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Acalmando o coração

Despedidas são sempre tristes. Aquela, então, era ainda mais. Depois de três anos na companhia de Jesus, estava chegando a hora em que o Senhor deveria retornar à glória do Pai. Com razão, os discípulos ficaram muito tristes quando foram notificados do evento iminente. Como seria a vida sem a presença de Jesus?

Vendo-os, assim, abatidos, Jesus procurou animá-los com as seguintes palavras: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (João 14.1–3).

Quando Jesus disse “não se turbe o vosso coração”, estava aconselhando os discípulos a terem cuidado quanto ao risco de ficarem excessivamente comovidos ou entristecidos. Não que seja reprovável qualquer reação de tristeza diante das aflições que, repentinamente, possam cair sobre nós. O verbo “turbar-se” que aparece na advertência de Jesus é usado para descrever a comoção do SENHOR diante da tristeza de Maria, irmã de Lázaro, que se lançou aos pés de Cristo, lamentando a perda do irmão. Em João 11.33, lemos que Jesus “agitou-se no espírito e comoveu-se” (Jo 11.33). E, um pouco adiante, no texto, João diz: “Jesus chorou” (11.35). Por experiência própria, Jesus sabia que, nesta vida, nosso coração pode ser tomado por angústias e inquietações que podem nos tirar o fôlego. Portanto, Jesus não estava esperando que Seus discípulos não sentissem o coração pesado por causa da notícia da Sua partida. Jesus não viveu uma espiritualidade triunfalista em que não se pode fazer diferença entre tristeza e pecado. Ele próprio disse: “No mundo tereis aflições”. O que Jesus, realmente, está ordenando aos discípulos é que não deixem a tristeza dominar seus corações como acontece com aquele que não têm esperança.

Um detalhe importante é o fato de Jesus ordenar que os discípulos mantenham seus corações livres do domínio da tristeza. Será que o SENHOR não estava sendo exigente demais? Quem pode manter sobre controle as tristezas do coração? Não é uma realidade que o coração é terra que ninguém anda? Sem dúvida, devido ao emocionalismo que define o ambiente psicológico da sociedade moderna, muitos irão estranhar a ordem de pôr limites às tristezas que tomam de assalto nosso coração. Mas é exatamente isso que Jesus estava fazendo. Ordenando que não nos deixemos guiar pelo nosso coração, mas que mantenhamos nossos sentimentos sob controle, mesmo quando eles forem legítimos. Jesus não pensa como o cancioneiro popular que, com a alma dilacerada pela tristeza de um amor perdido, sonhava com um dia de domingo e pedia ao amor que se foi: “Faz de conta que ainda é cedo / Tudo vai ficar por conta da emoção. Faz de conta que ainda é cedo / E deixar falar a voz do coração”.
Quem deixa falar a voz do coração e segue nos braços da emoção findará em profunda tristeza e desesperadora ilusão. Porém, para que não sejamos consumidos pela tristeza, Jesus nos oferece a real esperança e, sobre ela, falaremos amanhã, se Deus o permitir.