Meditações no Evangelho de João (8): A crença incrédula
O apóstolo Tomé ganhou fama ao insistir na busca de provas confirmatórias da ressurreição de Cristo. Enquanto os discípulos, exultantes, testemunhavam acerca do encontro com o Cristo ressurrecto, Tomé se mantinha reticente, exigindo evidências tangíveis para poder acreditar que Ele havia ressuscitado. Por isso, quando Jesus o encontrou, depois de convidá-lo para ver os sinais dos cravos e a cicatriz no Seu lado, exortou o duvidoso apóstolo, dizendo: “não sejas incrédulo, mas crente” (João 20:27). Sem muito esforço, pode-se concluir que os termos “crente” e “incrédulo” têm significados opostos. Qual o sentido, então, de falarmos de crença incrédula?
No final do segundo capítulo de João, há um relato interessante que pode nos ajudar a entender um aspecto curioso da relação entre a crença e a descrença. Em João 2:23, está escrito: “Estando ele em Jerusalém, durante a Festa da Páscoa, muitos, vendo os sinais que ele fazia, creram no seu nome.” Depois de ter feito a primeira purificação do Templo, movido por zelo messiânico, Jesus fez alguns milagres durante a Festa da Páscoa que levaram muitos a crer n’Ele.
À primeira vista, a grande quantidade de pessoas que creu em Cristo após ter visto os sinais que Ele fizera seria o desfecho ideal. No entanto, João não se mostra empolgado, pois, depois de falar dos muitos que creram por meio dos sinais, o autor sagrado acrescenta: “Mas o próprio Jesus não se confiava a eles, porque os conhecia a todos. E não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana” (João 2:24-25). Ou seja, os judeus naquela ocasião, impressionados com os sinais e maravilhas, fizeram uma profissão de fé que externamente parecia autêntica, mas, quando examinada pelo olhar onisciente do SENHOR Jesus, faltava-lhe substância. Era uma crença superficial, fundamentada apenas na fascinação do poder sobrenatural, adotada, em primeiro lugar, pelo suposto benefício para a pessoa que dizia crer. Esse é o tipo de crença, não rara em nossos dias, que gira apenas em torno das bênçãos do SENHOR, no entanto, não é acompanhada pelo desejo de submissão ao senhorio de Cristo. É uma crença parcial, uma crença descrente.
São muitos os casos de pessoas que professam crer em Cristo, porém negam tal afirmação com a própria vida. É isso que o apóstolo Paulo diz na epístola a Tito: “No tocante a Deus, professam conhecê-lo; entretanto, o negam por suas obras” (Tt 1:16a). A Bíblia apresenta vários exemplos de pessoas que se disseram crentes em Cristo, mas recusaram confiar plenamente n’Ele. Eram pessoas que aceitavam o Salvador Jesus, sem, contudo, reconhecê-l’O como Senhor de suas vidas. São esses os que manifestam uma crença incrédula, uma disposição indisponível, uma confiança desconfiada. Infelizmente, casos de pessoas que exibem uma crença incrédula como vista em João, capítulo 2, não ficaram restritos ao tempo de Jesus. Sabemos disso porque em Mateus 7:21-23 o próprio Cristo, descrevendo o juízo final, afirmou: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.”
Sem dúvida, esses que serão reprovados no juízo de Deus não eram inimigos do SENHOR nem perseguidores da fé cristã. Ao contrário, eram entusiastas religiosos, cheios de fervor e empolgação, sendo reconhecidos por sua fé contagiante, que os fazia chegar ao ponto de profetizar, expelir demônios e até fazer milagres. Quem iria desclassificar uma pessoa com um currículo espiritual tão repleto de boas obras? Certamente, aos olhos humanos, tais pessoas seriam modelo de fé, porém, aos olhos de Deus, correm o risco de ser reprovados, e em um momento no qual já não há tempo para reparar os erros.
Não deixe de ler e meditar no Evangelho de João, porque esse Evangelho pode livrá-lo do terrível perigo de se julgar um crente em Cristo, enquanto continua na incredulidade.