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Meditações no Evangelho de João (56): A vida através da morte

A fé cristã e os valores do mundo estão em rota de colisão. A contradição entre essas duas visões de mundo se destaca claramente no ensino de Jesus. No reino de Cristo, o maior é o menor; e a pessoa em destaque não é a que está sentada à mesa, mas aquela que a serve. Jesus também enfatizou que, ao contrário da concepção do mundo, Seus discípulos seriam reconhecidos pelo espírito humilde de uma criança e não pela arrogância e a autossuficiência dos adultos. Esse tema esteve sempre presente ao longo do ministério do SENHOR e chegou a ser representado vividamente na última ceia, quando o SENHOR assumiu o papel de escravo e lavou os pés dos Seus discípulos. 

Esse é o pensamento por trás da analogia do grão de trigo em João, capitulo 12. Vendo que Sua hora se aproximava e em resposta ao pedido dos gregos para vê-l’O, Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto” (João 12:24). A figura do grão de trigo morrendo para que, por esse meio, muitos frutos pudessem brotar era uma referência clara à morte do SENHOR. Jesus mesmo declarou: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (João 10:11).

Ao enfatizar a necessidade da morte como condição necessária para a vida, Jesus estava nos convidando a entender o custo de segui-l’O. Sem dúvida, a salvação é de graça, contudo o discipulado custa tudo o que temos e somos. Por essa razão, em João 12:25, Jesus afirmou: “Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á para a vida eterna.” Aqui, novamente, Jesus destaca o paradoxo entre os valores do mundo e os do Seu reino. Nossa tendência natural é nos esforçarmos para ganhar o mundo, fazendo tudo para preservar a vida. Propondo um caminho oposto, Jesus nos ensina que, em vez de nos apegarmos à presente vida, devemos tê-la em segundo plano em relação à eternidade. Quando disse para odiarmos a vida, Jesus estava nos ensinando a não devotar a ela valor indevido. O apego demasiado à vida presente significa investimento em excesso naquilo que é passageiro e incerto. Em vez disso, deveríamos amar Cristo e Seu reino de tal modo que a própria vida ficasse em segundo plano. Foi nesse sentido que Jesus declarou em Lucas 14:26: “Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.”  

Por causa da confusão causada pelo pecado, naturalmente queremos preservar a presente vida, que é perecível, enquanto desprezamos a vida porvir, que é eterna. Essa cegueira espiritual é resultado da ação do enganador, o príncipe deste mundo, que se esforça para que, em nós, “não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2Coríntios 4:4).

Todos conhecemos a frase “É morrendo que se vive para a vida eterna”. Isso é verdade, desde que entendamos tais palavras à luz do paradoxo que Jesus propõe nos Evangelhos. Infelizmente, no imaginário popular, a ideia parece ser que, quando passarmos pela morte física, automaticamente, herdaremos a vida eterna. Na realidade, Jesus não estava dizendo isso. Na Sua mensagem, a vida eterna é uma realidade presente na experiência dos verdadeiros discípulos de Jesus, os quais, ainda vivos, morrem para si, passando a desfrutar desse novo tipo de vida.

“Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou a causar dano a si mesmo?” (Lucas 9:23-25). Ouçamos a voz do SENHOR!