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Até que a morte nos separe (20): Preparando-se para perdoar

Se nos pusermos a tentar consertar um objeto quebrado usando uma substância colante, lembremo-nos de ter o cuidado de, antes de aplicar a cola, limpar bem as superfícies a serem coladas. Qualquer sujeira residual pode tornar nulo o poder de aderência pretendido pelo fabricante da cola.

A instrução a ser observada quando pretendemos grudar objetos danificados serve muito bem para quando tentamos reparar fissuras em relacionamentos quebrados. Qualquer impureza residual proveniente de ideias e crenças que não possuem fundamento na Palavra de Deus poderá dificultar grandemente a cura das feridas que estão abertas. 

Havia chegado o momento de tratar sobre perdão com o casal Pedro e Bárbara. Ele, até onde podíamos ver, mostrava-se realmente arrependido. Estava sob o efeito da tristeza segundo Deus, admitia prontamente sua culpa e parecia disposto a aceitar as consequências do seu pecado. À Bárbara cabia, portanto, a decisão de conceder-lhe o perdão.

Para levar Bárbara à obediência, mostrei-lhe Efésios 4:31-32, onde o apóstolo Paulo afirma: “Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia. Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou.” Curiosamente, o texto também segue o modelo de retirar algumas coisas antes de acrescentar outras, seguindo o padrão de limpar antes de colar. Paulo manda que afastemos de nós a amargura, a cólera, a ira, a gritaria, a blasfêmia, e bem assim toda malícia. Então, poderemos nos beneficiar do efeito agregador e reparador da benignidade, da compaixão e do perdão, se exercermos essas virtudes seguindo o modelo do que Deus, em Cristo, fez em nosso favor. Bárbara ouviu atentamente, mostrando plena concordância. Enquanto ouvia, porém, afligia-se, porque achava que não estava em condições de perdoar seu marido. Entendi seu dilema interior quando ela confessou: “Eu acho que não posso perdoar o adultério de Pedro porque não sei se, algum dia, vou esquecer-me desse pecado”.

Ao fazer essa confissão, Bárbara manifestava um engano residual que precisava ser desfeito antes de podermos ver a restauração do perdão. Ela, a exemplo de muitas pessoas, havia adotado como verdade o raciocínio de que, para perdoar, é preciso, antes, esquecer, apagar da memória o mal que foi praticado. Infelizmente, esse equívoco se espalhou quase universalmente, embora não possamos achar, na Palavra de Deus, apoio para tal pensamento. O esquecimento não é condição para o perdão. Certamente, enquanto consideramos a ordenança de perdoar como Deus, em Cristo, nos perdoou, devemos definir biblicamente como lidar com as memórias. Elas não são insignificantes, e nem estão ao nosso dispor para serem apagadas simplesmente por impulso de vontade. No entanto, o esquecimento não deve ser o parâmetro que vai sinalizar se chegou ou não o momento de perdoar.

Assim que completei o raciocínio, Bárbara perguntou: “Quer dizer que devo perdoar mesmo sem ter esquecido a ofensa? Nunca pensei assim. Será que isso é possível? Há base na Bíblia para que uma pessoa perdoe, ainda que sofrendo com as lembranças vivas e perturbadoras de tudo o que sofreu ?” A isso respondi: “Sim. A ordem bíblica de perdoar é direta e sem pré-requisitos. A Bíblia apenas nos mostra o perdão como uma ordem à qual devemos obedecer com ou sem lembranças. Porém, para que não nos restem dúvidas, veremos amanhã as bases bíblicas para dizermos que o esquecimento não é condição para o perdão”. 

Perdão não é uma questão de memória, nem de sentimento, mas de obediência.