Listen

Description

Meditações no Evangelho de João (11): O valor de um testemunho digno 

No Evangelho de João, capítulo 3, versículos 31 e 32, defendendo a autenticidade do testemunho que o Filho deu acerca do Pai, o autor sagrado afirma: “Quem vem das alturas certamente está acima de todos; quem vem da terra é terreno e fala da terra; quem veio do céu está acima de todos e testifica o que tem visto e ouvido; contudo, ninguém aceita o seu testemunho.” 

Quem examinar cuidadosamente o quarto Evangelho verá que a palavra “testemunho” está entre as preferidas do evangelista João. A confirmação desse fato fica evidente se levarmos em conta que essa palavra, na sua forma verbal ou nominal, aparece quarenta e sete vezes no Evangelho de João. Quer estejamos falando sobre o estabelecimento de fatos históricos, quer estejamos lidando com a fundamentação de verdades presentes, ninguém, com discernimento, iria dispensar o valor de uma testemunha confiável. Um testemunho digno é tão importante que, na ausência de provas materiais, irrefutáveis evidências testemunhais são recebidas nos tribunais como base aceitável para que um magistrado defina sua sentença.

Nas sagradas Escrituras, quando seus autores apresentam evidência em prol daquilo que dizem acerca da Pessoa de Deus e do modo como podemos desfrutar a vida eterna ao Seu lado, o argumento baseado em testemunhas competentes é bastante utilizado. Nesse sentido, vale ressaltar que não é somente o Cristianismo que depende de testemunhas para sustentar suas crenças. Sem exceção, esse mesmo expediente é utilizado por todas as religiões as quais procuram defender a autenticidade das suas doutrinas na base de testemunhas que julgam competentes. Até mesmo os que, por força do racionalismo, acreditam na inexistência de Deus, por mais contraditório que possa parecer, alicerçam seus argumentos apoiando-se sobre os ombros de testemunhas que compartilham de mesma crença.  

A questão, portanto, não é se uma crença depende de testemunhos. Todas dependem. Assim, o que vai inclinar o fiel da balança é a fidedignidade ou competência das testemunhas que cada crença apresenta em seu favor. É, nesse ponto, que o Cristianismo se destaca em relação aos demais credos. Isso porque, em primeiro lugar, as Escrituras cristãs foram produzidas por testemunhas oculares. Esse fato é tão importante que João, autor de um dos quatro Evangelhos, embora lance mão do valioso testemunho de João Batista, apresenta-se, ele mesmo, como testemunha dos eventos que registrou. Por esse motivo, ao abrir sua primeira epístola, João diz: “O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada)…” (1João 1:1-2).

Quem deseja avaliar a competência do testemunho dos autores bíblicos acerca de Jesus e do Seu Evangelho, faria bem se estudasse o prólogo do Evangelho de Lucas. Esse livro tem uma característica especial, declarada logo na sua introdução: foi escrito para um homem chamado Teófilo que há pouco havia abraçado a fé cristã. Dessa forma, para ajudar Teófilo a ter certeza das coisas em que fora instruído, Lucas, que era médico e historiador, escreveu seu Evangelho: “... depois de acurada investigação de tudo desde sua origem...” (Lucas 1:3). 

Infelizmente, devido à onda de ceticismo que sufocou o Ocidente, com relativa regularidade, ouvimos mestres e doutores da comunidade acadêmica rejeitando o testemunho dos autores das Escrituras. A parte triste da história é que muitos criticam a Bíblia sem jamais terem investido tempo para examiná-la por si mesmos. Falam sobre as contradições nas Escrituras, contudo não conseguem localizá-las com capítulo e versículo. É estranho que os sábios deste mundo rejeitem, de antemão, as reivindicações dos autores bíblicos, os quais falam acerca do que viram e ouviram, enquanto aceitam o testemunho daqueles que falam não do que viram, mas do ouviram dizer.

Se você nunca examinou as Escrituras, comece seu exame pelo Evangelho de João, pois é nesse Evangelho que estão registradas estas palavras de Jesus aos judeus que o rejeitavam: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim.” (João 5.39). Jesus dá testemunho das Escrituras, e as Escrituras dão testemunho de Jesus. E, quando uma pessoa se expõe, sem preconceitos, a esses testemunhos, que se completam mutuamente, poderá receber a verdadeira vida, a vida eterna.