As Maravilhas do Natal (15): Maria: A Virgem Agraciada por Deus
“No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria. E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo” (Lucas 1:26-28). É desse modo que Lucas, médico, historiador e teólogo do primeiro século, abre o relato do anúncio do nascimento de Jesus a Maria.
Seis meses haviam passado desde que o anjo Gabriel anunciara a Zacarias a gravidez milagrosa da sua esposa Isabel. Então, Gabriel é novamente enviado por Deus, dessa vez para anunciar a Maria o nascimento de Jesus.
O Novo Testamento não nos oferece muitas informações sobre a vida pessoal e familiar de Maria. Fora das Escrituras, encontramos alguns relatos históricos verificáveis e uma considerável quantidade de tradições e dogmas. Contudo, à parte de qualquer discussão, o fato que torna Maria notável entre as mulheres é a graça de Deus a ela oferecida. Sabemos disso porque, ao encontrá-la, o anjo Gabriel disse: “Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo”.
A expressão “Alegra-te, muito favorecida” é extremamente importante. O verbo “alegra-te” poderia ser traduzido como “saudações” ou “salve”. A palavra “salve”, às vezes, aparece na sua forma reduzida como “ave”. Portanto, a expressão “ave, Maria” é o mesmo que “saudações, Maria”. Essa era um forma antiga de cumprimento que ainda pode ser vista na linguagem contemporânea formal.
Depois da saudação, Gabriel chamou a jovem Maria de favorecida ou agraciada. O significado literal é bem claro. O anjo diz a Maria que ela está recebendo favor, ou seja, está sendo receptora de graça. Tanto na língua grega quanto na língua portuguesa, o termo “agraciada” tem uma clara conotação passiva, indicando que Maria estava sendo o alvo e não a fonte da graça. Então, quem seria a fonte da graça que chega a Maria? Gabriel nos revela ao dizer: “O Senhor é contigo”.
Na história da tradução do texto, percebemos um fato curioso sobre a expressão “favorecida” ou “agraciada”. Quando Jerônimo, no quarto século, produziu a versão bíblica conhecida como Vulgata, tradução do texto grego para o latim, ele usou a expressão latina “gratia plena”, que, no português, significa “cheia de graça”. Embora a tradução não esteja demasiadamente longe do sentido original, nessa tradução, o sentido, ao invés de passivo, foi transformado em ativo. Essa mudança de conotação gerou o entendimento tradicional de que Maria, em vez de ser receptora da graça, seria ela própria a fonte da graça.
Felizmente, além do texto original, podemos entender a graça de Deus sobre Maria por meio do seu próprio testemunho, pois ela mesma disse: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome” (Lucas 1:46-49).
Você já pensou quão maravilhosa é a graça de Deus? Se observarmos com cuidado, ficaremos, como Maria, admirados com a bondade do Deus Poderoso que tem feito grandes coisas na nossa história. Que, neste Natal, meditemos e louvemos a Deus, que, pela graça, abençoou Sua serva Maria e, por essa mesma graça, abençoa todos os homens por intermédio do primogênito Filho de Maria: o Senhor Jesus Cristo.