Meditações no Evangelho de João (42): O clímax da luta entre a fé e a descrença
O enredo do Evangelho de João foi divina e cuidadosamente planejado para conduzir seus ouvintes ou leitores à fé salvadora em Jesus Cristo. Esse é um sublime propósito, pois, conforme lemos no capítulo 20, versículos 30 e 31, aqueles que, movidos pelas evidências dos sinais e prodígios, chegarem a crer que Jesus é o Filho de Deus, terão vida eterna em Seu nome. Guiado por tão importante objetivo, João arrumou sua narrativa de modo que as evidências da divindade de Jesus fossem enfileiradas no harmonioso e crescente movimento que culminasse em um espetacular “gran finale”, como diriam os italianos ao se referirem ao clímax ou à apoteose.
Até onde vai o poder de Jesus? Ao longo do seu relato, João mostra inequivocamente que Jesus é diferente de todos os homens por causa do seu incomparável e inexplicável poder sobrenatural. Em Caná da Galileia, O SENHOR transformou água em vinho, de onde também curou o filho do oficial de Cafarnaum sem ao menos tocar na criança. Na Judeia, Jesus curou o paralítico que, junto ao tanque de Betesda, jazia à espera de um milagre há trinta e oito anos. No capítulo 6, João registra o milagre da multiplicação dos pães e peixes, a partir do qual Jesus afirmou que Ele era o Pão que desceu do Céu para dar vida eterna aos que n’Ele cressem. Novamente, na Judeia, Jesus curou um cego de nascença, deixando os fariseus desconcertados e sem ter o que dizer ao ouvirem o homem que fora curado declarar: “Sabemos que Deus não atende a pecadores; mas, pelo contrário, se alguém teme a Deus e pratica a sua vontade, a este atende. Desde que há mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se este homem não fosse de Deus, nada poderia ter feito” (João 9.31-33).
Não há nenhuma dúvida de que os sinais falavam por si mesmos acerca da divindade do Salvador. Mesmo assim, era possível que alguém ainda se debatesse com a mensagem das evidências, dizendo: “Tudo bem, já entendi que Jesus é poderoso, mas até onde se estende o Seu poder? Será que Aquele que se revelou soberano sobre as coisas desta vida, poderia revelar a mesma soberania sobre a morte? Seria Ele capaz de invadir os tenebrosos recônditos da sepultura e reverter o processo de decomposição do corpo sem vida?” A resposta a essas indagações é encontrada em João, capítulo 11, onde lemos acerca da ressurreição de Lázaro, o milagre que se constitui no clímax de todos os sinais e prodígios registrados no quarto Evangelho.
Todos esses sinais falavam por si mesmos. Com um pouco de boa vontade e honestidade, os judeus poderiam ter superado todas as dúvidas a respeito da pessoa de Cristo. Porém, caso ainda restasse algum resquício de dúvida, a ressurreição de Lázaro deveria ser o bastante para resolver definitivamente o problema. Entretanto, não foi isso que aconteceu. Ao ouvirem que Jesus ressuscitara Lázaro, morto há quatro dias e com o corpo já em avançado estado de putrefação, em vez de se curvarem à força da verdade, eles se tornaram ainda mais determinados em sua incredulidade. Ninguém mais, em sã consciência, poderia questionar o poder divino do SENHOR Jesus. Porém, quando estamos sob o efeito da cegueira espiritual, não agimos em sã consciência. Os olhos veem, contudo o coração não nos deixa perceber a verdade diante de nós. E, assim, em vez de nos curvarmos em adoração ao Criador, Mantenedor e SENHOR dos Céus e da Terra, procuramos explicações mirabolantes para sufocar o peso da verdade que se manifesta diante de nós. Quem não crer, terminará tendo que criar argumentos e raciocínios na vã tentativa de conciliar o descompasso entre o coração e a mente.
No caso dos fariseus, em João, capítulo 11, o ápice da incredulidade aparece quando eles não apenas procuram ocultar o que não pode ser ocultado, mas também tomam a decisão estranha de que chegara o momento de assassinar Jesus.
Para quem decide não examinar e não abraçar a verdade do Evangelho, o clímax das evidências significa também o clímax da incredulidade. Que Deus tenha misericórdia de nós e nos livre da dureza de coração.