Até que a morte nos separe (10): Falando sério sobre o amor de Deus
Anos atrás, em Fortaleza, ministrei uma conferência bíblica sobre o tema: “Cristãos Ateus”. Eu mesmo escolhi esse tópico por observar que muitos que se chamam cristãos vivem como ateus, podendo ser considerados ateus funcionais, como geralmente os chamo. A razão para isso é que a fé que professam não afeta seu estilo de vida e suas escolhas. São pessoas que, de alguma forma, encaixam-se nas seguintes palavras do apóstolo Paulo: “No tocante a Deus, professam conhecê-lo; entretanto, o negam por suas obras” (Tito 1.16). São pessoas que creem em Deus de boca, todavia não de fato e de verdade.
A disparidade entre a fé declarada e a fé vivida por muitos cristãos pode ser explicada em uma palavra: casualidade. O conceito de casualidade descreve bem o ambiente social do século XXI. Somos casuais na forma como nos vestimos, como pensamos, como nos relacionamos, como vemos nossos compromissos mais sagrados, tais como o casamento e a vida com Deus, por exemplo. A existência casual ou descolada, como gostam de falar os jovens, encaixa-se bem com o ateísmo, pois, de acordo com a concepção casual, a vida simplesmente acontece e avança por acaso. Essa é a filosofia do “deixa a vida me levar… o que for será”. Esse pensamento vai de encontro ao teísmo bíblico, que se caracteriza pela certeza de que Deus nos criou com o propósito expresso de, consciente e disciplinadamente, glorificá-l’O em todas as coisas, até nos atos mais corriqueiros e automáticos como o comer e o beber. Em 1Coríntios 10:31, está escrito: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.” A existência casual e aleatória cabe bem na mentalidade do século XXI, contudo não se encaixa no perfil bíblico de um discípulo de Cristo.
Tomemos, por exemplo, o conceito de amor. Nas Escrituras, o amor não é casual, porém proposital. Tem substância, preceitos, frutos e limitações. Quando Deus nos manda amar o próximo, por exemplo, isso não significa que a expressão desse amor será da mesma forma para com todos. O amor que deve unir um homem à sua esposa poderá e deverá ser expresso em formas afetivas que não cabem na expressão de amor que esse mesmo homem deve manifestar para com uma colega de trabalho, por exemplo. Infelizmente, em nome do amor, as pessoas se justificam no desfrute de desejos e paixões que são contrários aos mandamentos de Deus. Procedem assim porque acreditam, como Renato Russo, falecido integrante da banda de roque Legião Urbana, que ninguém pode dizer que “existe razão nas coisas feitas pelo coração”. Essa é uma forma popular de expressão do amor casual. É como se a pessoa fosse uma vítima do amor – uma força incontrolável que não reconhece limites e razões, simplesmente acontece. É por isso que, muitas vezes, casamentos são defeitos, e as pessoas responsáveis se apresentam inocentes, afirmando: “Sentimos muito… Não temos culpa… o amor aconteceu… a gente não planejou… fazer o quê?”
Enquanto eu falava acerca do amor e de suas distorções modernas, notei que Bárbara ia ficando com o semblante mais e mais abatido. Logo notei lágrimas nos seus olhos. O ambiente ficou pesado. Então, dei uma pausa e perguntei: “O que houve, Bárbara?” Ela, bastante emocionada, disse: “Pastor, há uma coisa que ainda não falamos… mas acho que chegou a hora. É algo muito sério e tem relação com o que estamos falando agora… não sei se nosso casamento vai sobreviver.”
Que segredo triste era esse? Será que, realmente, não havia mais chance para o casamento? Tinha chegado a hora de lidar com a raiz do problema do casal… amanhã veremos como!