Assumindo nossa cegueira espiritual
Era minha primeira visita ao oftalmologista. Quando ele disse que eu deveria usar óculos, gostei da ideia. Eu já estava no seminário e achei que usar óculos poderia me ajudar a parecer mais velho do eu realmente era. Além disso, alguns colegas usavam e, na minha avaliação, os óculos eram um adereço que os ajudava a parecer mais bonitos. Se dava certo com eles, certamente, daria comigo. Doce ilusão juvenil! Posso assegurar que a tentativa de ganhar formosura por trás das lentes não funcionou. Tenho provas materiais em fotos antigas, e, contra fatos não há argumento.
Os velhos óculos não me adicionaram beleza alguma, mas me fizeram apreciar a beleza do mundo à minha volta. De repente, eu passei a ver cores e detalhes na natureza que estavam completamente fora da minha percepção. Com os óculos, eu podia ver os galhos finos das árvores e o contorno das folhas. Eu não percebia quão limitada era a minha visão. Eu seria capaz de brigar se alguém dissesse que eu não estava enxergando bem. Eu me acostumara com a deficiência visual, agindo como um cego que se orgulha da boa visão.
No Evangelho de João, capítulo 9, temos o fascinante relato da cura de um cego. No final da história, quando, finalmente, o homem se encontrou com Jesus e o adorou, o Senhor lhe disse: “Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam, e os que veem se tornem cegos” (Jo 9.39). Os fariseus, que estavam sempre à espreita, tentando pegar Jesus em alguma palavra, para ter de que o acusar, quando ouviram o que Jesus dissera ao ex-cego, captaram a mensagem. Jesus estava falando sobre a cegueira espiritual daqueles que se orgulhavam de ter profundo conhecimento de Deus. Na sua própria avaliação, os fariseus se consideravam competentes para enxergar a verdade, embora estivessem completamente cegos para perceber quem era Jesus.
Reconhecendo que Jesus estava se referindo a eles quando falou acerca dos que diziam ver, mesmo sendo cegos, os fariseus se aproximaram de Jesus e perguntaram: “Acaso, também nós somos cegos?” (Jo 9.40). E Jesus respondeu: “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado” (Jo 9.41). O que o Senhor quis dizer foi: “Se vocês tivessem a humildade de reconhecer que não enxergam a verdade que dizem conhecer, se admitissem que têm a visão curta e precisam de ajuda, eu lhes restauraria a vista. Mas, como vocês são cegos que se orgulham da boa visão que julgam ter, continuam aprisionados ao vosso pecado”.
Lamentavelmente, o pecado nos engana a tal ponto que, mesmo quando não enxergamos um palmo adiante, orgulhamo-nos da nossa boa visão espiritual. A verdade é que somos orgulhosos demais para reconhecer nossa cegueira, e saímos tateando pela vida, seguindo para o abismo sem perceber o perigo eterno à nossa frente. Nosso orgulho não restaura nossa visão. Como o cego que foi curado em João, capítulo 9, busque a Cristo, curve a sua alma perante Ele e você também poderá dizer: “... uma coisa sei: eu era cego e agora vejo” (Jo 9.25).