Listen

Description

O meu fascínio pelas boas histórias é lendário,E a minha curiosa de sobre a maneira como os escritores trabalham é sempre grande.Por isso vamos lá mergulhar de cabeça na arte de criar estórias, escritas no papel.Nessa fabulosa invenção chamada livro.

Sempre quis saber como escrevem os autores os seus livros.De onde nascem as ideias, como se criam personagens e se escorem as histórias.Por isso convidei Patrícia Reis, jornalista e escritora, para nos levar numa viagem ao coração do seu universo criativo.Ela partilha como constrói as suas histórias, como lê os livros que a inspiram e aborda temas que vão além da literatura, tocando questões sociais e culturais atuais.

Para Patrícia Reis, a escrita começa sempre com as personagens. Elas não surgem apenas como ideias abstratas, mas como figuras completas — com histórias, personalidades e uma necessidade urgente de serem contadas. É a partir delas que os seus livros ganham forma. Num processo quase intuitivo, ela rejeita esquemas rígidos de narrativa, preferindo deixar as histórias fluírem naturalmente, numa descoberta constante. Por vezes, as personagens assumem tal autonomia que alteram completamente o rumo que ela inicialmente imaginava.

A leitura, por outro lado, é descrita como um refúgio, uma fonte de inspiração e, acima de tudo, uma experiência transformadora. Patrícia acredita que cada livro tem um momento certo na vida do leitor que a sua interpretação muda com a idade e a experiência. Alguns livros resgatam-nos em tempos difíceis, outros desafiam-nos a ver o mundo de uma nova perspetiva. E há ainda os que nos deixam órfãos ao terminarem, tamanha é a sua profundidade e impacto.

Para além da escrita e da leitura, falámos de temas sociais e culturais que atravessam os dias de hoje.Patrícia Reis é uma voz ativa na defesa do papel da mulher no mundo.O feminismo, por exemplo, surge como uma luta por igualdade e justiça, longe de qualquer polarização. Ela reflete sobre como as mulheres em posições de poder enfrentam ataques específicos, como as críticas diretas e maldosas ao corpo das mulheres na espera pública, e sobre a persistência de desigualdades salariais e sociais.

As redes sociais também entram na conversa como um espelho das dinâmicas sociais atuais. Patrícia questiona o impacto que a polarização e o discurso de ódio têm sobre o diálogo e a construção de pontes entre pessoas com opiniões diferentes. Para ela, a falta de espaço para conversas abertas e para a troca de ideias é um dos maiores desafios da era digital.

Claro que falamos também de jornalismo,Sobre a importância do jornalismo. Patrícia Reis defende que uma democracia saudável depende de um jornalismo que aprofunde contextos, promova pensamento crítico e mantenha a sociedade informada. Aponta, no entanto, os desafios do setor, como a precariedade das redações e a superficialidade de muitos conteúdos na atualidade.

Este episódio é uma oportunidade para explorar o poder transformador das palavras — escritas e lidas.

A biografia dos escritores está sempre expressa nos livros que escrevem. Ao escolher os temas, ao imaginar uma história os autores escolhem as armas com que nos vão ora encantar, ora desassossegar.

Na página do Pergunta Simples está lá a informação dos livros que Patrícia Reis escreveu até agora. Vale sempre a pena ler.

Livros de Patrícia Reis

A Desobediente (2024)

Da Meia Noite às Seis (2021)

As Crianças Invisíveis (2019)

A Construção do Vazio (2017)

Contracorpo (2013)

Mistério no Benfica - O Roubo da Taça dos Campeões Europeus (2012)

Assalto à Casa Fernando Pessoa (2012)

Por Este Mundo Acima (2011)

Mistério no Oceanário (2011)

Mistério na Primeira República (2010)

Um Mistério em Serralves (2010)

Mistério no Museu da Presidência (2009)

Antes de Ser Feliz (2009)

O Que nos Separa dos Outros por Causa de um Copo de Whisky (2014)

No Silêncio de Deus (2008)

A fada Dorinda e a Bruxa do Mar (2008)

Mistério no Museu de Arte Antiga (2008)

Xavier, o livro esquecido e o dragão enfeitiçado (2007)

Morder-te o coração (2007)

Amor em Segunda Mão (2006)

Beija-me (2006)

Cruz das Almas (2004)

Vasco Santana: o bem amado (1999)

Paris 1889 (1994)

Conhecer a Arte – Andy Warhol

Conhecer a Arte – Mona Lisa

O Mistério da Máscara Chinesa

A Nossa Separação

Carolina gogirls

O Diário de Micas

LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO

00:00:00:00 - 00:00:36:04

Estás confortável com o jornalista escritor? O perfeito escritor é absolutamente igual e igual. Absolutamente. Olha, tu está desligado. Está tranquilo assim. Provavelmente porque é só porque os momentos chatos dos telefones têm. Tem essa coisa tremenda de zurrar, quando não, quando não devem fazer aquela palminha para vos irritar, aquietar a malta, para irritar a malta, para evitar a malta do do som, que é o que acontece habitualmente aqui é que é que a malta viva.

00:00:36:06 - 00:01:14:23

Patrícia Reis, Jornalista, escritora. Hoje chega aí uma carga de trabalho. Antes de mais nada, isto é uma escritora. Boa pergunta. Não sei se tem dias, tem dias. Eu sinto me sempre uma aprendiz de feiticeiro. Na verdade, para ser sincera, é como eu gosto de muitas coisas. Eu gosto de fazer muitas coisas e gosto de coisas muito diferentes. Portanto, na verdade, eu não sou só jornalista escritora, porque eu faço edição, porque eu faço produção de exposições, que eu faço curadoria, porque eu faço, eu faço coisas, eu gosto, fazer coisas.

00:01:14:23 - 00:01:34:22

Pronto, vamos pôr assim. E não é uma coisa que seja predominante. Não estás no tribunal e dizes. Patrícia Reis declara se desde já como é que no tribunal pergunta nos Não é? Quem é que é? Qual é sua profissão? Eu tenho muita dificuldade em responder a isso, mas claro que sim. Eu digo sempre que sou jornalista. Tenho carteira profissional de jornalista, sou jornalista, uma maneira de olhar para o mundo.

00:01:34:22 - 00:01:55:20

E claro que também sou escritora e outra maneira de olhar para o mundo. Vamos falar do olhar para o mundo. Vamos falar também das tuas escritas, daquilo que tu, daquilo que tu escreves. Como é que se escreve um livro quando? Isso não é charme de escritor, Não é que está tão difícil expressar o seu charme. Isto é muito doloroso.

00:01:55:22 - 00:02:10:23

Há livros mais dolorosos do que do que outros. Eu acabei de escrever um romance que diverti me imenso, divertiu. Pela primeira vez posso dizer aquela coisa de diverti me a Ufa! Como é que se chama? Não sei.

00:02:11:00 - 00:02:29:03

Mas o título no fim e os títulos é sempre um drama para mim. Então mas porquê? Porque tens muitos. Porque é difícil, Porque é difícil encontrar um bandido. É muito difícil encontrar onde é o autor que tem que fazer o título. O editor pode dar a imagem, o editor pode dar uma ajuda, mas neste momento o livro está só comigo.

00:02:29:03 - 00:02:49:05

Portanto é só meu. Neste momento, conta me como é que é a mecânica. Tu tens as ideias sem das árvores ou das ideias nascendo. José Eduardo Agualusa diz que sonhou os livros, que é uma coisa que eu acho muito bonita. Sortudo? Sortudo mesmo. Sonha. Acorda de manhã. Onde é que estava o papel? Onde é que está a minha caneta?

00:02:49:06 - 00:03:08:00

Vamos lá. Imagino que não seja bem assim, mas acho bonito. Lá está o charme. Foi um livro bom, É um homem charmoso, é um facto, mas eu percebo que também assume uma dimensão quase transcendental na forma como os livros chegam. E é lendo os livros dele, eu até tendo a acreditar que ele de facto, de alguma maneira sonhou os livros.

00:03:08:00 - 00:03:36:12

Mas lá está, eu não sonho. Geralmente é uma personagem que me surge. Ele surge com corpo e roupa e tudo. Se for esta personagem, esta personagem tem uma história para contar e geralmente nunca saiu. O fim daquilo que estou a escrever é dificílimo para mim fazer aquelas estruturas à americana. Vamos fazer uma narrativa, estruturas, narrativa, introduções e agora o herói é o anti-herói.

00:03:36:12 - 00:03:56:10

E agora o conflito é agora. Essas coisas para mim são todas uma grande treta. Funcionaram, mas não dá jeito ter de ter mais cuidado. Mas a mim não me dá jeito nenhum buscar essas pessoas que certamente senão as pessoas não fariam. E tu tem um personagem e aparece ali uma pessoa e depois faço o que faço, depois sento me, escrevo, ponto, ponto, interrogação.

00:03:56:11 - 00:04:15:05

O personagem geralmente é porque tem uma história para contar. Os livros mandam muito em nós, mais do que nós mandamos nos livros e nas personagens. As personagens têm vida própria. Eu sei que isto pode parecer uma coisa um bocadinho estranha, mas é verdade que há ali um momento em que a personagem, a história, vai para onde quer, Não é para onde eu quero.

00:04:15:07 - 00:04:41:11

Experimento quando eu dou um exemplo, eu escrevi um livro há uns anos, de que gosto particularmente chamado No Silêncio de Deus. E há uma personagem que é o Manuel Guerra, que é um velhote escritor que traz ganho, traga. Ganhava um prémio muito, muito grande, um Nobel da vida e que tem um cancro e vai morrer. Mais tarde. Instala se no bairro das prostitutas e eu ia matá lo.

00:04:41:16 - 00:05:03:15

Eu tinha. Sabia exatamente o que queria, contar isso e ia matar aula. Ele ia morrer. Mas depois apaixonei me por ele. Acho que ainda hoje estou um bocadinho apaixonada por ele. E ele conseguiu matar. Subverteu de alguma forma e exigiu de mim outra coisa. E tu? Quando foi tão difícil matar um personagem? Então não é isso que os escritores fazem habitualmente?

00:05:03:15 - 00:05:26:18

Quer dizer, matar personagens que se alguns até aquilo que eu tenho a certeza de que cada vez que aparece nunca pintou um personagem, porque eu gosto mesmo, mesmo, mesmo muito, é para morrer de escritor. A escrita está a fazer isso deliberadamente. Não sair não quer dizer não matar muitos personagens ao longo da minha, da minha escrita e dos meus livros, confesso.