Meditações no Evangelho de João (29): Bebendo da Fonte Eterna
A Festa dos Tabernáculos, mencionada no capítulo sete de João, era uma festividade importante no calendário religioso judaico. Para recordar os anos da peregrinação no deserto, muitos judeus ficavam alojados em tendas. Havia também o ritual do derramamento de água. Durante os sete dias da festa, uma procissão solene, liderada pelos sacerdotes, saía do templo até o tanque de Siloé, e, chegando ali, um dos sacerdotes enchia um cântaro de água que, no final da procissão, era derramada no altar que estava no átrio do templo. Ao longo do evento, o povo seguia recitando Isaías 12:3, que diz: “Vós, com alegria, tirareis água das fontes da salvação.”
No último dia da festa, considerado o mais importante, João diz que Jesus, enquanto observava a cerimônia do derramamento de água, levantou-se “e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (João 7:37-38).
Nessa ocasião, Jesus surpreendeu os judeus de duas formas. Primeiro, pelo modo como Ele falou. Diferentemente dos rabinos, que ficavam sentados enquanto ensinavam, o texto diz que o SENHOR Jesus se pôs de pé e exclamou, isto é, bradou em alta voz. O verbo “exclamar”, também traduzido como “clamar”, aparece em outras referências no Evangelho de João, mas sempre em situações onde a pessoa que fala deseja comunicar algo solene e que deve ser ouvido com atenção (p.e. 1:15; 12:44). É interessante notar que essa é a segunda vez, durante a festa, que Jesus quebra o silêncio e o protocolo, a fim de fazer reivindicações quanto a Sua identidade divina (cf. 7:28).
A segunda surpresa, e ainda mais chocante, foi o conteúdo das afirmações de Jesus. Vendo que o povo se apegava ao simbolismo messiânico, desprezando o próprio Messias, o SENHOR interrompeu a cerimônia, a fim de ajudar o povo a deixar seu apego à simbologia e voltar-se para a realidade. No ritual do derramamento de águas na Festa dos Tabernáculos, os judeus veneravam a lembrança do evento miraculoso em que, durante as peregrinações no deserto, o povo bebeu água que jorrou de uma pedra. Infelizmente, faltava-lhes entendimento espiritual para reconhecer que a vida da nação não fora preservada pela água que jorrou da rocha. Explicando essa história na Primeira Epístola aos Coríntios, o apóstolo Paulo diz que a sobrevivência do povo no deserto foi assegurada pela provisão espiritual que jorrava de uma pedra espiritual que os seguia, a qual, diz Paulo, “era Cristo” (1Coríntios 10:4).
Olhando desse modo, entendemos por que Jesus não se conteve ao observar que a mesma cegueira de outrora perdurava até aqueles dias. Como acontece até hoje, os judeus estavam reverenciando a bênção, todavia rejeitando o Abençoador.
Visto que o apóstolo João faz uma narrativa interpretativa da vida de Jesus, depois de registrar as palavras do Messias, ele acrescenta uma nota importantíssima. O autor sagrado deseja que seus leitores compreendam o significado dos “rios de água viva”, que Jesus prometeu fazer fluir do interior dos que n’Ele cressem. Assim, no verso trinta e nove, João afirma: “Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado.”
O que significa receber o Espírito com base na fé em Cristo? Por que a concessão do Espírito seria adiada até o tempo da glorificação de Jesus? No Evangelho de João, Jesus nos ensina preciosas lições acerca do Espírito Santo, que também é chamado de “o Consolador”. A promessa do Espírito para os que creem em Cristo é algo maravilhoso, e sobre ela falaremos amanhã, se Deus nos permitir.