Meditações no Evangelho de João (65): Amando os inimigos
A última ceia foi uma ocasião especial, não só pela solenidade do evento, mas também pelas lições preciosas que o SENHOR deu aos discípulos. Qualquer pessoa que já teve o privilégio de ler o Sermão do Monte poderá lembrar-se das seguintes palavras: “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mateus 5:44). Essa importante lição, praticada ao longo do ministério de Jesus, foi reafirmada enfaticamente na ocasião da última ceia, no modo como Jesus interagiu com Judas Iscariotes.
O simples fato de Judas estar presente na última ceia é uma clara demonstração de amor por parte de Jesus. Os discípulos não sabiam da trama maligna que se formava no coração de Judas. Mas Jesus estava consciente de que ele era um descrente e um traidor. Em João 6:64, concluindo a instrução que sucedeu à multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus disse claramente: “Contudo, há descrentes entre vós.” E João, comentando essas palavras, acrescentou: “Pois Jesus sabia, desde o princípio, quais eram os que não criam e quem o havia de trair.”
O amor de Cristo por Judas também se revela nos múltiplos comentários que o SENHOR fez acerca do plano maligno de traição que, em breve, seria executado por Judas. Por meio dos seus comentários, Jesus estava, de fato, comunicando-se pessoalmente com Judas, pois os demais não compreendiam o significado das palavras do SENHOR. Era uma interação enigmática, porém poderosa e significativa. Movido por sensatez e amor, Jesus não quis expor a perversidade do coração de Judas aos demais do grupo. Se o tivesse feito, certamente, teria recebido a simpatia dos outros discípulos. No entanto, em vez de fazer Judas receber a rejeição que merecia, Jesus o protegeu, evitando tornar público seu projeto pecaminoso de traição. Foi assim, por exemplo, quando Jesus, advertindo os discípulos sobre a importância de seguir Seu exemplo de humildade, disse: “Não falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi; é, antes, para que se cumpra a Escritura: Aquele que come do meu pão levantou contra mim seu calcanhar” (João 13:18). Judas sabia que a profecia citada era uma menção ao pecado que ele iria cometer contra Jesus.
Existe um longo e confuso debate que, vez por outra, aparece em publicações eruditas e populares acerca das profecias que fazem referência a Judas. Alguns, querendo desacreditar a fidedignidade das Escrituras, chegam a perguntar se Judas foi o traidor ou foi o traído. O raciocínio por trás do questionamento é o seguinte: se a profecia antecipava que um dentre os discípulos iria trair o Messias, então, Judas, na verdade, estava sendo uma vítima da predestinação divina. Ele não tinha escolha.
A verdade é que, embora a profecia antecipasse a traição a Cristo, em nenhum momento vemos Judas coagido por uma força sobrenatural para seguir seu coração ganancioso. Em cada passo, ele estava orientado e consciente quanto às deliberações que tomava. Guardadas as devidas proporções, Pedro passou por uma situação semelhante. Jesus antecipou que ele haveria de negá-lo três vezes, e isso realmente aconteceu. Esse fato, entretanto, não impediu que Pedro se arrependesse logo após ter cometido seu pecado. Infelizmente, Judas seguiu seu caminho de perdição, e, quando podia ter reconhecido seu erro, em vez de se humilhar e pedir perdão, continuou duro, preferindo a morte ao verdadeiro arrependimento.
Judas, o traidor, foi amado até ao fim. E, se tivesse se arrependido, teria sido perdoado e continuaria sendo alvo do eterno amor de Deus. Realmente, Jesus não somente ensinou que devemos amar nossos inimigos; mais do que isso, Ele mostrou, na prática, como fazê-lo.