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Meditações no Evangelho de João (44): O Melhor Tempo para o Melhor Propósito 

A provação de Jó chegou a um ponto inimaginável. Depois de ter perdido os bens, os filhos, a mulher e a saúde, ele percebeu que sua própria integridade estava ameaçada sob o peso das falsas e impiedosas acusações dos seus amigos. Pressionado de todos os lados, perdendo já a esperança de livramento, Jó procurou justificar suas precipitadas palavras, perguntando: “Por que esperar, se já não tenho forças? Por que prolongar a vida, se o meu fim é certo?” (Jó 6:11).

Assim como Jó, Marta e Maria também tiveram dificuldade em entender o tempo e o modo nos planos de Deus. Vendo que seu irmão Lázaro sucumbia por causa da enfermidade, as duas mandaram dizer a Jesus: “Senhor, está enfermo aquele a quem amas” (João 11:3). Certas da autenticidade do amor de Jesus por Lázaro, Marta e Maria esperavam que o SENHOR apressasse os passos, a fim de socorrer Seu amigo. Jesus, porém, pensava diferente, pois o texto diz que, depois que ouviu acerca da doença de Lázaro, Ele “ainda se demorou dois dias no lugar onde estava” (João 11:6). Quando, finalmente, Jesus veio ao encontro de Marta e Maria, ambas O saudaram, dizendo: “Senhor, se estiveras aqui, não teria morrido meu irmão” (João 11:21).

A dificuldade em perceber harmonia entre o amor do SENHOR e o tempo em que Ele socorre Seus amados era um dilema real, mas não era o dilema final. Enquanto se debatiam com a lógica divina que, misteriosamente, harmoniza amor e tempo de um modo que escapa à nossa compreensão, as irmãs de Lázaro se agitavam com outro dilema: se Jesus perdesse a oportunidade, Ele não poderia driblar o tempo e reconstituir o que fora perdido. Que Jesus era capaz de curar seu irmão antes que a morte o visitasse, elas não tinham dúvida. O problema era que a morte chegara primeiro, e o mal tinha fincado a bandeira, reclamando a vida de Lázaro. O que ainda poderia ser feito? 

  Einstein, com sua teoria da relatividade, demonstrou que a velocidade pode domar o tempo, amenizando seus impactos sobre a matéria. Porém, a velocidade não é o único fator que provoca a relativização do tempo; a provação também o faz. Quando estamos sob o fardo da provação, o tempo segue a passos de tartaruga. Cada hora parece um dia; cada dia, uma eternidade. Nessas circunstâncias, unimos nossas vozes à voz dos salmistas que, vez por outra, diziam: “Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto?” (Salmos 13:1).

Para não cairmos em desespero quando o socorro não chegar no tempo que desejamos, devemos estar certos de que a prova do amor de Deus por nós não é medida pela rapidez com que Ele corre para nos livrar da provação. Jesus não demorou porque Lhe faltasse amor, nem porque estivesse com medo dos judeus, mas porque esperou até que chegasse o momento em que Sua intervenção pudesse trazer não apenas maior glória a Deus como também maior alegria aos Seus amados. Ver um doente sendo curado é uma bênção. Vê-lo, porém, ressuscitado é uma bênção muito maior.  

O plano do nosso bom Deus se realiza de acordo com a agenda que o SENHOR mesmo estabeleceu. Deus não se esquece, não se atrasa nem se adianta. Tudo que Ele faz é perfeito porque Ele “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1:11). O dilema de Jó, de Marta, de Maria e os nossos dilemas se resolvem quando o nosso coração está firmado nessa certeza. Portanto, “Espera pelo Senhor, tem bom ânimo, e fortifique-se o teu coração; espera, pois, pelo Senhor.” (Salmo 27:14)