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Meditações no Evangelho de João (61): Amor que Não se Acaba

A mais bela e precisa descrição do amor se encontra no capítulo 13 da Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios. É, nesse capítulo, no versículo 8, que encontramos a seguinte declaração: “O amor jamais acaba.” Se observarmos o modo como as pessoas, em geral, se portam nos seus relacionamentos, teremos dificuldade em aceitar tranquilamente a afirmação paulina. Afinal, não são poucas as juras de amor que terminam em desamor. Portanto, se quisermos ver um exemplo do verdadeiro amor que não desaparece com o passar de tempo, precisaremos conhecer o amor do Pai, revelado no Filho, Jesus Cristo.

Em João, capítulo 13, introduzindo o relato da última ceia, o apóstolo João declara: “Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (João 13:1). Naturalmente, a menção de que chegara a hora de Jesus “passar deste mundo para o Pai”, é uma referência à morte de Jesus, que ocorreria dentro de poucas horas. Assim, o texto de João 13:1 poderia ser lido da seguinte forma: “Sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim da Sua vida.” Nesse versículo, fica, pois, provado que Paulo estava certo ao dizer que o amor jamais acaba.  

Nesse texto, temos um claro exemplo da força do amor que é capaz de resistir à própria morte. Na ocasião da última ceia, a verdade da duração ilimitada do amor fica ainda mais evidente se observarmos o versículo seguinte, onde está escrito que, enquanto Jesus e Seus discípulos celebravam a ceia, o diabo já tinha posto no coração de Judas que traísse a Jesus. Na mesma ocasião, temos fidelidade e traição, sinceridade e hipocrisia. Era um momento de amarga contradição, no entanto, o SENHOR Jesus, “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim da Sua vida”. A traição, por mais dura que seja, não pode determinar o fim do amor de Deus. Essa é uma grande notícia, pois nossa situação seria realmente preocupante se o amor de Deus desaparecesse em face da traição. 

Certamente, é admirável saber que Judas Iscariotes estava entre os que foram amados por Jesus até o fim. Contudo, se levarmos em conta o contexto geral do relato dos Evangelhos, perceberemos que, de certo modo, os demais discípulos, em certa medida, também traíram a Jesus. Eles não venderam o Mestre por trinta moedas de prata, porém, na hora que o SENHOR mais precisou da companhia deles, eles O abandonaram. Pedro, o único que seguiu a Jesus durante os julgamentos, não teve coragem de se identificar com o SENHOR. Em vez disso, três vezes negou que tivera qualquer contato com Jesus. Numa dessas, Pedro chegou a declarar com juramento: “Não conheço tal homem!” (Mateus 26:72). Olhando a cronologia dos eventos finais da vida de Jesus, fica óbvio que o abandono e a negação dos discípulos foram posteriores ao momento da última ceia. Porém, isso não diminui a grandeza do amor do SENHOR afirmado na solenidade da ceia, uma vez que Jesus tinha ciência de que seria abandonado por aqueles a quem tanto amara. Jesus não amou até ao fim por não ter conhecimento do fim. Ele amou, mesmo sabendo que, no momento da maior angústia, seria abandonado por Seus amigos.

O amor que não se acaba não é uma ficção sentimental dos românticos apaixonados. Sentimentos, romantismo e paixão se acabam. O amor de Deus, porém, “não é eterno enquanto dura”, como diria Vinicius de Moraes, mas é eterno porque dura. Esse é o amor com que Deus nos ama e deve ser também o amor com que devemos amar uns aos outros. 

“Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1João 4:19).