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Meditações no Evangelho de João (21): A necessidade do verdadeiro pão

O capítulo 6 do Evangelho de João começa com o relato do milagre da multiplicação dos pães e peixes. Por qualquer parâmetro de avaliação que usemos, a multiplicação dos pães e peixes deverá receber uma justa proeminência entre os muitos milagres realizados por Jesus. Em termos meramente quantitativos, por exemplo, o sinal se sobressai pelo fato de ser o único, além da ressurreição de Cristo, que está registado nos quatro Evangelhos. Ampliando o exame para o âmbito do significado e impacto, o milagre da multiplicação dos pães torna-se ainda mais significativo.

Antes de qualquer coisa, é preciso observar o tempo e o modo do evento. Jesus, enquanto procurava afastar-se das multidões, a fim de descansar com Seus discípulos, foi encontrado por uma multidão que, na sua totalidade, compunha-se de aproximadamente dez mil pessoas. Compadecido do povo que, aos olhos do SENHOR, era como um rebanho de ovelhas que não tem pastor (cf. Marcos 6:34), Jesus os acolheu, e passou a ensinar-lhes acerca do reino de Deus, e socorria os que tinham necessidade de cura (cf. Lucas 9:11). Vendo que Jesus se delongava no ministrar ao povo, os discípulos ficaram preocupados com o avançar da hora, pois a pessoas precisavam alimentar-se, e eles não tinham como conseguir comida para alimentar toda aquela gente, ainda que lhes quisessem oferecer apenas um pedaço de pão. Assim, aconselharam a Jesus que despedisse a multidão e ouviram a resposta mais estranha que poderiam imaginar: “Não precisam retirar-se; dai-lhes, vós mesmos, de comer” (Mateus 6:16). Foi assim que, depois de desafiar a fé dos discípulos, sabendo o que iria fazer em seguida, Jesus pegou o pequeno lanche de uma criança e alimentou a multidão. 

João tem o cuidado de dizer que o milagre aconteceu quando se aproximava a páscoa dos judeus. A importância dessa informação é muito mais teológica do que cronológica. A páscoa era a época em que os judeus recordavam o Êxodo do Egito, especialmente a noite em que o povo celebrou a primeira páscoa, momentos antes da libertação definitiva de Israel da opressão egípcia. Na época da páscoa, os judeus pensavam em sangue aspergido, carne, pães asmos e cordeiros imolados; elementos que compunham a memória nacional do êxodo liderado por Moisés. Era nessa época do ano que o povo de Israel desejava o surgimento de um novo Moisés que os livrasse da escravidão romana. 

Infelizmente, quando o povo viu o milagre da multiplicação dos pães, ansiosos apenas pela libertação política e sensibilizados pela memória do livramento passado, disseram “Este é, verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo.” (João 6:14). Jesus, vendo a grande e confusa empolgação popular, e entendendo que a multidão estava pronta para arrebatá-l’O, a fim de o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte (cf. João 6:15). 

O povo via os sinais, mas não compreendia seu significado. Conheciam fatos verdadeiros sobre a história da ação de Deus em benefício do Seu povo, porém ignoravam o plano de redenção por meio Filho de Deus. Era fato que as Escrituras proféticas falavam sobre o tempo em que Jesus receberia das mãos do Pai toda a autoridade sobre os reinos do mundo (cf. Salmos 2:7-12; Daniel 7:13-14). Mas, no plano Deus, a glória não viria antes da cruz. Foi isso que Satanás ofereceu a Cristo na tentação no deserto, e essa era a mesma proposta que, agora, a multidão Lhe estava fazendo. Jesus se manifestará como Leão da Tribo de Judá. Antes, porém, Ele precisava vir ao mundo como o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29).

Como no caso da mulher samaritana, aqui também vemos o povo preocupado apenas em suprir suas necessidades materiais e temporais, enquanto Jesus lhes oferecia suprimento eterno para suas almas aflitas e exaustas. Lembremo-nos, nós também, de que, mais do que o pão que perece precisamos buscar o alimento que subsiste para a vida eterna. Foi nesse sentido que Jesus declarou: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (João 6.35). Você já se alimentou desse Pão?