Meditações no Evangelho de João (24): A ação de Deus e a responsabilidade humana
Os debates gerados em torno do milagre da multiplicação dos pães são cheios de preciosos ensinos. Esse é o caso porque Jesus mesmo faz explicações e aplicações do impressionante milagre. Foi, nesse contexto, que Jesus, usando os pães multiplicados como instrumento pedagógico, declarou que o verdadeiro pão do Céu não foi dado por Moisés no deserto. O maná, embora descido do Céu, não podia ser chamado de o pão do Céu. O verdadeiro pão do Céu, dado pelo Pai, é o próprio Jesus, que deu a Sua vida para oferecer aos homens a certeza da vida eterna. E, para que a lição ficasse bem clara, em certa altura da conversação, o SENHOR declarou diretamente: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (João 6.35).
Por mais que Jesus argumentasse e mostrasse a evidência da Sua divindade por meio das Suas obras, os judeus continuavam resistindo em aceitá-l’O como o Messias enviado do Céu. Então, o SENHOR disse à multidão incrédula: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (João 6.37). Essas palavras têm gerado inúmeras reflexões e discussões através dos séculos.
Lembro-me bem de uma ocasião, ao final de uma conferência para casais, em que um dos participantes, no momento dos testemunhos, falou ao grupo as seguintes palavras: “Se, como está escrito, uma pessoa só vem a Cristo se Deus o trouxer, então, estarei disponível para tal. Quando Deus me trouxer, então me comprometerei com Jesus”. Sua fala, embora besuntada com palavras do próprio Cristo, foi, na verdade, a saída que o homem encontrou para disfarçar sua indisposição de colocar sua confiança no SENHOR Jesus. De maneira educada, ele estava dizendo que sua descrença era resultado do fato de Deus ainda não o ter trazido a Cristo.
Os limites entre a ação soberana de Deus e a responsabilidade humana jamais poderão ser traçados de um modo que possa ser acomodado tranquilamente na nossa mente finita. Sim, é verdade que a salvação acontece por iniciativa de Deus, porém a incredulidade é responsabilidade do homem. Não é sábio destacar o que nos favorece e esquecer aquilo que Cristo apresenta como nosso dever. Pois, do mesmo modo como o SENHOR disse que Deus é quem atrai a Si os pecadores que irão ser salvos, Ele também faz o convite a todos, dizendo: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma” (Mateus 11.28–29). Se Cristo faz tal convite, é porque o homem é responsável por atendê-lo. Essa conclusão também podemos tirar de João 5:39-40, onde Jesus afirmou aos judeus: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida” .
Não faremos bem se ficarmos desculpando nossa incredulidade no fato de não podermos explicar perfeitamente algumas verdades do Evangelho. Antes de tudo, somos chamados para crer, não para explicar aquilo que vai além da nossa capacidade de entendimento. São sábias as palavras de Moisés em Deuteronômio 29:29, onde está escrito: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.” Portanto, não se desculpe na incompreensão das coisas ocultas, mas obedeça às que estão claramente reveladas. Por isso, nosso dever é atender ao convite de Cristo e colocar somente n’Ele toda a nossa fé. Fazendo isso, você entrará pela porta estreita da salvação e, quando tiver entrado, verá escrito atrás da porta: “Foi Deus que o trouxe até aqui”.