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Meditações no Evangelho de João (49): Fugindo das Evidências

A incredulidade não encontra guarida nos nossos corações porque nos faltem evidências, mas apesar delas. A última sessão do capítulo 11 do Evangelho de João é uma prova disso. 

O incômodo dos líderes religiosos judeus com os sinais e, principalmente, com as palavras de Jesus, pode ser visto em diferentes momentos no quarto Evangelho. Já no capítulo 5, versículo 18, João afirmou: “Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.”  

Não podendo negar a realidade dos sinais, os judeus fugiam deles sem pensar nas suas inevitáveis implicações. O cego que fora curado em João, capítulo 9, estava certo ao dizer acerca de Jesus: “Se este homem não fosse de Deus, nada poderia ter feito” (João 9:33). Se os líderes religiosos judeus tivessem pensado acerca da ressurreição de Lázaro de maneira honesta, eles também teriam chegado à mesma conclusão. Infelizmente, embora confrontados com a realidade, prefeririam fugir dela e concluíram que o incrível sinal da ressurreição de Lázaro era uma indicação de que chegara a hora de executar o plano de matar Jesus.

Depois da ressurreição de Lázaro, o Sinédrio – a suprema corte judicial judaica – reuniu-se para decidir o que fazer para evitar que mais pessoas cressem em Jesus em virtude do milagre feito em Betânia. Nessa reunião, enquanto os judeus tentavam fugir das inegáveis evidências do milagre há pouco realizado, foram surpreendidos com mais uma manifestação de Deus, que aconteceu enquanto o Sinédrio estava reunido. O fato ocorreu quando o sumo sacerdote Caifás, advertindo o Sinédrio, falou: “Vós nada sabeis, nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a perecer toda a nação” (João 11:49-50). Em resposta a essas palavras, João fez o seguinte comentário: “Ora, ele não disse isto de si mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para morrer pela nação e não somente pela nação, mas também para reunir em um só corpo os filhos de Deus, que andam dispersos” (João 11:51-52).

Nesse episódio, temos mais um exemplo daquilo que alguns gostam de chamar de “ironia divina”. Enquanto o Sinédrio se esforça de todas as formas para suprimir o testemunho do Pai por meio do Filho, Deus se revela, falando pela boca de um incrédulo membro do Sinédrio. Por mais estranho que possa parecer, com suas palavras, Caifás estava reforçando as reivindicações messiânicas de Jesus. Ao dizer que era conveniente que Jesus morresse pelo povo a fim de que a nação toda não perecesse, o sumo sacerdote estava confirmando que a morte de Jesus seria um sacrifício em favor de muitos, como já antecipara o profeta Isaías. Caifás estava certo na sua afirmação de que Jesus deveria morrer em favor da nação. O comentário do autor sagrado não corrige as palavras de Caifás, que, na verdade, eram palavras proféticas, porém amplia o escopo de abrangência da morte Jesus, esclarecendo que Sua morte seria também em favor dos muitos filhos de Deus que não pertenciam ao povo de Israel. 

O que está acontecendo no final do capítulo 11 do Evangelho de João é uma ilustração das palavras do apóstolo Paulo em Romanos 1:18-19, onde está escrito: “... homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.” Examinando a língua original do Novo Testamento, podemos dizer que a expressão “detém a verdade”, que aparece nesses versículos, significa “suprime ou abafa a verdade”. Deus usa diferentes meios para se manifestar, entretanto os homens desenvolvem estratégias para encobrir a verdade por meio da injustiça.

Uma pessoa pode tentar suprimir a verdade de que “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Salmos 19:1). É o que vemos, por exemplo, no pensamento daqueles que procuram justificar a criação à parte do Criador. Assim, os homens estão fugindo das evidências presentes na criação que apontam para o Criador. Porém, fugir da própria voz do SENHOR não é um projeto fácil, especialmente quando Deus fala ao nosso coração por meios surpreendentes, em situações que jamais poderíamos imaginar, como aconteceu com o Sinédrio.

Enquanto meditamos no Evangelho de João, Deus está falando ao nosso coração. Será que O estamos escutando?