Meditando nas Escrituras (35): O Conforto da Palavra na Hora da Aflição
Leitura: Salmos 119:65- 72
Se Deus é poderoso e bom, se Ele cuida carinhosamente dos Seus filhos, por que o sofrimento aparece com tanta frequência em suas vidas? Em Romanos 8:28, está escrito que Deus age em todas as coisas “… para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Lendo esse versículo, podemos entender perfeitamente o que Paulo está dizendo. Porém, quando o sofrimento desaba violentamente sobre nós, a mensagem de Paulo parece não fazer sentido. E o servo de Deus pode se perguntar: “Como Deus pode estar agindo para o meu bem, se, à minha volta, só vejo trevas, angústias e dores?” O Salmo 119, que foi escrito em um contexto de perseguição, ajuda-nos a resolver esse dilema na vida dos servos do SENHOR. Esse é o assunto abordado na sua nona estrofe, nos versículos 65-72.
Sabemos que essa estrofe lida com o problema da aflição na vida do salmista porque, duas vezes, ele se refere a esse assunto. No versículo 67, ele diz: “Antes de ser afligido, andava errado, mas agora guardo a tua palavra.” No versículo 71, de modo ainda mais direto, o escritor sagrado afirma: “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos.”
Embora esteja discorrendo sobre um tempo difícil no qual o salmista sentiu o peso da disciplina do SENHOR, em nenhum momento, ele deixa transparecer o menor ressentimento por ter sido disciplinado por Deus. Assim, para deixar claro que seu coração está completamente livre de amargura contra o SENHOR, ele começa a estrofe dizendo: “Tens feito bem ao teu servo, SENHOR, segundo a tua palavra” (v. 65). E, um pouco adiante, ele reforça: “Tu és bom e fazes o bem; ensina-me os teus decretos” (v. 68). Isso deixa claro que o salmista não via as provações como indicação de que Deus o havia abandonado, ou de que a Palavra de Deus tivesse falhado. Evidentemente, isso não nega as lutas espirituais que são próprias dos tempos de provação, pois, como sabemos, dependendo da natureza da aflição e da intensidade da dor, o servo de Deus pode, em algum momento, perder seu equilíbrio mental e espiritual, passando a julgar a Palavra por meio das circunstâncias em vez de julgar as circunstâncias por meio da Palavra. O salmista entende esse risco, por isso ele pede ao SENHOR: “Ensina-me bom juízo e conhecimento, pois creio nos teus mandamentos” (v. 66). Nesse verso, o salmista nos faz compreender que, se quisermos ter “bom juízo e conhecimento” para julgar corretamente a realidade em que estamos inseridos, precisamos começar tendo a fé como base, isto é, primeiro crer, para, depois, entender. Os incrédulos se perdem nos seus julgamentos porque lhes falta o precioso e indispensável elemento da fé.
Enquanto passava pela disciplina do SENHOR, o salmista enfrentava mais um grande teste: as mentiras dos soberbos. Os incrédulos têm uma maneira peculiar de analisar as provações dos servos de Deus. Implícita e explicitamente, eles dizem: “Se Deus existe e é um bom Pai, por que você não tem uma vida livre de aflições? Onde está Aquele que você diz ser o seu refúgio e fortaleza?” É difícil suportar o peso de tais palavras, mas o salmista não se curva ao raciocínio dos pecadores, pois, como ele diz, “Os soberbos têm forjado mentiras contra mim; não obstante, eu guardo de todo o coração os teus preceitos” (v. 69). Por que os soberbos têm uma percepção tão errada de Deus e das provações? A resposta está no versículo 70: “Tornou-se-lhes o coração insensível, como se fosse de sebo; mas eu me comprazo na tua lei.” Estando cegos pela falta de sensibilidade espiritual, os incrédulos não podem entender que, a despeito das aflições, o servo de Deus reconhece a preciosidade da Palavra do SENHOR. Assim, o salmista termina a estrofe declarando: “Para mim vale mais a lei que procede de tua boca do que milhares de ouro ou de prata.”
Amanhã, voltaremos ao texto de Romanos 8:28, mas, por enquanto, descansemos no fato de que as aflições não são gratuitas. Elas, ao final, são trazidas com grandes bênçãos, entre as quais se destacam o fato de que, por elas, aprendemos os decretos do SENHOR.