O programa de hoje é uma viagem sobre a fala do corpo e as dores da alma.
Fala de profundas contradições e de estranhos equilíbrios.
Fala de seres humanos e ser-se humano.
Se vos disser que é uma edição sobre comportamento alimentar, doenças, causas e efeitos, estou a ser redutor.
Este é um programa sobre o amor.
E sobre as questões de pele.
A pele abraçada, aquecida, mimada e beijada.
Do bebé que acabou de nascer ao avô que celebra mais um aniversário em família.
Esse efeito do toque, desde tenra idade, pode significar muito para calibrar a nossa relação entre mente e corpo.
E a ausência do toque causar uma ferida existencial difícil de tapar.
Corpo que fala: ora na pele de galinha da emoção do momento. Da dor de barriga pelo exame da escola. Do peito que se aperta numa angústia maior.
É sobre isso esta edição.
Sobre a necessidade de nos sentirmos bem dentro da nossa pele. Se saber que nos amam de corpo e alma.
E por isso agarram-nos. Com os braços, com os lábios, com os mimos.
E pensar que tudo isto se passa mesmo sem palavras. Apenas com o gesto. Com o olhar.
Já repararam que há olhares de meio segundo que nos insuflam com uma confiança infinita.
E outros, frios ou cínicos que nos despejam a alma da cabeça aos pés.
Só um olhar de um alguém pode comandar-nos como um farrapo de pessoa ou um super-homem com infinitos poderes.
É essa caixa de ferramentas que carrega Dulce Bouça, médica psiquiatra.
Uma caixa de ferramentas carregada de perguntas e muitas respostas, ditas e não ditas.
TÓPICOS:
1. Fala Do Corpo E Dores Da Alma (0:00:13 - 0:15:44) - Discussão sobre a conexão entre mente e corpo, a importância do toque na pele, e a necessidade de nos sentirmos bem dentro da nossa pele. Introdução de Dulce Bossa, especialista em psiquiatria, e a sua abordagem para entender o comportamento humano.
2. Os Olhos Revelam as Emoções (0:15:45 - 0:26:58) - Exploração do universo das emoções e como elas são expressas nos olhos. Discussão sobre a curiosidade como ferramenta para entender sentimentos não verbais e a realidade das doenças comportamentais alimentares.
3. Doenças De Comportamento Alimentar (0:26:59 - 0:42:05) - Exame das diferentes formas de lidar com as nossas relações com os nossos corpos e como as pessoas que sofrem de anorexia nervosa lidam com os seus corpos e as suas tentativas de aprender a aceitá-los.
4. Curando Emoções E Feridas (0:42:06 - 0:43:06) - Discussão sobre cura emocional e regeneração
pessoal. A partilha de pensamentos sobre como lidar com dias difíceis, cuidar da nossa saúde e enfrentar as nossas falhas e tristezas. Abraçar a ideia de que os abraços podem ter poderes curativos.
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0:00:13 - JORGE CORREIA
Olá Viva, bem-vindos ao Pregunto Assimples, o vosso podcast sobre comunicação. As férias estão aí e é tempo de parar, restaurar, recuperar, tempo de vitaminar o corpo com sol, água, sal, comida, ar fresco e amigos. O programa de hoje é uma viagem sobre a fala do corpo e as dores da alma. Fala de profundas contradições e de estranhos equilibrios. Fala de seres humanos e ser-se humano. Se vos disser que é uma edição sobre o comportamento alimentar, doenças, causas e efeitos, estou a ser francamente redutor. É uma edição que vai à causa das coisas, ao corpo que tenha um cérebro, ao cérebro que talvez tenha uma mente, e esse delicado equilíbrio que às vezes se contradiz, depende mais dos afetos do que da vontade ou as simples recusas de comer. Vamos saber tudo durante esta edição.
Este é um programa sobre o amor, sobre as questões de pele, a pele que é abraçada, aquecida, mimada e beijada, do bebê que acabou de nascer ao avô que se celebra mais um aniversário em família. Esse efeito do toque na pele deste enredado pode significar muito para calibrar a nossa relação entre mente e corpo, no fundo, a relação entre nós e nós mesmos, entre corpo e alma, e a ausência do toque pode causar uma ferida existencial difícil de tapar. O corpo que fala ora na pele, galinha de emoção do momento da dor de barriga pelo exame na escola, do peito que se aperta no mangustia maior. É sobre isto esta edição, sobre a necessidade de nos sentirmos bem dentro da nossa pele, de saber se nos amam do corpo e alma e por isso nos agarram com os abraços, com os lábios, com os mimos. E pensar que tudo isto se passa mesmo sem palavras, apenas com o gesto, apenas com um olhar. Já repararam que há olhares de meio segundo, que nos insuflam, como a confiança infinita, e outros, frios ou sinicos, que nos despejam a alma da cabeça aos pés.
Só um olhar, um olhar de algo em pó de comandarmos, como um farrapo humano ou como um super homem com infinitos poderes. É essa caixa de ferramentas que carrega Dulce Bossa, médica Psiquiatra. Uma caixa de ferramentas carregada de perguntas e muitas respostas ditas e não ditas. Dulce Bossa, médica Psiquiatra, posso apresentá-la como especialista em doenças de comportamento alimentar? ou isso é demasiado pequeno para a atividade que faz o que?
0:02:58 - DULCE BOUÇA
é Não, não é o meu eixo principal.
0:03:01 - JORGE CORREIA
É esse o ponto que ocupo aos seus dias.
0:03:04 - DULCE BOUÇA
É a questão que eu mais gosto de tratar.
0:03:08 - JORGE CORREIA
Qual é o seu poder secreto?
0:03:10 - DULCE BOUÇA
Não tenho O seu super poder. Não tenho poder secreto. tenho uma grande curiosidade por aquilo que se passa com as pessoas e isso leva-me a ir descobrindo muita coisa que não aprendi nos livros, nem no curso, nem, Mas aprendi conversando com as pessoas.
0:03:26 - JORGE CORREIA
Ouvindo as pessoas.
0:03:26 - DULCE BOUÇA
Ouvindo as pessoas. As pessoas respondem a tudo e explicam tudo.
0:03:30 - JORGE CORREIA
A séria.
0:03:30 - DULCE BOUÇA
A séria.
0:03:32 - JORGE CORREIA
Tudo nos ditos ou algumas vezes nos não ditos.
0:03:36 - DULCE BOUÇA
Algumas vezes nos não ditos, mas eu considero que nas psicotrapias e nas pessoas eu não sei na psiquiatria não se deve interpretar. Deve-se interpretar o menos possível. Não estou na linha psicanalítica Deve-se clarificar. Portanto, quando as pessoas há qualquer coisa do não dito que é comunicado, a minha perspetiva é clarificar. Quer dizer o quê? O que é que está a querer comunicar, o que é que estou a perceber nos seus olhos e que não sei se é exatamente o que me está a querer comunicar? E portanto é assim que vamos a dizer.
0:04:12 - JORGE CORREIA
Eu pensava que os psiquiatras, a sua função principal, a sua tarefa principal no mundo era interpretar-nos.
0:04:19 - DULCE BOUÇA
Pois, essa é uma linha e uma forma de ver a psiquiatria, e uma forma de se atuar dentro da psiquiatria, e uma que eu propriamente não sico.
0:04:29 - JORGE CORREIA
Então é esse interessa-me saber, esse olhar nos olhos, esse não dito o Olhas para mim. Estás a tentar dizer-me alguma coisa, mas não consegue desverbalizar.
0:04:41 - DULCE BOUÇA
Não é tanto. Não consegue desverbalizar, porque aí eu estou já a classificar o que a pessoa está a conseguir ou não conseguir fazer É mais. Não sei se estou a conseguir perceber o que me quero transmitir.
0:04:54 - JORGE CORREIA
E vai sempre um nível mais fundo.
0:04:56 - DULCE BOUÇA
Às vezes, outras vezes passam-se para o básico, para o real, para o concreto, para perguntas muito básicas, como acho que está um bocadinho irritada, ou não, ou acho que hoje há uma luz que vem de si, que está e que me parece que o dia foi bom.
0:05:15 - JORGE CORREIA
Mas entre a provocação e o acolhimento.
0:05:18 - DULCE BOUÇA
Não, a minha ideia não é provocar. A minha ideia é poder oferecer àquela pessoa um espaço de confiança em que ela possa transmitir-me aquilo que muitas vezes guarda dentro dela com o sofrimento ou como ao estar, ou sem saber organizar-se dentro de tudo aquilo que sente, e que possa confiar em mim e portanto conversar comigo e portanto que possa dar a sua opinião e eu dar a minha resposta, porque eu sou dos psiquiatras que falo muito e não falo pouco. Aham, sim, sim, não, não, não.
0:05:51 - JORGE CORREIA
Vai lá. Eu gosto de falar com as pessoas, Então quando alguém entra aqui por esta porta, estamos a gravar no seu consultório. Pregunte-lhe aqui algo que vem.
0:06:03 - DULCE BOUÇA
Em que é que você pode ajudar?
0:06:04 - JORGE CORREIA
Em que você pode ajudar. Há um doente tipo, uma doente tipo que recebe não?
0:06:09 - DULCE BOUÇA
Não, a grande maioria dos doentes que eu recebo há muitos anos são doentes com doença de comportamento alimentário, porque foi no que eu me especilizei. Mas continuo a ver doentes com depressões, com depressões de pânico, com depressões da ansiedade, com tristeza. não depressão pessoas. Então onde é que está a fronteira? A fronteira é bem limitada. Uma tristeza que não é uma depressão, é uma reação, um acontecimento de vida que me agrou mas que é ultrapassável. É ultrapassável desde que a pessoa consiga compreender onde está e por onde é. que é que é isso?
0:06:45 - JORGE CORREIA
E é um processo benigno no fundo.
0:06:47 - DULCE BOUÇA
Sim, é um processo normal.
0:06:48 - JORGE CORREIA
Temos que Normal, temos o nosso sofrimento, a nossa alegria, o nosso sofrimento, e estamos aqui, sempre aqui, a avaliar entre as duas coisas A depressão, aí já estamos a falar de outra coisa, mais séria e mais profunda.
0:06:58 - DULCE BOUÇA
Não, muito mais séria, porque a depressão tem uma raiz biológica da constituição do próprio e é por isso que muitas vezes as pessoas com depressão são mal acolhidas, são mal orientadas e não gostam de hidrópsiciatra As próprias pessoas. Sim, eu acho que ninguém gosta de hidrópsiciatra.
0:07:19 - JORGE CORREIA
Então, como é? que é de que nos desventem a alma O?
0:07:21 - DULCE BOUÇA
psiquiatra leia por dentro o que se passa e que a pessoa não quer desvendar.
0:07:27 - JORGE CORREIA
Ah, eu quero guardar aqui este segredo, que não é.
0:07:29 - DULCE BOUÇA
Que é irreal. um psiquiatra não leia nada por dentro.