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O que é uma grande história de saúde na televisão?

Este é o mote para falar de critérios editoriais, fator humano, tecnologia e esperança no futuro.

Onde falámos da importância da saúde, das notícias mais interessantes e das pessoas que sabem muito da sua área de saber, mas precisam de treino para explicar coisas complexas ao grande público.

O que é uma grande história?

O que é uma grande notícia?

Todos lemos nos jornais, ouvimos na rádio, vemos na televisão ou simplesmente acompanhamos nas redes sociais as notícias que fazem a chamada atualidade.

Cada meio de comunicação tem a sua forma editorial de escolher e contar as notícias.

Mas os critérios jornalísticos de base são sempre os mesmos.

Manda a atualidade. A importância dos factos para a audiência. A proximidade. A importância das personagens do dia. E outros fatores que são sempre parte da escolha.

Tem uma história emoção?

Tem interesse humano?

Tem boas imagens, bons sons ou fotografias que explicam tudo?

E mesmo que uma história tenha tudo isto, a notícia de cada jornalista concorre dentro da colmeia da redação com outras propostas de notícia, com outros temas, com outros feitios de editores e diretores.

Uma boa história pode pura simplesmente ficar no congelador se o governo caiu, se o Benfica for campeão, se houver uma tragédia súbita ou um notável morrer.

E, algumas vezes, o fútil e acessório, come espaço às notícias que mexem verdadeiramente com a nossa vida. Ou então sou eu a achar que as notícias que assumo como sérias são mais importantes do que aquelas que nos distraem, fazer rir ou invejar as vidas mais leves que as nossas.

Mesmo em temas importantes há grandes desequilíbrios nas coberturas noticiosas.

Por exemplo, em qualquer redação há vários jornalistas a fazer política. Outros tantos a fazer economia. E ao mesmo nível há também múltiplos jornalistas a fazer desporto. Ou deveria dizer, futebol.

O resultado é uma cobertura desproporcional destes temas em relação e outros também muito importantes: a educação, a saúde, o ambiente. Normalmente áreas sociais.

E há outro desequilibro: nas notícias há muito, muito, muito Lisboa. E pouco país. Algum Porto. Quase nada Vila Real, Bragança, Viseu ou Évora.

Ocasionalmente ouvimos as vozes da Madeira e dos Açores. Mas há demasiado centralismo.

Nos temas também é assim.

E no caso da saúde sobram uma dezena de jornalistas especialistas sérios a trabalhar um tema de grande importância para todos nós. E o tema saúde é claramente minoritário no menu das notícias do dia.

Mesmo em tempos de pandemia ouvimos mais política sobre a pandemia do que saúde, epidemiologia, doentes, médicos.

Embora a pandemia até foi um momento de aparente mudança de paradigma: à chuva dos tudólogos, que tudo comentam, de que tudo fingem sabem, juntou-se finalmente uma força de resistência pública e mediática de verdadeiros especialistas.

E foi fácil ver a diferença entre a água e o vinho.

Temas:

00:04:06 Vertente humana é essencial.

00:11:18 Simplificando histórias complexas

00:16:03 Ciência explicada com honestidade.

00:17:02 Partilha de conhecimento é essencial.

00:24:28 Comunicar durante a pandemia

00:29:28 Inovação no SNS

00:33:24 Flexibilidade e trabalho de equipa

00:39:32 Jornalismo foca no extraordinário.

00:46:37 Valorização da saúde é importante.

00:52:03 Importância do jornalismo crítico.

LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO

00:00 Jorge Ora Vivam, bem-vindos ao Pergunta Simples, o vosso podcast sobre comunicação. Como funcionam as fábricas das notícias? Como escolhem os factos que merecem ser notícia ou jornalistas? Que critérios usam para incluir no telejornal o relato de factos ou a explicação de contextos? E na área da saúde? São os critérios os mesmos? Esta edição é sobre isso, sobre notícias da saúde, como se fazem notícias na área da saúde, sobre a maneira como se escolhem as notícias que são notícia, sobre as histórias que pintam a nossa atualidade. O que é uma grande história? O que é uma grande notícia? Todos lemos jornais, ouvimos rádio, vemos da televisão ou simplesmente acompanhamos nas redes sociais as notícias que fazem a chamada atualidade. Cada meio de comunicação tem uma forma editorial de escolher e contar as notícias, mas os critérios jornalísticos de base são sempre os mesmos. Manda à atualidade, a importância dos factos para a audiência, a proximidade, a importância das personagens do dia e outros fatores que são sempre parte da escolha. Tem a história em moção, tem entre-as humano, tem boas imagens, bons sons ou boas fotografias que explicam tudo. E mesmo que uma história tenha tudo isto, a notícia de cada jornalista concorre diariamente dentro da colmaia de redação, com outras propostas de notícia, com outros temas, com outros feitios de editores e diretores. Uma boa história pode, por isso, simplesmente ficar no congelador ou cair, se o governo deixar de estar em funções, se o Benfica for campeão, se houver uma tragédia súbita ou um lutável, morrer. E algumas vezes o fútil e acessório come espaço às notícias que mexem verdadeiramente com a nossa vida. Ou então sou eu a achar que as notícias que assumo como sérias são mais importantes do que aquelas que nos distraem, fazem rir ou invejar as vidas mais leves do que as nossas. Ou em temas importantes há grandes desequilíbrios nas coberturas noticiosas. Por exemplo, em qualquer redação há vários jornalistas a fazer política, outros tantos a fazer economia e ao mesmo nível há também múltiplos jornalistas a fazer desporto. Ou deveria dizer futebol. O resultado é uma cobertura desproporcional destes temas em relação a outros que também são muito importantes. A educação, a saúde, o ambiente, a segurança social, normalmente áreas sociais. E há um outro desequilíbrio. Nas notícias há muito, muito, muito Lisboa, pouco país. Há algum porto, quase nada, Vila Real, Bragança, Viseu, Évora e de vez em quando ouvimos as vozes da Madeira ou dos Açores. Mas há demasiado centralismo na produção das notícias. Nos temas também é assim. E no caso da saúde sobram uma dezena de jornalistas especialistas senhores a trabalhar um tema de grande importância para todos nós. O tema da saúde é claramente minoritário no menu das notícias do dia. Mesmo em tempos de pandemia, conseguimos ouvir mais política sobre a pandemia do que saúde, epidemiologia, doentes ou médicos. Embora a pandemia até tenha sido um momento de aparente mudança de paradigma. A chuva dos tudólogos, que tudo comentam nas televisões, de que tudo fingem saber, juntou-se finalmente uma força de resistência pública e mediática de verdadeiros especialistas. E foi fácil ver a diferença entre a água e o vinho. Esta semana encontrei-me com Paulo Rebelo, uma amiga de sempre, jornalista na RTP, com base no Porto, mas com um olhar sobre todo o universo da saúde, todo o universo nacional e internacional da saúde, em particular o nosso SNS, para saber dela como funciona a sua máquina mental de fazer notícias, como escolhe, como define, o que é que é uma boa história e notícia.

04:06 Paula Rebelo Há várias vertentes, mas para mim a que continua a ser uma grande história é a que tem indiscutivelmente uma vertente humana. Eu tenho dificuldade em ter uma grande história em mãos se não tiver uma vertente humana. Depois, na verdade, imagino um avanço científico. Eu lembro-me de há 20 anos, quando estava no privilégio de entrar no bloco operatório da professora Rui Vaz para a primeira cirurgia da estimulação cerebral profunda para o controlo das consequências do Parkinson e pensar que era um dos dias mais fluidos da minha vida e, no entanto, não era eu o paciente que estava a ser operada. Isso é uma grande história, percebes? Porque também já passaste por isso, deve ter imensos momentos destes. São alguns momentos que me marcam. Uma grande história é aquela que nós sabemos que vai fazer a diferença na vida das pessoas. E no fundo tu tens um sentimento quando estás a fazer a história? Tenho um, completamente. É mais forte quando tem esse crise humano, quando tu percebes que há uma mudança imediata. Não vais ter que fazer a gestão de expectativas, não estás a fazer a política de saúde, com todo o respeito, mas que tens que fazer uma gestão de expectativas, mas quando vejas a mudança concreta. E quando vejas essa mudança concreta na vida das pessoas, no acesso das pessoas,

05:30 Jorge na qualidade de vida das pessoas, não é só na sobrevivência das pessoas. Como é que foi essa história? Me lembram para as pessoas que não conhecem, em primeiro lugar,

05:40 Paula Rebelo como é que tu negociaste conseguir estar dentro de um bloco operatório? Há época, e estamos a falar efetivamente há 20 anos, efetivamente não era fácil, mas eu já tinha a sorte de ter alguns créditos de confiança em alguns especialistas, nomeadamente no Porto. Eles gostavam da maneira como eu comunicava a saúde, não era aquela coisa que antes existia de que só ias aos hospitais quando havia chateço, quando havia alguma coisa, uma crise, quando alguma coisa corria mal. E aí o mérito foi do professor Solari Alegre, aliás, se eu sou especialista em jornalismo e saúde, foi o nosso soldoso Solari Alegre.

06:19 Jorge Era presidente do Hospital de Santo António, e que foi possível negociar essa saída. Mas no caso do professor Livast, desculpa interromper-te, é São João, e vem mais tarde. E quando tu foste no São João, cirurgia, entras na cirurgia, imagino que tinhas passado pelas rotinas todas, desinfetar, colocar a máscara, colocar a…

06:43 Paula Rebelo Limpar o tripé, desinfetar o tripé, que muitas vezes as pessoas esquecem, se nós entramos com o material de reportagem, desinfetar o tripé e estar num cantinho, não podes tocar em nada dos panos verdes, porque é tudo esterilizado, esterilizado, mas estás ali. E há uma sensação de compromisso, ok? Nós temos aqui um avanço, e isto vai fazer uma mudança incrível na vida dos doentes.