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No último episódio, iniciámos um percurso histórico com uma viagem até à ordem dos pobres cavaleiros de Cristo e do templo de Salomão, ou simplesmente à ordem dos templários.
Recordámos a forma como surgiram e como existiu a necessidade da fundação desta ordem.
Recordámos o seu grande crescimento militar, económico, político e religioso.
Revivemos a sua destruição por uma ação desencadeada por um rei, o rei francês Luís XIV.
Relembrámos também que, sob tortura, esta ordem foi alvo de quatro acusações graves que deram origem à sua extinção e que, naturalmente, são falsas.
Estou a falar da negação de Cristo, que é completamente inadmissível, nem pensar, da negação da cruz, das práticas consentidas ou forçadas de homossexualidade e da adoração a um ídolo que, na altura, era completamente herético.
Na realidade, todas estas acusações foram forjadas por um rei ávido de poder, que olhou para a riqueza desta ordem e que a quis para si, e por outro rei que tinha uma grande dívida para com a ordem e que não tinha como pagá-la.
Estamos a falar de Luís XIV, é verdade.
Caso não tenham tido oportunidade de nos ouvir, podem sempre escutar em podcast nas redes sociais da Novo Tempo ou na plataforma Spotify o primeiro episódio deste tema.
Esta semana vamos dar continuidade à nossa viagem pelo tempo e desta vez vamos focar apenas na marcante presença dos templários em Portugal.
É verdade, está a ouvir o programa Dois Dedos de Cultura e espero que tenha aguçado a sua curiosidade quando lhe fiz um repto na semana passada.
Vamos, então, recordar que a ordem foi extinta em 1319, mas o nosso rei D. Dinis esperou pela morte do rei francês Luís XIV e pela morte do Papa Clemente V e obteve do novo Papa João XXII uma autorização para a criação de uma nova ordem portuguesa, que seria, basicamente, a continuação dos templários, a Ordem de Cristo, que naturalmente integrou antigos templários.
Todo o tesouro dos templários que, temporariamente, ficou sob a guarda régia foi entregue à Ordem de Cristo.
Também todos os saberes e todos os costumes dos templários foram recuperados e, basicamente, esta ordem manteve o mesmo nome, o que, naturalmente, originou mitos e lendas que inspiraram organizações posteriores.
Rapidamente, as principais lendas associadas a esta ordem foram: que os templários fugiram para a Suíça e, como já eram detentores de conhecimento avançado da banca, foram responsáveis pelo sistema bancário suíço, um sistema bancário conhecido internacionalmente.
Isto não corresponde à realidade, pois os banqueiros mais antigos na Europa eram os banqueiros italianos, que criaram o conceito de banca, e os primeiros bancos nasceram numa banca de banqueiros.
Outra lenda que surgiu e que está associada a Portugal e ao tema dos descobrimentos é o facto de que foram os templários que suportaram as despesas dos descobrimentos, uma ideia que até faz algum sentido, uma vez que o próprio D. Henrique, o infante D. Henrique, pai dos descobrimentos, ter sido o grão-mestre da Ordem de Cristo.
Por outro lado, ainda há uma outra lenda que associa Escócia, templários e maçonaria.
Há quem diga que alguns dos templários, para não morrerem, fugiram e foram para a Escócia, onde continuaram os seus ritos e que foram antecessores da maçonaria.
Mais recentemente, tive oportunidade de assistir a uma reportagem da SIC, que apontava, entre outras coisas, interesses nazis na procura dos tesouros guardados pelos templários em Portugal.
Isto não nos espanta porque, como sabemos, Hitler era interessado por tudo o que existia relacionado com obras de arte, tendo especialistas no tema, e não me admira que eles tenham estado, de facto, em Portugal, porque há testemunha da sua presença em conjunto com legionários portugueses a esburacarem o chão da Charola, o monumento existente em Tomar, e a retirarem, bem embrulhados, objetos do local.
Nessa reportagem fazia-se alusão a uma quantidade de túneis em Tomar e em Sintra, onde eventualmente existem tesouros dos templários.
Tive oportunidade de referir na semana passada que muitos destes temas são lendas e temas místicos, mas aqui, no Dois Dedos de Cultura, é suportado por factos.
A história é real e baseada em factos e não em suposições.
Nós temos muita informação na história factual acerca destes homens e da sua presença em Portugal.
Então, vamos lá: a presença dos templários em território nacional inicia-se antes da existência de Portugal, quando ainda éramos um condado, o Condado Portucalense, e acontece quando D. Teresa, a mãe do nosso futuro rei D. Afonso Henriques, faz a doação do Castelo de Soure em 1128, fazendo a doação a esta ordem dos templários.
Esta doação foi, sem dúvida, um dos marcos mais emblemáticos desta aliança entre os templários e aquele que, anos mais tarde, seria o Reino de Portugal.
Desde esse momento, os templários passaram a ser não só os nossos aliados militares, mas também verdadeiros gestores e verdadeiros impulsionadores do desenvolvimento económico e territorial do nosso reino.
A presença dos templários foi marcada em várias áreas que vão desde contribuições militares – eles eram homens, cavaleiros treinados, bem treinados, eram muito disciplinados, com habilidades táticas refinadas, lideraram investidas e posicionavam-se nas partes mais estratégicas das linhas de fronteira, sobretudo na fronteira a norte do Tejo, onde ajudaram na reconquista cristã.
Eles eram especialistas militares e a sua experiência na Terra Santa foi fundamental para preservar a fronteira do Tejo.
Em 1190 já estão em Tomar, no seu grande castelo, e resistem a uma grande ofensiva de um rei do Norte de África, o rei Almançor, que no final do século XII entra pela Península Ibérica com o objetivo de reconquistar aquilo que os cristãos já tinham recuperado para si.
Essa linha que está ali em Tomar, esse castelo, foi fundamental para evitar que essa recuperação tivesse acontecido.
Por outro lado, temos também influência no que diz respeito à própria organização territorial do país.
De facto, esta ordem recebeu grandes quantidades de doações de propriedades que lhe foram atribuídas, permitindo assim que a ordem tivesse um papel fundamental nesta organização.
Depois há um tema importante: a grande nobreza portucalense enviava para esta ordem muitos dos seus segundos filhos, ou seja, os segundos filhos de famílias nobres, para que pudessem ser considerados cavaleiros e terem atos de bravura, tinham que mostrar conquista e, então, integravam as fileiras destes cavaleiros desta ordem religiosa.
Por isso, esta ordem também ganhou grande poder económico e influência, um poder tão grande que em Portugal faziam a gestão de 10% dos 200 castelos existentes.
Em 1210, no reinado de D. Sancho II, grande parte do tesouro real estava em Tomar, no castelo dos templários.
Os seus castelos eram uma espécie de caixas-fortes.
Os templários também foram responsáveis pelo domínio de rotas de comércio e pela criação do primeiro banco templário, uma vez que foram responsáveis pela criação da proteção das rotas de comércio.
A Ordem dos Templários estabeleceu uma rede de bancos que viabilizava o financiamento de construções de castelos a igrejas.
Além disso, os templários eram uma espécie de banqueiros, emitindo cheques de viagem em que os peregrinos, para não transportarem consigo dinheiro para a Terra Santa, levavam vales que depois descontavam na Palestina, entregando o dinheiro a troco dos vales e descontando-os quando chegavam à Palestina.
Interessante, não é?
Era uma forma remota de banca.
Finalmente, tinham um apoio grandioso dos reis, que viam nos templários uma garantia de proteção e prosperidade, integrando-os na defesa e na consolidação do reino.
Por exemplo, D. Afonso Henriques lutou lado a lado com o grão-mestre desta ordem.
Vemos este facto na primeira dinastia e depois com a continuação na segunda dinastia com o infante D. Henrique a ser o grão-mestre da Ordem de Cristo.
Era uma ordem que se consolidava como uma força militar, espiritual, económica e também política no jovem Reino de Portugal.
Enfim, a presença dos templários em Portugal vai muito além das recordações de um passado turbulento com cruzados e guerras.
De facto, os templários foram pilares fundamentais na defesa, na organização e no desenvolvimento do nosso território e deixaram marcas bem profundas na arquitetura, na economia e até na espiritualidade do país.
Na próxima semana continuaremos a explorar estas marcas tão visíveis na cidade de Tomar, no Castelo de Almourol e na Torre de Dornes.
Não perca esta viagem que estamos a fazer à rota dos templários.
Até lá, eu desejo uma boa semana e as maiores bênçãos de Deus na sua vida.