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Meditações no Evangelho de João (13): O celeste cão de caça

O poeta inglês Francis Thompson (1859-1907) seria figura esquecida na literatura mundial, se não fosse seu famoso poema “O Celeste Cão de Caça”. Conhecendo de perto a incrível eficiência de determinadas raças de cães farejadores, Francis Thompson escreveu um tocante poema falando da maneira como Deus, o “Celeste Cão de Caça”, buscou-o insistentemente, farejando seus rastros em uma vida cheia de descaminhos e rebeldia. Ele, que era um homem de reconhecida genialidade, resistiu aos apelos do pai, que o queria estudando em Oxford, onde poderia iniciar uma carreira de sucesso. Porém o poeta cedo se perdeu nas drogas que encurtaram sua vida e sua produtividade. Contudo Deus não desistiu de caçá-lo até que o encontrou antes da sua morte. Lembrando-se da caçada celeste, o poeta inglês escreveu… “Dele fugi, noites e dias adentro; / Dele fugi, pelos arcos dos anos; / Dele fugi, pelos caminhos dos labirintos / De minha própria mente; e em meio às lágrimas / Dele me ocultei…” 

Em João, capítulo 4, Jesus, cuja missão não era outra senão “buscar e salvar o perdido” (Lucas 19.10), pode muito bem ser descrito como o “Celeste Cão de Caça” que, na Sua graça, não somente empreendeu uma obstinada e improvável busca do poeta inglês, como também resolveu caçar e encontrar a mulher samaritana e muitos da sua cidade.

Conforme o relato do apóstolo João, quando Jesus havia decidido deixar a Judeia, retirando-se outra vez para a Galileia, “… era-lhe necessário atravessar a província de Samaria” (João 4.4). A menção dessa “necessidade” de atravessar a terra de Samaria é um detalhe importante, pois sabemos que a necessidade não era geográfica. Na verdade, embora a província de Samaria estivesse localizada entre a Judeia e a Galileia, quando os judeus faziam essa viagem, evitavam o território samaritano. Eles consideravam os samaritanos um povo impuro, porque, geneticamente, eram descendentes da mistura entre judeus e gentios. Por essa razão, os judeus os julgavam repugnantes e evitavam até mesmo pisar no território deles. 

Por sua vez, os samaritanos também tinham construído altíssimas barreiras sociais e religiosas, a fim de evitar a aproximação com os judeus. Por causa do contato histórico com a religião judaica, os samaritanos eram monoteístas e esperavam o Messias. Porém tinham seu próprio Pentateuco e adoravam em um templo construído no monte Gerizim, não no templo em Jerusalém, como Deus havia determinado. 

Apesar de tudo isso, a missão salvadora de Jesus tornava necessário que Ele atravessasse o território de Samaria, porque ali também havia pessoas perdidas que precisavam ser “caçadas”, libertas e reunidas no redil do Bom Pastor.

Assim, movido por Sua infinita misericórdia, o “Caçador” celeste rastreou os caminhos da samaritana e achou-a à beira de um poço. Depois de vencer as resistências daquela mulher, que tentou desviar-se do Messias por meio de diferentes desculpas e subterfúgios, Jesus a encontrou, e, por meio dela, muitos outros foram também encontrados. Em João 4:39, lemos que “muitos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude do testemunho da mulher…”  

No final da poesia “O Celeste Cão de Caça”, Francis Thompson, ecoando a voz do “Caçador”, escreveu: “Tudo foge de ti quando foges de Mim… / Ah, pobre cego e insensato! / Aquelas trevas que pareciam envolver a tua vida / Nada mais eram que a sombra de minhas mãos, / Estendidas para abraçar-te!” 

A “caçada” de Francis Thompson, da samaritana e de tantos outros terminou em salvação quando os que estavam sendo “caçados” reconheceram que sua salvação dependia de parar de fugir e reconhecer que o “Caçador” era, na verdade, o Bom Pastor, que dá a Sua vida por Suas ovelhas.

E você, já resolveu se render ao “Caçador” ou continua em fuga desesperada?