A dificuldade de perceber o Salvador
Ter conhecimento intelectual dos fatos e histórias das Escrituras não significa, necessariamente, ter compreensão da revelação bíblica. Mais do que conhecer o que a Bíblia diz é necessário saber o que Ela quer dizer. Então, tendo a informação processada mentalmente pela justa interpretação, a pessoa precisa curvar o coração à verdade revelada nas Escrituras e aplicá-la à sua própria vida.
No caminho de Emaús, temos um caso clássico de desencontro entre mente e coração, entre conhecimento e vontade, entre saber e obedecer. Como muitos, em nossos dias, os dois discípulos não eram ignorantes acerca dos fatos escritos na Lei e nos Profetas. As informações, eles as tinham desde a infância, pois, sendo judeus, cedo recebiam orientação na sinagoga. Apesar disso, Jesus lhes disse: “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?” (Lucas 24.25–26).
O termo “néscio”, que aparece nas nossas traduções, é um adjetivo que significa, literalmente, “sem percepção”, “sem visão”. Jesus está dizendo que lhes faltava percepção da realidade contida nos escritos proféticos. Naturalmente, viam; entretanto, espiritualmente, não enxergavam. Os fatos estavam diante deles. Sem dúvida, muitas das profecias messiânicas tinham sido memorizadas por eles. Mesmo assim, o sentido de tais profecias permanecia encoberto aos seus olhos. Tinham conhecimento, mas careciam de entendimento.
A pessoa que tem conhecimento das Escrituras, porém não tem Sua mente iluminada pelo Espírito Santo, para perceber Seu sentido, é semelhante ao cego que foi trazido a Cristo para ser curado, acerca do qual lemos em Marcos 8.22-26. Marcos diz que, inicialmente, Jesus tocou os olhos daquele cego e perguntou se ele via alguma coisa. E o cego respondeu: “Vejo os homens, porque como árvores os vejo, andando” (Mc 8.24). Então Jesus tocou novamente os olhos do cego, e ele passou a ver claramente, ficou restabelecido, e tudo distinguia de modo perfeito.
Eis uma perfeita ilustração da situação espiritual de muitas pessoas que têm contato com as Escrituras. Não são de todo ignorantes acerca da Pessoa e da obra de Cristo; são capazes de repetir os fatos e até de argumentar acerca da sua autenticidade. No entanto, enquanto não se submetem a Cristo como Seu único Senhor, Salvador e Mediador, ficam desprovidos da ação iluminadora do Espírito Santo. Por isso, como o cego, antes da cura ser consumada, essas pessoas veem com distorção, figurativamente, veem homens como árvores, veem Cristo como um exemplo, um bom mestre, um mártir, um sábio; e alguns até admitem que Ele é o único Salvador. Contudo, quando lhes é perguntado se têm certeza da salvação, revelam confusão no entendimento daquilo que as Escrituras revelam sobre Jesus. Essas pessoas afirmam que Jesus é o Salvador, mas ainda não chegaram ao ponto de dizer: “Jesus morreu por meus pecados. Ele sofreu o castigo que era meu. Na Sua morte e ressurreição pagou o preço do resgate da minha alma. Jesus não é apenas o Salvador, Ele é o meu Salvador.”