Até que a morte nos separe (4): O que é o amor?
“Amor é fogo que arde sem se ver, / é ferida que dói, e não se sente; / é um contentamento descontente, / é dor que desatina sem doer.” Com tais inesquecíveis versos repletos de maestria e genialidade que só podem ser vistas na pena dos grandes artistas das letras, o poeta lisbonense Luiz Vaz de Camões começa o mais conhecido soneto sobre o amor escrito na língua portuguesa. É uma verdadeira obra de arte que encanta pela força das antíteses e pela singularidade poética. No entanto, se alguém voltar-se para esse soneto em busca de uma definição, mesmo que aproximada, da natureza do amor, terminará com o coração cheio e com a mente vazia. O poeta, por mais que se esforce, não consegue entender o amor e termina perguntando como o amor pode ser tão eficaz, sendo tão contraditório.
Camões é somente mais um dos que procuram entender a essência do amor sem chegar a uma conclusão satisfatória. O mesmo ocorre com Vinícius de Moraes no seu “Soneto de Fidelidade”, que termina com a expectativa contraditória de que o amor seja “infinito enquanto dure.” Obviamente, tal possiblidade só pode se concretizar se for mudado o significado do adjetivo “infinito” ou do verbo “dure”.
Pedro e Bárbara tinham sido condicionados a confundir romantismo, paixão e emoção com amor. Haviam sido doutrinados pelas produções hollywoodianas onde o amor é descrito emotivamente como um bem particular que beneficia mais ao amante do que ao amado. Com tal perspectiva, dava para entender por que o casal insistia em dizer que o amor acabara.
O problema com essa perspectiva de amor é que não parte de Deus, em Quem se encontram a substância, a fonte e a expressão do verdadeiro amor. De fato, como disse Camões, o amor “é servir a quem vence, o vencedor / é ter com quem nos mata, lealdade.” Se quiséssemos dizer a mesma coisa usando o linguajar bíblico, bastaria recitar: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3.16). Essa é a verdadeira manifestação de um Vencedor que serve ao vencido, de Alguém que mostra lealdade com quem O mata. Sem conhecer o Deus Trino das Sagradas Escrituras, veremos sempre o amor como um ilustre desconhecido.
Em 1João 4:10-11, está escrito: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros”. Pedro e Bárbara precisavam reordenar seus pensamentos pela ótica das Escrituras. Para isso, o primeiro passo seria conhecer o amor de Cristo, que nos constrange. Dessa vez, a tarefa era a seguinte: deveriam estudar juntos a Primeira Epístola de João e anotar as exortações sobre o amor que aparecem no livro. Também, no próximo encontro, deveriam dizer 1João 4:10-11 de cor.
Se quisermos amar, precisaremos conhecer o amor. Para conhecermos o amor, precisamos conhecer a Deus.