Meditações no Evangelho de João (15): Estágios críticos no caminho da fé
A crença em Cristo que leva à certeza da vida eterna é um tema central no Evangelho de João. Esse tópico será abordado por diferentes ângulos, apresentado por meio de afirmações diretas e lições objetivas. O Evangelho de João, bem como as demais Escrituras, trazem instruções sobre a verdadeira fé em Cristo, porquanto “… quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.” (João 3:36).
A história registada em João 4:46-54 é sobre a cura do filho de um homem nobre, possivelmente um oficial do governo de Herodes, o Tetrarca. João diz que “foi este o segundo sinal que fez Jesus, depois de vir da Judeia para a Galileia” (João 4:54). Como sabemos, João foi seletivo na inclusão dos sinais que registrou, dando preferência aos milagres que melhor serviam para despertar nos seus leitores a fé em Cristo, isto é, a fé salvadora. Examinando cuidadosamente essa história, podemos aprender muito sobre a fé em Jesus, principalmente os estágios críticos pelos quais uma pessoa pode passar até chegar à confiança em Cristo como o único capaz de operar em nós o milagre do novo nascimento.
Pelo modo como João descreve a fé manifestada pelo oficial do rei, aprendemos que, no caso dele, a crença passou por três estágios: o estágio da admiração, o estágio da convicção, e o estágio da salvação. Os estágios poderiam ser descritos por outros nomes, porém, para nosso presente propósito, os que estou usando servem bem, e isso ficará claro à medida que explicarmos o uso desses termos para nomear as “fases” da fé em Cristo.
O estágio da admiração pode ser visto em João 4:47, onde lemos que o oficial “Tendo ouvido dizer que Jesus viera da Judeia para a Galileia, foi ter com ele e lhe rogou que descesse para curar seu filho, que estava à morte.” A essa altura, Jesus estava ativo no Seu ministério público há mais de um ano, e a notícia do milagre em Caná da Galileia tinha tido bastante tempo para circular entre as pessoas. Além disso, muitos galileus tinham ido celebrar a Páscoa em Jerusalém e tinham visto outros sinais que Jesus realizara. Diante disso, o oficial do rei cria que Jesus era capaz de curar seu filho. E, movido por essa crença, o homem fez uma longa viagem de Cafarnaum a Caná, um percurso de aproximadamente 40 quilômetros.
Ao ser abordado pelo oficial suplicante, Jesus reagiu de um modo meio enigmático ao dizer: “Se, porventura, não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis” (João 4.48). Essas palavras cabem bem como um alerta a pessoas que, como o oficial do rei, apenas possuem a admiração pelo poder sobrenatural. Nesse estágio de crença, a fé é tão incipiente, que quase não pode ser chamada propriamente de fé. A razão é que sua firmeza depende totalmente da manifestação palpável de um feito sobrenatural. Por isso, Jesus disse que as pessoas que, naquele momento, procuravam-no com um milagreiro estavam apenas no estágio da admiração alimentada pelos sinais e maravilhas que o SENHOR operava. A pessoa cuja fé em Cristo se localiza nesse estágio é aquela que diz: creio porque vejo. O que, a rigor, é uma crença descrente, visto que, em Hebreus 11:1, está escrito: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.”
A fé pode ter na admiração a sua semente, todavia, para ter efeito salvador, precisa ir além. O sobrenatural que nos fascina pode ser proveniente até do império das trevas, pois a Escritura diz que o “próprio Satanás se transforma em anjo de luz” (2 Coríntios 11:14), o qual, no tempo do fim, se manifestará ao mundo “com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira” (2 Tessalonicenses 2:9). Eis porque a fé fundamentada na admiração pura e simples de sinais e prodígios pode nos impulsionar para o bem ou para o mal. É fácil perceber os sinais, porém, avaliar sua origem pode não ser tão simples.
Além do estágio da admiração, a fé em Cristo pode também passar pelo estágio da convicção. Mas, acerca desse estágio, falaremos amanhã, com fé em Deus.
Para maior proveito, não deixe de meditar em João 4:46-54.