constipação mais agreste ou um colesterol acima do desejado.

Ou podem ser coisas muito graves como um ataque de coração, uma queimadura grave ou múltiplos traumatismos resultado de uma queda ou acidente de viação.

São milhões, sim, disse, bem, milhões de consultas, dias de internamento, tratamentos e cirurgias.

Todos os dias. A todas as horas.

Os doentes sabem disso. Os contribuintes também.

Só dinheiro dos impostos há 15 mil milhões de euros para a saúde.

Sem contar com o que cada cidadão usa do próprio bolso: por exemplo, para ir ao dentista.

A máquina de preservar, cuidador, reparar e acompanhar-nos na saúde é definição complexa.

É desde logo muito complexa na difícil organização dos meios humanos.

Médicos, enfermeiras, administrativos, auxiliares… a lista pode ser gigante.

Todos têm funções específicas, muitos têm saberes profundos e capacidades técnicas avançadas e todos interagem para fornecer o melhor cuidado.

Além das pessoas, há a tecnologia. As máquinas, os tratamentos, a ciência estão cada vez mais avançados, logo mais complexos.

E nós cidadãos, estamos cada vez mais exigentes.

Exigentes porque queremos o melhor, mas, principalmente, exigentes porque estamos em média mais velhos e por isso com mais necessidades de saúde.

Já repararam que as pessoas doentes de hoje tem não uma, mas várias áreas a que tem de dar atenção.

Ora estas necessidades e complexidades obrigam a conversas cada vez mais francas e abertas na sociedade.

E os sistemas de saúde começam a abrir portas para os cidadãos participarem nos seus processos de decisão.

E eu fui em busca do Professor Mauro Serapioni é investigador sénior do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra desde 2009 e Professor Doutor em Ciências Sociais .

E dedica-se a estudar exemplos de todo o mundo dos caminhos da participação dos cidadãos em sistemas de saúde.

Será que os sistemas de saúde querem ouvir os cidadãos que servem?

A voz dos cidadãos é cada vez mais importante e os sistemas como o SNS já se aperceberam disto.

Será que uma maior participação pode auxiliar a, pelo menos, calibrar as expectativas e ajudar a organizar melhor as respostas do sistema de saúde?

TÓPICOS DA CONVERSA:

(00:00:12) - Sobre a complexidade do Sistema Nacional de Saúde (SNS) e a relação entre o SNS e os cidadãos.

(00:02:35) - A importância de ter conversas francas e abertas entre os sistemas de saúde e os cidadãos.

(00:04:00) - A dificuldade de os sistemas de saúde realmente ouvirem e incorporarem a voz dos cidadãos em suas decisões.

(00:07:39) - Discussão sobre a limitação da participação dos cidadãos nos sistemas de saúde e a necessidade de espaços de verdadeira participação.

(00:10:19) - Destaque para experiências positivas de participação dos cidadãos no sistema de saúde, como no Canadá, Brasil e o Reino Unido.

(00:12:35) - Explanação dos princípios presentes na nova lei de bases da saúde que reconhecem a importância da participação dos doentes e utentes no sistema de saúde.

(00:17:52) - Discute-se o problema da representatividade dos cidadãos nos sistemas de saúde e diferentes estratégias utilizadas em diferentes países.

(00:21:22) - Aborda-se a falta de efetividade da participação dos cidadãos e como as suas opiniões muitas vezes não são consideradas pelas instituições de saúde.

(00:25:20) - Destaca-se a importância de promover uma rede entre associações, movimentos, instituições e representantes institucionais para fortalecer a representação dos cidadãos.

(00:25:57) - Sobre as dificuldades de acesso e as expectativas dos cidadãos relativamente ao sistema de saúde.

(00:27:08) - É abordada a importância de criar espaços democráticos para os cidadãos poderem participar e a necessidade das instituições de saúde incorporarem algumas propostas dos representantes.

(00:30:01) - Fala-se sobre a necessidade de os cidadãos estarem informados e preparados para participar no sistema de saúde, destacando a importância da literacia em saúde.

(00:35:08) - Discute-se a importância da qualidade no sistema de saúde, abordando as dimensões técnica, organizacional e relacional na perspetiva do utente.

(00:37:26) - Exploram-se os problemas metodológicos e de conteúdo nos questionários de satisfação, destacando a falta de perguntas sobre a perceção e experiência do paciente.

(00:40:46) - Reflete-se sobre a importância da participação dos cidadãos no sistema de saúde, mencionando a queda na satisfação dos portugueses com o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a possibilidade de uma maior participação ajudar a melhorar o sistema.

LINKS ÚTEIS

Aqui está uma lista de artigos importantes sobre a participação dos cidadãos no processo de decisão em saúde,para leitura adicional:

"Os desafios da participação e da cidadania nos sistemas de saúde": Este artigo discute a expansão dos direitos do cidadão, incluindo a participação nos processos de decisão nas esferas social, econômica e cultural, com foco na saúde. Leia mais aqui.

"Participação em saúde como elemento indissociável para o fortalecimento dos sistemas de atenção à saúde nas Américas": Este artigo aborda a relevância da participação em saúde para o fortalecimento dos sistemas de atenção à saúde, especialmente considerando os desafios trazidos pela pandemia de COVID-19. Leia mais aqui.

"Participação pública em saúde e Covid-19 em Portugal": Foca nos desafios da institucionalização de mecanismos participativos na área da saúde em Portugal, abordando também o contexto histórico e as limitações enfrentadas. Leia mais aqui.

"Democracia sanitária: avanços e resistências no processo de participação dos pacientes/usuários no sistema de saúde francês": Este artigo explora a participação dos pacientes no sistema de saúde francês, discutindo o conceito de democracia sanitária e os desafios enfrentados. Leia mais aqui.

"Participação social e Atenção Primária em Saúde no Brasil: uma revisão de escopo": Discute como a descentralização da saúde no Brasil promoveu a criação de conselhos de saúde, reforçando a gestão participativa e o empoderamento da comunidade. Leia mais aqui.

"A participação nos sistemas de saúde de Brasil e Portugal: potencialidades e desafios": Este artigo analisa as políticas de participação nos sistemas de saúde do Brasil e Portugal, destacando as potencialidades e os desafios encontrados. Leia mais aqui.

"Saúde e cidadania: a importância da participação popular no SUS": Oferece um panorama sobre a participação popular no Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, incluindo as conferências nacionais de saúde e a formação de políticas públicas. Leia mais aqui.

Estes artigos fornecem uma compreensão ampla sobre a importância da participação dos cidadãos no processo de decisão da saúde em diferentes contextos.

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(Com todas as virtudes e lapsos das máquinas)

JORGE CORREIA (00:00:12) - Ora vivam! Bem vindos ao Pergunta Simples o vosso podcast sobre comunicação. Hoje é dia de falarmos sobre saúde e sobre cidadania. São dois dos meus temas favoritos. A saúde é importante para todos e nestes últimos 30 anos tenho dedicado o meu trabalho a compreender como funciona um dos mais complexos e fascinantes sistemas de suporte social, o nosso SNS e, em particular, a relação entre o SNS e os cidadãos que serve esta edição. No entanto, sobre a prestação de cuidados de saúde, mas mais sobre as coisas que os cidadãos dizem ao sistema de saúde e a maneira como o sistema os ouve, seja através de pedidos de necessidades, de reclamações ou de elogios. Este é um programa sobre o exercício da cidadania no sistema de saúde. Falai agora ou calai vos para sempre. É melhor falar. Já imaginaram quão complexa é uma máquina ou sistema a que chamamos SNS, que está aberto 24 horas por dia e 365 dias por ano? E durante esse tempo, todo o tempo e em todo o país, responde às nossas necessidades de saúde.

JORGE CORREIA (00:01:32) - Podem ser coisas muito simples, como uma constipação mais agreste ou um colesterol acima do desejado. Podem ajudar nos a manter a nossa saúde intacta ou podem ser coisas muito graves, como um ataque de coração, uma queimadura grave ou múltiplos traumatismos, resultado de uma queda ou acidente de viação. Sim, são milhões. Sim, disse bem. São milhões de atos de consultas, de dias de internamento, de tratamentos e cirurgias todos os dias, a todas as horas. Os doentes sabem isso, os cidadãos também. E os contribuintes desconfio que também sabem muito bem o que é que isso quer dizer. Se falarmos em dinheiro só nos impostos a 15 mil milhões € para a saúde, sem contar com o que cada cidadão usa do seu próprio bolso. Por exemplo, para ir ao dentista, à máquina de preservar, cuidar, reparar e acompanhá los na saúde é, por definição, complexa. É fácil perceber, desde logo muito complexa na difícil organização dos meios humanos médicos, enfermeiras, administrativos, auxiliares. A lista pode ser gigante.

JORGE CORREIA (00:02:35) - Todos eles têm funções específicas. Muitos deles têm saberes profundos e capacidades técnicas avançadas, e todos interagem com todos para fornecer o melhor cuidado de saúde. Além das pessoas, a tecnologia, cada vez mais as máquinas, os tratamentos, a ciência estão mais avançados e, por isso, mais complexos. E nós, cidadãos, estamos cada vez mais exigentes. Exigentes porque queremos o melhor, mas principalmente exigentes porque estamos em média mais velhos e, por isso, com mais necessidades de saúde. Já repararam que as pessoas doentes de hoje não têm uma só doença, mas várias áreas a que têm de dar a sua atenção? Ora bem,