Há 2024 anos nasceu Jesus.
Assim reza a história e tradição cristã.
E hoje ainda vale celebrar o natal?
Hoje, temos uma conversa que promete iluminar muitos aspetos da nossa existência e nos levar a refletir sobre questões essenciais da vida, da fé e do mundo em que vivemos. Da fé, mas não só.
O convidado é o Padre Miguel Vasconcelos, capelão da Universidade Católica de Lisboa,
Alguém que se sonhou engenheiro e acabou a ser ordenado sacerdote,
O Padre Miguel consegue explicar coisas tão complexas e misteriosas como a fé em três frases.
Nesta conversa, exploramos o significado do Natal, mas também muito mais do que isso. Falamos de como, em tempos de escuridão – sejam eles conflitos no mundo, crises pessoais ou simples dúvidas existenciais —, o Natal pode ser uma luz.
Não uma solução mágica para os problemas, mas um convite a acreditar na possibilidade de recomeçar.
Discutimos o simbolismo do presépio como uma mensagem de vulnerabilidade e esperança, que nos desafia a sermos mais humildes e disponíveis para o outro.
Mas não paramos por aí.
Entramos também numa questão central: Deus. A ideia de Deus.
Deus existe?
Quem é Deus?
E como lidamos com a dúvida, o silêncio ou até mesmo a sensação de abandono em momentos difíceis?
Miguel Vasconcelos reflete sobre a complexidade desta relação, reconhecendo que a experiência de Deus é tanto transcendente quanto profundamente íntima. É um diálogo constante entre o que é infinitamente grande e aquilo que é infinitamente pequeno em nós.
Há também espaço para uma reflexão sobre o papel da religião no mundo contemporâneo.
Falamos de como, muitas vezes, a fé é vista como algo distante ou solene, quando na realidade está profundamente ligada à celebração da vida e até ao riso e à festa. Questionamos se a religião é um caminho de respostas, ou antes, um espaço para levantar as grandes perguntas da existência. Para o Padre Miguel, a fé não elimina a dúvida; pelo contrário, vive ao lado dela como um motor de busca e de encontro com o eterno.
E claro, sendo o Padre Miguel um orador experiente, quis ouvi-lo sobre a arte de comunicar em público. O que significa falar de Deus para uma audiência, ou mesmo escutar as dores e os dilemas de alguém no confessionário?
Para ele, a chave está na honestidade – seja na palavra ou na escuta – e em nunca transformar a mensagem num espetáculo, mas antes num ato genuíno de serviço.
Este é um episódio sobre humanidade, espiritualidade e a busca por sentido, que promete trazer não só respostas, mas também muitas perguntas para refletirmos juntos.
Feliz natal para todos.Até para a semana.
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO
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Viva Miguel Vasconcelos, padre de vocação, capelão da Universidade Católica de Lisboa. Estamos em tempos de Natal. Como é que ainda faz sentido celebrar o Natal? Como nós celebramos? Então, antes de mais, olá! Vão estar aqui sim, e acho que faz sentido. Será o Natal. E acho que nos tempos em que passamos, nos tempos que atravessamos, estava ainda seja mais evidente por que é importante celebrar agora o Natal.
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O mundo parece escuro à nossa volta. A gente vê as guerras. Estamos críticos, por assim dizer, às vezes sem grande promessa de melhoria. Vemos as flores e sonhos políticas e por aí fora. Vemos, enfim, tantos problemas que tive aqui elencar os que os que estão na moda, por assim dizer. Mas também sabemos que há muitos problemas mais discretos que que foi que preocupam a vida das pessoas e que afrontam a vida de qualidade de muitas pessoas.
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E acho que isso é um. Estes tempos são tempos em que a gente passa algum tempo a pensar o mundo parece escuro, mas também acho que é verdade que precisamente num contexto de alguma escuridão, a luz interessa nos. E eu penso que o Natal tem esse poder, tem essa capacidade de devolver alguma luz aos dias, os dias em que estamos, não que magicamente Deus vai resolver os problemas das pessoas, mas porque há uma alma expressa e sobretudo em quem tem fé.
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Mas eu acho que extravasa uma questão de. Extravasa meramente as questões da fé e é uma possibilidade de acreditar que as coisas podem recomeçar e que sermos todos postos diante da cena do presépio, com o recém nascido indefeso que se põe à mercê do que lhe quiserem fazer, é um motivo de esperança, é uma ideia de humildade que ali está desenhada, de humildade e de indispensabilidade.
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Estou no meio de agressividades que vemos à nossa volta. Está ali alguém indefeso. E eu penso que esse contraste, confrontarmos com esse contraste, como acaba por acontecer sempre no Natal, faz nos bem num mundo talvez difícil, agressivo, pesado. De repente, pormos os olhos numa criança recém nascida, indefesa, como dizia há pouco, à mercê do que lhe quiserem fazer oferecida, disponível.
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Acho que esse contraste tem força. O que que o que que é esse presépio? O presépio nos pode ensinar sobre a liderança e sobre a empatia do mundo e da cidade moderna? Eu não sei dizer o que é que o presépio pode ensinar de liderança, porque acho que o presépio o ensine sozinho. Mas porque está Papa, Parece que estamos.
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Estamos ao contrário, porque essa mensagem de vulnerabilidade, de humildade, de possibilidade, de optimismo, parece quase que o contraste parece agrilhoada com o mundo dos tanques, com o mundo do discurso agressivo, com o com o o mundo, com o mundo em que é o outro pelo próximo para para ganhar um melhor lugar. Eu lembro me esse propósito dos primeiros tempos do Papa Francisco, quando ele foi eleito Papa.
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Aqueles primeiros meses, primeiros primeiros dias, primeiras semanas, primeiros meses. De alguma maneira isso foi continuando. Mas nós, naquele tempo tivemos um de repente, uma quantidade de sinais e de gestos, de simplicidade, de humildade também de uma pessoa sem medo de expor as suas próprias vulnerabilidades. E isso foi absolutamente atrativo e um modelo de liderança absolutamente extraordinário. E por isso acho que o presépio, acho que o Papa se inspirou no presépio, por assim dizer, no quis também este Papa.
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Ele esteve cá agora nas Jornadas Mundiais da Juventude, esteve na organização também teve algum contacto mais próximo com o Papa aqui na jornada? Não. Especialmente. Quer dizer, tive um contacto muito evidente porque eu sou cristão de Universidade católica e o Papa visitou a Universidade Católica. Já fez uma carga de trabalhos, mas ainda não conhecia esse trabalho e por causa é sempre bom trabalhar.
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Mas. Mas o Papa foi lá encontrar se com os universitários, não apenas com os da Universidade Católica, mas com todos. E é esse. É por isso de síntese, esse momento de alguma proximidade. Mas quer dizer não, não, não foi. Não conversei com o Papa, Não, não tive. Se não tivesse bastante. Isso aconteceu em 2017, que nos teve cá em Fátima, mas desta vez não.
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Ainda assim, acho que a simplicidade que nós lhe reconhecemos eu lembro, evoco e acho que é bom. Trazemos à memória sobretudo aqueles primeiros meses do pontificado do Papa Francisco, porque foram cheios, preenchidos de sinais. E eu penso que o tipo de sinal que ele está é próprio do tempo do Natal, da simplicidade diante da complexidade e, curiosamente, uma simplicidade que não é superficial.
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O Natal é uma coisa simples, mas profunda. Às vezes nós temos uma certa tendência em ser simples e superficiais ou profundos, mas não tenho complexos. O que é que é o Natal? É ali essas duas coisas. É que o Natal é, sem grandes dúvidas. Em primeiro lugar, o Natal é para de uma maneira mais evidente possível, um nascimento de Jesus Cristo.
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E eu sou padre e acho que é a partir daqui que sou chamado a falar que a partir desta festa, desta consciência clara, que sou chamado a falar e isto tem impacto, é o rasto que aquela pessoa nascida há 2000 anos dá. 2024 anos deixou na história de impacto e por isso, hoje o Natal de alguma maneira capta também e agarra também o impacto que aquela pessoa teve a longo da história.
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E eu penso que hoje ser cristão é, obviamente, reconhecer nesta pessoa de Jesus uma visita de Deus, uma visita do infinito e do Eterno, uma visita do que extravasa o nosso mundo meramente material. E, portanto, obviamente, o Natal passa por isso, por um encontro com o definitivo, com o Eterno, que é uma coisa que às vezes nos faz estremecer, mas que me parece que faz de nós mais pessoas e de alguma maneira, parece me que a experiência da simplicidade do Menino Jesus, que vai indefeso e é uma experiência que nos pode ajudar a refazer a confiança em Deus nos nossos tempos, não muito popular, pelo menos aqui nas nossas bandas, por assim dizer.
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Mas, mas refazer a confiança em Deus é poder poder saber que se pode confiar no Eterno, que se pode confiar no definitivo. É porque o definitivo tem um rosto. Isso parece me significativo. Nós celebramos o Natal provavelmente em dois planos um muito interessante e recompensador, que é essa ideia da família ou da familia e de estar com pessoas de quem gostamos muito.
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Mas, por outro lado, aliamos isto a um espírito de Natal, a um desenfreado consumir, de comprar todos os presentes do mundo, como se isso fosse absolutamente fundamental para aquele momento. Sim, o que é que se passa? Então eu reconheço que o consumismo é uma coisa excessiva, mas eu devo dizer que não embarco muito na onda de quem acha que presente é uma coisa que extravasa o espírito do Natal.
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Porque não acho isso.