Meditações no Evangelho de João (89): A Negação ao SENHOR
Leitura Bíblica: João 18:12-27
A Bíblia tem uma característica peculiar, ausente nos demais livros religiosos: não encobrir os graves pecados dos seus heróis. No Antigo Testamento, por exemplo, Abraão, patriarca do povo escolhido e pai espiritual de todos os que creem em Cristo, expõe sua esposa ao perigo para salvar sua própria pele. Davi, o corajoso guerreiro e amado rei de Israel, cometeu adultério com Bate-Seba e, covardemente, planejou a morte de Urias, o esposo dela. Salomão, o homem que recebeu sabedoria de Deus, perdeu-se nas paixões carnais e se afastou do SENHOR. No Novo Testamento, o padrão se repete, e encontramos o caso de Pedro, líder dos apóstolos de Jesus, que negou três vezes que conhecia o seu Mestre, chegando a fazer juramento para sustentar sua mentira.
Todas essas falhas têm o seu devido peso, mas esse tropeço de Pedro, narrado nos quatro Evangelhos, parece especialmente chocante. Por meio da sua tríplice negação, Pedro estava desprezando Aquele com quem tinha tido o privilégio de conviver durante três anos. Foi Pedro que, ao ser perguntado sobre a identidade do Filho do Homem, acertada e ousadamente declarou: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Além disso, sobre Pedro pesava o agravante de que, nas Suas palavras de despedida, o próprio Cristo o advertira: “Em verdade, em verdade te digo que jamais cantará o galo antes que me negues três vezes” (João 13:38).
Ao narrar detalhadamente o tropeço de Pedro, o alvo dos evangelistas não é preparar-nos para atirar a primeira pedra. O propósito é mostrar que todos estamos sujeitos à queda moral e espiritual, sendo, portanto, dependentes da graça de Deus. Como disse o apóstolo Paulo na sua Primeira Epístola aos Coríntios, “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (1Coríntios 10:12).
Pedro nos ensina que, no nosso relacionamento com Cristo, podemos nos surpreender com a distância abissal entre o que dizemos e o que fazemos. Quando, durante a refeição pascal, Jesus antecipou que os discípulos iriam abandoná-l’O na hora da provação final, Pedro respondeu: “Senhor, por que não posso seguir-te agora? Por ti darei a própria vida” (João 13:37). Vendo a disparidade entre o que Pedro disse e o que Ele fez, devemos ser cautelosos para não fundamentarmos nossa segurança espiritual nas nossas emoções arrebatadoras ou nas palavras bonitas que proferimos impulsivamente. Afinal, como o SENHOR Jesus disse, a evidência do nosso compromisso com Ele não depende do que falamos, mas do que fazemos. Em Mateus 7:21, Jesus disse: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.”
Em Romanos 15:4, está escrito: “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança.” A falha de Pedro e dos demais heróis bíblicos nos trazem importantes lições, começando com a necessidade de reconhecermos o quanto somos carentes da ajuda do SENHOR para nos mantermos fiéis a Ele. Porém, acima de tudo, aprendemos sobre a graça perdoadora e restauradora de Cristo para com os que se arrependem dos seus pecados. Não importa o tamanho da nossa culpa, pois, em Cristo, temos suficiente graça para recebermos o perdão e a purificação de todos os nossos pecados.
De uma forma ou de outra, todos estamos sujeitos a negar o SENHOR e a jurar que nunca O conhecemos. Quando isso acontecer, a solução não é encobrir o pecado nem se desesperar. O melhor caminho é fazer como Pedro: olhar para Cristo, reconhecer sinceramente nosso erro e descansar no fato de que “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1João 1:9).