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Vencendo o medo e a ansiedade (7): O medo de ter medo

Como qualquer pessoa vivendo em um tempo de pandemia, Bárbara estava com medo. Ela estava em uma situação de perigo real muito além das suas forças. Havia um detalhe, porém, que tornava a crise ainda pior. Tendo já crido no Evangelho, sabendo que era habitação do Espírito Santo, selo da nossa redenção, Bárbara trazia sobre si um enorme fardo de culpa por estar com tanto medo. Bárbara estava certa de que quem crê em Cristo deveria estar imune ao medo em qualquer circunstância, pois, do contrário, estaria negando sua fé. 

A presença do medo na vida de um servo de Deus deve ser abordada cuidadosamente. Em primeiro lugar, devemos lembrar que, no momento em que estamos tomados de medo, ainda que a ameaça esteja apenas em nossa mente, a angústia causada pelo medo é real. Se ouvirmos uma criança chorando, apavorada, porque despertou em um quarto escuro, mesmo que saibamos que não há motivo para o pânico, não devemos repreendê-la ou aplicar-lhe um sermão. Essa manifestação de medo não é um erro, mas uma indicação da fragilidade infantil e do quanto os pequeninos precisam do cuidado e da proteção dos pais. Chegará o tempo em que o escuro já não causará tormento. O medo, nesse caso, não é sinal de transgressão, mas de fragilidade.  

Desde que o pecado entrou no mundo, o homem passou a viver em um ambiente hostil. Além das consequências administráveis do pecado, ainda temos que lidar com a realidade da morte, que, embora pela obra de Cristo tenha sido neutralizada quanto aos seus efeitos eternos, no aspecto físico, continua deixando um gosto amargo na nossa boca. Isso significa que, nesta vida, sempre teremos aspectos em que seremos tomados de fraqueza e precisaremos da ajuda de Deus e dos outros. Com isso, devemos entender que sempre haverá a possibilidade de sermos assaltados pelo medo, embora não precisemos ser dominados por ele.

Davi é um dos mais conhecidos heróis da Bíblia. Desde a sua juventude, Davi se destacou por sua grande coragem, contudo isso não significa que ele estava imune ao medo. Sabendo que Saul, rei de Israel, estava determinado a matá-lo, em uma das suas fugas, Davi terminou se refugiando na terra dos filisteus, exatamente em Gate, cidade do Golias, o gigante que foi morto pelo jovem guerreiro de Israel. De algum modo, Davi foi descoberto e levado à presença do rei de Gate. Detido diante do rei, os filisteus relembraram ao rei como a morte de Golias havia dado a Davi o status de rei na terra de Israel. Em 1 Samuel 21:12-13, o texto diz: “Davi guardou estas palavras, considerando-as consigo mesmo, e teve muito medo de Aquis, rei de Gate. Pelo que se contrafez diante deles, em cujas mãos se fingia doido, esgravatava nos postigos das portas e deixava correr saliva pela barba”. O texto bíblico diz que Davi teve medo e precisou se fingir de doido para ter sua vida poupada. Relembrando esse episódio, Davi declara no Salmo 56: “Em me vindo o temor, hei de confiar em ti.” (Salmos 56.3). Ele tinha muita confiança em Deus, porém isso não o impediu de ser tomado de medo.

Em Salmos 103:14, Davi declara acerca do SENHOR: “Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó.” É baseado nessa convicção que Davi expressa ao SENHOR seus medos e temores, como lemos em Salmos 55:4-8: “Estremece-me no peito o coração, terrores de morte me salteiam; temor e tremor me sobrevêm, e o horror se apodera de mim. Então, disse eu: quem me dera asas como de pomba! Voaria e acharia pouso. Eis que fugiria para longe e ficaria no deserto. Dar-me-ia pressa em abrigar-me do vendaval e da procela.”

Foi um alívio para Bárbara aprender que Deus é sensível à nossa fraqueza e não nos condena por ficarmos com medo diante de certas ameaças. Na verdade, em muitas ocasiões, o medo é um mecanismo abençoado que nos ajuda a evitar perigos desnecessários. 

Bárbara ouviu com atenção, concordou e perguntou: Se é assim, como explicar o que Deus disse a Josué: “Não temas, nem te espantes?”. A pergunta é boa, amanhã falaremos sobre ela, se Deus permitir.