Também está escrito
Anos atrás, um homem, com intenção maligna, usou Romanos 8:1 para induzir uma mulher a cometer adultério. O referido texto diz: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. A lógica pervertida era: já que nenhuma condenação há para quem está em Cristo, não há problema em cometer imoralidade. Esse foi o raciocínio usado por Satanás ao tentar Jesus.
Uma regra fundamental para a boa interpretação das Escrituras é esta: A Bíblia é seu melhor intérprete. Quando algo parecer estranho em um dado texto, antes de concluir que encontramos um assunto inexplicável ou uma contradição nas Escrituras, devemos comparar Escritura com Escritura. Quando textos bíblicos são corretamente comparados entre si, podemos dizer que Deus mesmo está interpretando Sua Palavra.
Foi baseado nesse princípio que Jesus respondeu ao diabo: “Também está escrito...”. Satanás havia usado dois versículos do Salmo 91, sugerindo que a promessa de proteção dos anjos contida no Salmo era suficiente para que Jesus se lançasse do pináculo do templo em Jerusalém. Se estava escrito que Deus ordenaria aos anjos que protegessem os Seus servos, a fim de não tropeçarem nalguma pedra, então Jesus podia se atirar das alturas. O inimigo estava tentando tirar proveito do que está escrito para induzir o Filho de Deus à desobediência.
Jesus não podia dizer que aquilo que o diabo acabara de falar não estava escrito. Todavia podia dizer com veemência: “Também está escrito”. Assim, o SENHOR nos ensina que a Escritura, por ser a Palavra de Deus, não pode se contradizer. Quando textos bíblicos colidem entre si, aparentemente nos dando indicações para seguir em direções opostas, o problema não está na Bíblia, mas na nossa interpretação.
Na verdade, ao citar o Salmo 91, o diabo não estava mostrando excesso de zelo pelas Escrituras. Seu propósito final era apressar a aclamação messiânica de Jesus. É possível que a sugestão do diabo estivesse baseada na profecia de Malaquias 3:1, onde o profeta fala da vinda súbita e gloriosa do Messias ao templo em Jerusalém. Essa profecia criava, no povo, a expectativa de que o Messias iria se manifestar dessa forma, assumindo, imediatamente, o poder político. O objetivo de Satanás era fazer com que Cristo assumisse a glória sem passar pela cruz. Satanás, em última análise, estava querendo subverter o enredo da Escritura, especificamente a promessa de Gênesis 3.15, pois essa promessa antecipava que o Descendente da mulher seria ferido no calcanhar, porém, depois de superar esse pequeno golpe, esmagaria a cabeça da serpente.
Percebendo o jogo do enganador, Jesus o desarmou dizendo: “Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus”. A promessa de proteção do SENHOR não pode ser um meio para forçarmos o SENHOR a nos socorrer quando estamos agindo leviana ou caprichosamente.
Está escrito: “Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. No entanto também está escrito: “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros” (Hebreus 13.4). Antes de resolver fazer algo porque “está escrito”, leve em conta aquilo que “também está escrito”.