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🌾 A SEMENTE 482 (Terça-feira, 27/04/2021)

Meditações no Evangelho de João (97): A Ironia na Crucificação do Rei dos Judeus

Leitura Bíblica: João 19:17-22

Jenuan S. Lira

Dificilmente poderemos explorar tudo o que estava envolvido no evento da crucificação do SENHOR. Por mais que tentássemos, sempre nos faltariam pensamentos e palavras que pudessem expressar com exatidão tudo o que aconteceu quando o Criador do Universo foi julgado e condenado por Suas criaturas. Apesar disso, observando bem, podemos ver que a história da crucificação seguiu um roteiro sobrenatural que se percebe, por exemplo, pela curiosa ironia procedente da parte dos homens e, principalmente, da parte de Deus. 

Conforme o relato de João, enquanto julgava o SENHOR, Pilatos fez questão de se referir a Ele como “o rei dos judeus”. Evidentemente, Pilatos não levou a sério o fato de o próprio Jesus ter confirmado que Ele era rei, e não viu razão para que os judeus pensassem de outra forma. Por isso, quando Pilatos, sob a pressão da multidão, perguntou “hei de crucificar o vosso rei?”, estava, na verdade, sendo irônico. Com essas palavras, Pilatos apenas queria dizer que os judeus eram tão insignificantes que até Aquele que dentre eles se dizia rei, não passava de um homem sem “aparência nem formosura”, mais digno de compaixão do que de admiração. Esse Rei, coroado de espinhos, com o rosto ensanguentado, representava bem a visão desprezível que Pilatos tinha da nação de Israel. Ter autoridade para castigar e condenar à morte o rei dos judeus fazia Pilatos se sentir superior. Por essa razão, a expressão irônica “rei dos judeus” sai dos seus lábios com frequência durante o julgamento do SENHOR.

Quanto aos próprios judeus, eles também se viram envolvidos numa involuntária e interessante ironia. Para forçar Pilatos a determinar a crucificação de Jesus, eles silenciaram quanto à acusação de blasfêmia e lançaram mão da acusação de crime político: Jesus se dizia rei, e isso era uma forma de rebelião contra César. Até o momento das audiências, Pilatos não tinha recebido informação de qualquer motim popular que pudesse representar uma ameaça ao imperador. Sem perceber risco de sedição, Pilatos entende que a questão estava mais relacionada às tradições religiosas judaicas do que ao campo da administração política. Por isso, ele não via em Jesus culpa alguma e estava pronto para declará-l’O inocente. No entanto, quando os judeus, maliciosamente, lançaram mão da acusação de cunho político, Pilatos ficou acuado e contrariado. Mesmo vendo que a acusação era infundada, ele sabia que os judeus poderiam usá-la a fim de prejudicá-lo, caso o ocorrido chegasse aos tribunais superiores de Roma. Insatisfeito com essa manobra que o impedia de cumprir seu desejo, Pilatos resolveu ridicularizar as autoridades judaicas, mandando afixar à cruz de Cristo a seguinte inscrição: “Jesus, Nazareno, o Rei dos Judeus”. E, para tornar o evento ainda mais humilhante para os judeus, ordenou que a inscrição fosse lavrada em três línguas: aramaico, a língua falada em Israel na época de Jesus; latim, a língua oficial do império; e grego, a língua comum no primeiro século. Ao verem a inscrição, os principais sacerdotes se sentiram ofendidos e pediram que fosse modificada, a fim de que ficasse entendido que Jesus não era o rei dos judeus, mas se dizia como tal. Pilatos não os atendeu. Ao contrário, numa espécie de vingança irônica, querendo demostrar que, no final, ele tinha vencido o embate, respondeu: “O que escrevi, escrevi.” Isto é: a inscrição não será modificada. A mensagem de Pilatos era: “Já que vocês me obrigaram a condená-lo sob a acusação de querer ser rei, todo mundo deve saber que eu ordenei a morte de Jesus, Nazareno, o Rei dos Judeus”. Assim, os judeus que não O reconheceram como rei em vida, tiveram que fazê-lo na morte.  

Enquanto os homens agiam de maneira zombeteira, sarcástica e irônica a fim de negar a autoridade e realeza do SENHOR, no final das contas, por bem ou por mal, todos ficaram sabendo que Aquele que foi crucificado era o Rei dos judeus. E, para que ninguém ficasse ignorante do fato, Pilatos tomou providências para que a informação fosse anunciada nas principais línguas da época. O que temos aqui? Mais uma daquelas ocasiões em que o plano de Deus sobrepuja os propósitos humanos, e aquilo que foi escrito “continua escrito”. Desse modo, podemos ter certeza de que as profecias ainda não cumpridas irão se cumprir com exatidão, e, um dia, como lemos em Apocalipse 1:7, O Rei dos Reis voltará “… com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente. Amém!”

Em Provérbios 16:1 está escrito: “O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor.” A vontade de Deus será cumprida, mesmo que para isso seja necessária a ação dos próprios inimigos de Deus. Essa é a verdadeira e misteriosa ironia da história humana.