Carente da misericórdia do Pai
A parábola do pai amoroso e seus dois filhos perdidos, do começo ao fim, é um relato repleto da impressionante misericórdia do pai. Em geral, notamos a compaixão do pai apenas em direção ao filho pródigo, porém a bondade dispensada ao filho mais velho é ainda mais impactante.
Desde o momento em que o filho mais velho aceitou passivamente sua parte na herança até o instante em que ele se recusa a entrar e a se alegrar com a alegria do pai, ele está desprezando terrivelmente seu amoroso pai. De acordo com os costumes da época, um filho que desonrasse o pai publicamente deveria ser castigado também em público. Contudo ele, à semelhança do irmão, não recebeu o castigo. Ao contrário, o pai assumiu a vergonha pública, a fim de restaurar esse filho perdido na cegueira do seu próprio coração orgulhoso. Se os fariseus ouvintes de Jesus prestassem cuidadosa atenção, perceberiam que aquilo que o pai fizera pelo filho mais novo precisaria igualmente ser feito em favor do filho mais velho.
Na realidade, se compararmos a maneira como os dois filhos se dirigiram ao pai, logo veremos que o filho mais velho fez questão de manifestar sua falta de amor e respeito pelo pai. O filho pródigo começou sua fala dizendo: “Pai, pequei contra o céu e diante de ti”. Quanto ao filho mais velho, ele abordou o pai de maneira ríspida, sem esconder a ira e o ressentimento que o dominavam internamente. Na língua original, a fala do filho mais velho é introduzida por uma interjeição que serve para chamar a atenção do interlocutor, de modo que sua resposta ao pai poderia ser lida da seguinte forma: “Preste atenção! Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos” (Lc 15.29).
Naquela cultura, um filho que se dirigisse ao pai com tamanho atrevimento, no mínimo, receberia uma forte tapa no rosto. Nenhum pai toleraria tal afronta pacificamente. Não interessava quão desapontado um filho estivesse, ou quão razoável parecesse a sua ira, ele devia respeito ao pai. Um filho nunca se dirigiria ao pai sem introduzir sua fala com a palavra “pai”, como o fez o filho mais novo.
Denunciando a hipocrisia farisaica, Jesus lhes disse: “Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição” (Marcos 7.8–9). Algum tempo depois, o Senhor Jesus falou: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mateus 23.23). Claramente, tais palavras descrevem bem o filho mais velho, que era tão cuidadoso em trabalhar duro, para poder reivindicar seus direitos, porém era completamente relapso quanto à honra do pai, que era a verdadeira prova de amor.
Para nos acharmos bem, precisamos nos apegar a um padrão próprio de justiça que pode ser reforçado por doutrinas e pensamentos humanos. O problema com as soluções humanas é que elas sempre ficarão muito aquém daquilo que Deus espera. E essa distância pode ser tão grande quanto a eternidade.
Deixemos nossos caminhos, sigamos o caminho que o Pai manifesta na pessoa do Filho.
"Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Romanos 11.36).
Eu sou Jenuan Silva Lira, pastor da IBBP - Fortaleza. Este foi mais um episódio de “A Semente”. Para entrar em contato, escreva para asemente@ibbp.org. Para sermões e estudos dados na nossa igreja, visite o canal da IBBP no Youtube. Tenha um bom dia na presença do SENHOR.