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Meditações no Evangelho de João (36): A opção pela cegueira (parte 1)

“Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.” É desse modo que Davi inicia o Salmo 19, uma linda poesia inspirada que fala da revelação de Deus. De maneira simples e didática, Davi esclarece como Deus se manifesta por meio da revelação geral, a natureza; e por meio da revelação especial, a Sua Palavra. Qualquer pessoa, em qualquer lugar deste mundo, que contempla a criação poderá ouvir o discurso dos dias e a revelação das noites. A criação não tem uma linguagem articulada, “no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo” (Salmo 19:4). Se a natureza manifesta a todos os homens a impressionante glória do Criador, por que tão poucos a percebem?

Na história da cura do cego, em João, capítulo 9, aprendemos que os homens não veem a revelação da glória de Deus porque fizeram opção pela cegueira. Nessa história, o leitor perceberá que os judeus procuraram, por todos os meios, desacreditar o que seus olhos estavam vendo. Apesar disso, não podendo negar o milagre, eles buscaram outras explicações para a realidade. 

De modo curioso, e até hilário, João mostra que o cego precisou argumentar em favor da sua própria identidade. Já que não era possível refutar a revelação de Deus, tentaram negar a identidade do homem a quem Jesus curou. Primeiro, o cego teve que convencer seus vizinhos de que eles não estavam alucinados, e que ele era mesmo o vizinho que fora cego. Nos versículos nove a onze, lemos o seguinte: “Então, os vizinhos e os que dantes o conheciam de vista, como mendigo, perguntavam: Não é este o que estava assentado pedindo esmolas? Uns diziam: É ele. Outros: Não, mas se parece com ele. Ele mesmo, porém, dizia: Sou eu. Perguntaram-lhe, pois: Como te foram abertos os olhos? Respondeu ele: O homem chamado Jesus fez lodo, untou-me os olhos e disse-me: Vai ao tanque de Siloé e lava-te. Então, fui, lavei-me e estou vendo” (João 9:8-11). 

Ao ouvirem o testemunho do cego, os vizinhos, em vez de procurarem Jesus, levaram o homem curado à presença dos fariseus. Eles estavam confusos porque a cura tinha acontecido em um dia de sábado. O problema era que Jesus, antes da cura, fizera lodo com a saliva e aplicara nos olhos do cego. De acordo com a tradição sabática, o SENHOR havia cometido pecado por ter “trabalhado” no sábado. Porém, pensavam eles, se Jesus era um pecador, como tinha realizado tão incrível sinal? Por isso, decidiram ouvir os fariseus.

Quando viram o ex-cego, os fariseus perguntaram sobre como a cura tinha acontecido. Quando o homem repetiu o mesmo testemunho que antes havia dado aos vizinhos, criou-se uma confusão entre os próprios fariseus, narrada assim por João: “Por isso, alguns dos fariseus diziam: Esse homem não é de Deus, porque não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tamanhos sinais? E houve dissensão entre eles” (João 9:16). Assim como acontece na revelação da criação, a revelação da cura do cego de nascença falava por si mesma. Contudo, os fariseus tinham decidido que não queriam enxergar a glória do SENHOR na pessoa de Cristo, que é a viva Revelação de Deus. A evidência era forte, todavia a dureza de coração a suplantava. 

Inconformados com o peso da verdade, os fariseus mandaram chamar os pais do cego, a fim de confirmar sua identidade. Os pais, então, disseram: “Sabemos que este é nosso filho e que nasceu cego; mas não sabemos como vê agora; ou quem lhe abriu os olhos também não sabemos. Perguntai a ele, idade tem; falará de si mesmo” (João 9:20-21). E João acrescenta: “Isto disseram seus pais porque estavam com medo dos judeus; pois estes já haviam assentado que, se alguém confessasse ser Jesus o Cristo, fosse expulso da sinagoga. Por isso, é que disseram os pais: Ele idade tem, interrogai-o” (João 9:22-23).

A descrença não subsiste por falta de evidências, porém a despeito delas. Como ficou bem claro, os fariseus tinham, antecipadamente, resolvido que não iriam aceitar que Jesus era o Cristo, mesmo que O vissem curar um cego de nascença. 

Diz a sabedoria popular que o pior cego é o que não quer ver. João, capítulo 9, confirma a veracidade desse pensamento. O verdadeiro cego da história não era o mendigo que tinha uma doença física, mas os judeus que eram espiritualmente cegos e tinham optado por continuar assim. 

Deus se revela na criação, na Sua Palavra e, principalmente, na Pessoa de Jesus Cristo. Ele continua se revelando diante dos nossos olhos, contudo o mundo prefere não vê-l’O. E você? Qual é a Sua preferência?