Meditações no Evangelho de João (57): Desvendando o Enigma da Incredulidade (Parte 1)
Entre alguns estudiosos das religiões, é recorrente o pensamento de que o Jesus das páginas do Novo Testamento não é o Jesus histórico. Para alguns pensadores, os fatos espetaculares que, segundo as Escrituras, confirmam a identidade divina de Jesus são fruto da imaginação e da credulidade cega que dominava o espírito dos primeiros discípulos do SENHOR.
Se examinarmos, sem preconceitos, o testemunho do apóstolo João, que foi uma testemunha ocular dos fatos por ele narrados, chegaremos a conclusões distintas daquela que, geralmente, circula no meio acadêmico secular. Na realidade, os judeus, por natureza, são duros de crer. Por essa razão, como diz o apóstolo Paulo, eles pediam sinais. Quem pede sinais não pode jamais ser considerado uma pessoa crédula, pois, como lemos em Hebreus 11:1, a fé é “a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.” Jesus mesmo, após a ressurreição, repreendeu Tomé com as seguintes palavras: “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (João 20:29).
Os judeus poderiam ser acusados de muitas coisas, menos de serem pessoas naturalmente inclinadas à fé fácil. Ao contrário, quando lemos os escritos dos profetas de Deus no Antigo Testamento, vemos como o povo de Israel é descrito como sendo uma nação rebelde, de coração duro e espírito obstinado. Os mensageiros de Deus tentaram, tanto por palavras quanto por meio de sinais, sensibilizar o coração da nação para retornar aos retos caminhos, mas eles, simplesmente, recusavam-se.
Reconhecer esses fatos é muito importante, pois, como todos sabemos, os primeiros discípulos de Jesus, quase sem exceção, eram judeus. É certo que os judeus, movidos pela natural desconfiança que os caracterizava, pediam sinais, a fim de que pudessem aceitar que um mensageiro era, de fato, um enviado de Deus. Todavia, mesmo vendo, em muitas ocasiões, a evidência material dos sinais e prodígios, continuava na sua descrença.
Tudo isso pode ser confirmado pelo tema e propósito do quarto Evangelho. Para vencer a incredulidade dos seus leitores, dentre os quais, muitos eram da nação judaica, João precisou elaborar cuidadosamente o enredo e a argumentação do seu Evangelho para, por esse meio, levar alguns à crença em Jesus como o Filho de Deus, capaz de dar a vida eterna a todos os que n’Ele cressem.
Não, os judeus, devido a razões pessoais e históricas, não eram dados à crença. Se assim o fossem, certamente teriam se rendido às evidências irrefutáveis dos milagres de Jesus. Infelizmente, não foi isso o que aconteceu, pois, se tivessem aceitado a mensagem das palavras e das obras de Cristo, jamais teriam crucificado o Senhor da glória, como diz o apóstolo Paulo em 1Coríntios 2:8.
A incredulidade, triste marca da comunidade judaica, tem uma explicação que foge à capacidade investigativa dos homens. No final do capítulo 12, o evangelista João fala sobre os motivos da descrença que caracterizou os judeus na época de Cristo. O autor sagrado chega a dizer que, de acordo com as profecias, eles não podiam crer. Quais eram essas profecias e como funcionava a lógica divina por trás delas veremos amanhã, se o SENHOR permitir. Por enquanto, fiquemos certos de que a fé cristã floresceu não por causa dos judeus, porém a despeito deles.