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Descrever esta conversa como uma entrevista é claramente uma ideia errada.

Nem quero arriscar ir por aí.

Talvez pudesse dizer que é desconcertante. Mas no mais belo sentido da palavra.

O Maestro António Vitorino de Almeida é uma 'persona' muito especial.

Mistura uma vasta cultura geral e musical com uma ironia e humor capaz de dinamitar qualquer dogma de que a cultura tem que ser algo sério e pomposo.

Apaixonou-se pela música através de uma bateria. E acabou como exímio pianista e criador de sinfonias.

Com ele falei sobre a música enquanto instrumento de comunicação universal. Não depende da língua, dispensa palavras e nem precisa quase de referenciais culturais para a entendermos. É como se a música fizesse sempre parte de nós.

O maestro que nos contou as histórias dos músicos desde Viena e que fez concertos em igrejas de aldeias confessa-se desgostoso pela falta da cultura da nossa Lisboa.

Mas se acham que a conversa é só sobre música, desenganem-se. Há um momento de fábula em que se conta a história de uma amizade com um búfalo no Jardim Zoológico ou como Moledo é o seu sítio de sempre.

Há tantas provocações e risos nestes minutos.

Do jazz que desafia os compasso mais quadrados e binários até ao cinema que valeu a Portugal o primeiro prémio internacional para Portugal.

E tudo porque Vitorino de Almeida teve de aprender a realizar os seus próprios programas em Viena porque os realizadores eram demasiado caros.

É Portugal continua na mesma: todos a desenrascar qualquer coisa para que algo aconteça.

E depois transformamos dificuldades em saudades e seguimos.

Tópicos da conversa:

(0:00:13) - Início do episódio: Discussão sobre o papel da música como ferramenta de comunicação e o papel do maestro António Vitorino de Almeida na transformação musical e cultural de Portugal.

(0:04:50) - A experiência do maestro em Viena

(0:09:30) - Reflexão sobre a universalidade da música e a experiência do maestro na direção de programas de televisão.

(0:14:24) - Início da discussão sobre a evolução do jazz e da ópera e a sua influência no cenário musical.

(0:21:40) - Reflexão sobre como o jazz introduziu o acentuar dos tempos fracos e a grandiosidade da ópera dos séculos 17 e 18.

(0:29:10) - Discussão sobre como a música má pode atrair pessoas e transformar-se num negócio.

(0:35:10) - Início da discussão sobre a possibilidade de transmitir sentimentos entre diferentes espécies de animais.

(0:42:00) - Reflexão sobre a experiência do maestro de viver em harmonia com a natureza e a inteligência natural dos animais.

(0:49:44) - Início da discussão sobre o impacto do turismo em Lisboa e a cultura local.

(0:51:30) - Opinião do maestro sobre o uso de instrumentos tradicionais e a música de Madonna.

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Transcrição automática

0:00:13 - JORGE CORREIA
Ora Viva. 1. Bem-vindos ao Pregunto Simples, o vosso podcast sobre comunicação. Estamos de volta à nova série de programas, novos episódios, novas pessoas para ouvir, para ouvir falar da comunicação, de formas de comunicar, dos dilemas da comunicação. Como sempre, a partir de setembro é tempo de recomeçar E nesta edição poderia dizer que falamos de música, mas isso é muito pouco para descrever uma conversa com o mestre, o vitorino de Almeida, um contador de histórias imitável que se ri com grande prazer E isso é francamente contagioso. Vamos ao programa, vamos a isso. Descrever esta conversa como uma entrevista é claramente uma ideia errada e redutora. Nem quero arriscar a ir por aí. Talvez pudesse dizer que é desconcertante, mas no mais belo senti da palavra. O maestro António Vitorino de Almeida é uma pessoa muito espacial. Mistura uma vasta cultura já alimusical com uma ironia e humor capaz de dinamitar qualquer dogma de que a cultura tem de ser algo sério e pomposo. Apeixonou-se pela música através de uma bateria, quem diria, e acabou com o isêmio pianista e criador de sinfonias. Foi com ele que falei sobre a música enquanto instrumento de comunicação universal. Não depende da língua, dispensa palavras e nem precisa quase de referências culturais para a entendermos.

É como se a música estivesse sempre parte de nós, o maestro que nos contou histórias de músicos desde Viena e que fez concertos em igrejas de aldeias, confessa-se desgustoso pela falta de cultura da nossa Lisboa. Mas se acham que a conversa é só sobre música, desenganem-se. Há um momento de fábula em que se conta a história pessoal de uma amizade com o bófalo no jardim zoológico, ou como o moledo é o seu sítio de sempre. Há tantas profecações e risos nesses minutos do jase que o compasso mais quadrado e binário até ao cinema que valeu Portugal o primeiro prêmio internacional. E tudo porque Victor Indalmeida teve de aprender a realizar os seus próprios programas em Viena porque os realizadores eram demasiado caros. No fundo é Portugal. Continuamos na mesma, todos a desenrascar qualquer coisa para que algo aconteça, E depois transformamos dificuldade em soldados e seguimos em frente.

0:02:41 - VITORINO DE ALMEIDA
Tenho muitas saudades de fazer cinema, ainda que eu tenha aparecido no cinema de uma forma esporádica, porque surgiu da seguinte maneira eu fui convidado pela televisão RTP neste caso para fazer um programa de televisão e eu estava a viver em Viena E lá se conseguiu porque havia uma pessoa que era séria na RTP. Eu não sei se o senhor ainda é vivo, mas a homenagem fica sempre feita. Se a ser vivo ou não, o Miguel Danda era um homem sério, um homem muito conservador, um homem que não era nada, o tipo de pessoa que vingasse num 25 de abril, por exemplo, em que era anseiro. Outro tipo de razões.

Agora que a verdade é que eu não conheço ninguém sério ligado ao 25 de abril, que não diga que o Miguel Danda diz que era sério E então que estava em Viena. E o Miguel Danda hoje é que tratou de todas as coisas. Mas eu fui fazer o programa em Viena, simplesmente, quando se foi a verificar em Viena, quando até que custava tudo, verificou-se que o realizador escolhido custava mais que todo o programa, ah, mas era que era um luxo, era um grande realizador.

Não, não, não Era normal E era o esperança de Viena.

E não aos pobres E é que não era nada normal E praticamente existiu, não era possível. A montadora, a Erika Lorenz, que foi uma montadora histórica do cinema e da televisão A Austria, que é alemã, europeia e dá, isso foi uma coincidência, era ela que trabalhava para a firma que teoricamente iria produzir isso. Ela não leu o guião porque era em português, os guiões não era em português, mas falou comigo, conversou e apaixonou-se pela pela ideia que era um programa, que era histórias da música, e depois foi a música e os cilesos e tudo, e disse-me se eu ouça uma coisa, tente fazer Eu na montagem. Eu fui olhando umas ideias, eu tive um curso de montagem com uma das maiores montadoras mundiais.

0:05:34 - JORGE CORREIA
Portanto na realidade não havia o realizador, porque ela?

0:05:37 - VITORINO DE ALMEIDA
era cara, não havia, não havia realizador, é nenhum.

0:05:44 - JORGE CORREIA
Mas o que é que sabia de realização nessa altura? Nada, zero.

0:05:48 - VITORINO DE ALMEIDA
Zero. Mas ela ia dizer olha, para já, faça assim, faça assado, faça assim. Quando devolver esta outra coisa? quando o gonto quiserem romper, ponham uma árvore tal, mas não se esqueça de se tiver ou perder a árvore. Olhem para o ar, porque se não é absurdo, se tiver ou olhar para o chão, ia aparecer mais o seguinte Que é para fazer sentido toda a montagem, exatamente, ela deu-me um múmico, de modo que eu até sou um excelente montador, como a professora dessas.

Pois, exatamente, não a mexer nas máquinas, mas a dizer o que quero e coisas assim, porque eu montei cento e trinta e tal programas.

0:06:35 - JORGE CORREIA
E com essa ideia, de lá está a coerência de recorde de saber que se parece uma pessoa virada para um lado não pode aparecer a seguir virada para outra, exatamente E todas essas coisas.

0:06:44 - VITORINO DE ALMEIDA
É que foram muitas coisas ainda neste estilo Os pequenos detalhes, Os pequenos detalhes. Isso foi se desenvolvendo, se desenvolvendo Ao ponto que eu acabo de ter feito não sei quantos cento e trinta e tal programas aqui é para a ERTP, de se de concorrer ao Porque escrever? sempre escrevi Minha líquido foi publicada já minhas ois ou três E portanto os guiões não eram um problema. Os guiões escrevi aos eu e as assinas.

0:07:18 - JORGE CORREIA
Mas também, já a pensar nas informações que a Erika Aloran se mudeu, Percebe que a Zé, Isso foi tudo ligado, tudo se ligou No fundo, começou a escrever, já com o conceito da imagem, já com o conceito da imagem, o que é que podemos ver, o que é que podemos escrever, o que é que podemos imaginar.

0:07:41 - VITORINO DE ALMEIDA
E assim fiz o primeiro filme, que foi A Culpa. A verdade é que ganhou o primeiro prémio que o cinema português ganhou num festival internacional. Uma história Ficou surpreendido.

Fiquei espantado. Eu nem pensava que se tivesse classificado para Foi em Alva. É que é um bom festival. Não é a Veneza, nem é a Olíudo, mas na Europa é um festival com respeitado, o Alva é um bom festival. Estávamos lá no Júri. Aquele ator que não estou com a relevada do nome, que trabalhava sempre para o Albuño Muel, era o presidente do Júri. Não foi, ganhei Pronto E o filme tinha atores fantásticos O mario Marivegas, o Sin Flip, muita gente boa, maria Igama, que já morreu, a Estrela Univais, muito, muito nova ainda e tal.

0:08:50 - JORGE CORREIA
Mas eu quero ficar nesse tempo em Viena Porque o desafio na realidade desta filmagem para RTP são um conjunto de programas que hoje não podemos ver no arquivo RTP ele está aberto Que são histórias de músicos, Sim E de músicas Pois De músicos. E já te diz, os músicos são assim bons personagens para contar histórias, há tudo.

0:09:19 - VITORINO DE ALMEIDA
Há tudo, há tudo. E eu falei um Está vendo em 60 e tal.