A esperteza maligna do tentador
A mulher estava convencida de que Deus aprovava seu desejo de se separar do marido. Sua lógica era simples: “Pastor, Deus nos fez para ser felizes. Eu não estou feliz no matrimônio. Logo, Deus quer que eu me separe”. Começando com a premissa errada, a conclusão não poderia estar certa. Não existe nenhum versículo na Escritura que possa apoiar a ideia de que Deus nos fez para ser felizes. A resposta mais simples para o motivo por que Deus nos criou é esta: “Para o louvor da Sua glória”. A glória do Criador vem antes da felicidade das criaturas. Estar satisfeitos em servir como um farol que difunde a glória de Deus é o nosso alvo, quer seja com um sorriso nos lábios ou com lágrimas nos olhos.
Quando o tentador se aproximou de Jesus no deserto, seu ataque foi bem elaborado. Embora ele não tenha iniciado com uma premissa errada, como no caso da senhora citada, ele usou uma afirmação certa, porém contaminada com a malignidade da dúvida perniciosa. Com toda perícia de um insinuador maldoso, o tentador estava dizendo: “Se é verdade que o Pai tem prazer em você, por que O deixa passar fome? Isso não é justo. Vá em frente. Você tem poder para mudar essa situação. Não espere pela vontade do Pai. Resolva você mesmo seu problema. Por que seguir por uma longa estrada, se pode pegar um atalho?”.
É bastante perigoso quando usamos as circunstâncias para determinar a vontade e a Palavra de Deus. O melhor é justamente o inverso: usar a Escritura para julgar as circunstâncias. A nossa felicidade pessoal jamais deveria servir de medida para nos assegurar o amor do nosso Pai celeste. Esse raciocínio é perigoso, pois destrói o valor das provações, que são essenciais para o nosso crescimento espiritual. O salmista dizia… “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos” (Salmo 119.71). Deus age por meio das aflições, a fim de nos aperfeiçoar, levando-nos à semelhança com Seu Filho. A esse respeito, é importante observar o que lemos em Hebreus Hebreus 5:7-8: “Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu”. O texto diz que Jesus clamou Àquele que podia livrá-l’O da morte e foi ouvido. A morte do Filho não significou que o Pai não O tenha ouvido. O Pai, certamente, O ouviu, contudo, devido a Sua vontade e amor, o Filho foi crucificado, a fim de completar Sua carreira de obediência por meio do sofrimento. Na obediência do Filho, o Pai foi glorificado, e, por causa dela, os pecadores podem ser salvos.
O maligno sabe transformar a provação em ocasião para tentação. Não caia na armadilha de achar que a vontade de Deus é estarmos sempre sorrindo em meio à abundância. Às vezes, para crescermos em obediência, precisamos passar por escassez, sem ficar desesperados para transformar pedras em pães. Deus pode fazer descer pão do céu e jorrar água da rocha. Mas, enquanto Ele não o faz, descansemos nas Suas promessas e na certeza de que Ele nos ama, apesar do deserto que nos permite atravessar. Em tempos de fraqueza e de perseguição, o melhor é lembrar o que Deus disse ao apóstolo Paulo diante da provação: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo” (2Coríntios 12.9).