Até que a morte nos separe (16): O caminho do arrependimento
Depois de ter revelado o pecado, Pedro precisava se arrepender e confessá-lo, a fim de obter o perdão da esposa. Ele não tinha dificuldade em manifestar sua tristeza por causa do pecado e sentia um grande pesar por tudo que a esposa estava sofrendo. Como conselheiro, fiquei feliz em ver sua atitude, no entanto achei que seria benéfico ajudá-lo a pensar biblicamente acerca da doutrina do arrependimento, afinal todo arrependimento produz tristeza, porém nem toda tristeza é sinal de verdadeiro arrependimento. Uma pessoa pode estar muito triste com as consequências do pecado, sem, realmente, estar triste por causa do próprio pecado.
Existe significativa diferença entre professar o arrependimento e estar realmente arrependido. Para discernir entre as duas opções, devemos nos voltar para a Palavra de Deus. Nela, podemos aprender o que significa o verdadeiro arrependimento e quais são os frutos que o acompanham. Entender bem a doutrina bíblica do arrependimento é essencial quando nosso alvo é promover a restauração e o perdão em relacionamentos quebrados pelo pecado.
O primeiro passo no caminho do arrependimento envolve a maneira como encaramos nosso relacionamento com Deus. É necessário, pois, reconhecer que, em primeiro lugar, nosso pecado é uma ofensa contra Deus. Foi por isso que Davi, ao confessar seu pecado de adultério, declarou: “Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mau perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar” (Salmos 51.4). Muitas pessoas haviam sido prejudicadas pelo pecado de Davi, ele sabia disso. Contudo, ao pesar os impactos da transgressão, Ele entende que Deus foi a Pessoa mais afetada e desonrada. A dor de Pedro com o sofrimento de Bárbara era totalmente justificada. Dificilmente poderia ser diferente. No entanto, muito maior deveria ser a dor por ter rejeitado os mandamentos do SENHOR, zombando da Sua autoridade e santidade. Pecar significa literalmente errar o alvo que Deus estabeleceu para nós. Pecado é expressão de afrontosa rebeldia e desprezo pela santidade de Deus. Quando erramos o alvo de Deus, seja por omissão ou por transgressão, estamos desconsiderando o significado da cruz de Cristo e entristecendo o Espírito Santo. É por isso que o verdadeiro arrependimento requer a compreensão da maneira como o pecado atinge o Deus trino. A pessoa arrependida procura, antes de qualquer outra coisa, derramar seu coração diante de Deus com a mesma disposição humilde do publicano da parábola relatada no Evangelho de Lucas, capítulo 18, que, por não se sentir digno de, sequer, levantar os olhos ao céu, dizia em profunda tristeza: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” (Lc 18.13).
Pedro precisava, primeiramente, encarar seu pecado em relação a Deus. Deveria confessar sua loucura em desafiar o Deus santo, ao desprezar Sua autoridade e bondade. Esse é o caminho por onde devemos começar a reconstruir o que destruímos com o nosso pecado. Enquanto um pecador não resolve seu problema movido pelo temor de Deus, não poderá experimentar o autêntico arrependimento.
Pedro deveria voltar-se para Deus e restaurar sua comunhão com Ele. Para isso, pedi que ele meditasse no Salmo 51, onde Davi confessa seu pecado após cometer adultério, mentir e planejar a morte de um dos seus melhores soldados. Ao estudar esse salmo, pedi que Pedro anotasse, com suas palavras, como o pecado afetou a comunhão de Davi com Deus.
Visto que o pecado, antes de tudo, é um ato de agressão a Deus, o arrependimento deve começar com um verdadeiro retorno para Deus. Nem sempre esse retorno será fácil, mas sempre podemos fazê-lo confiado na maravilhosa promessa escrita em 1 João 1:9: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.”