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O preço da cruz

Na era do entretenimento, tudo precisa ser leve e divertido. O anseio das pessoas, em geral, é muita liberdade e pouquíssimo compromisso. Esse desejo pode ser visto em todas as áreas da vida, inclusive no modo como várias pessoas se relacionam ou pretendem se relacionar com Cristo. E, para tornar a situação ainda mais complicada, há muitos que se especializam em mercadejar religião, adequando o produto ao gosto dos clientes.

A proposta de Cristo em nada combina com a mentalidade que subjaz à religiosidade em massa. Ensinando a verdade com toda honestidade, sem tentar esconder ou suavizar o preço de ser discípulo, Jesus afirmou: “E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lucas 14.27).

Quando o ícone da cruz atinge o imaginário das pessoas, imediatamente, o pensamento se volta para sofrimentos e angústias da presente vida. Embora não com tanta frequência, mesmo em nossos dias, ainda se podem encontrar os chamados penitentes que, literalmente, colocam uma cruz de madeira sobre os ombros e andam dezenas de quilômetros até chegar a um centro religioso, onde deixam sua cruz e seguem pelo resto da vida com a certeza de que obedeceram às palavras de Cristo. Outros não chegam a tanto, mas levam resignadamente a sua própria “cruz”, que pode ser entendida como grandes provações ou sofrimentos – fardos que oprimem os ombros da alma.

Se estudarmos cuidadosamente o contexto em que Jesus falou aos Seus discípulos sobre “tomar a cruz”, veremos que o significado das palavras de Cristo nada tinha a ver com peregrinos agonizando sob o peso de uma cruz de madeira, nem com pessoas resignadas suportando os fardos das provações. Na época de Cristo, tomar a cruz significava carregar o instrumento da própria morte. Um réu sentenciado a tomar a cruz nada mais era do que uma pessoa condenada à morte por crucificação. O réu, além de ter que passar pelo infame castigo da crucificação, era obrigado a tomar a cruz, isto é, levar sobre os ombros a trave horizontal do seu instrumento de morte, uma vez que a trave vertical ficava fincada no local onde iria acontecer a execução. A melhor ilustração pode ser vista no caso do próprio Cristo que, pelo menos por certa distância, carregou parte da cruz até cair e ser ajudado por Simão Cireneu (Marcos 15.21).

Os ouvintes originais entenderam o significado das palavras de Jesus; e nós, se quisermos ser Seus discípulos, devemos entendê-lo também: quem quer seguir a Cristo precisa morrer para si mesmo, precisa levar o seu eu à cruz. Quem ama a si mesmo e não deseja crucificar o seu eu não pode ser verdadeiro discípulo de Cristo. Descrevendo seu compromisso com Cristo, o apóstolo Paulo afirmou: “… Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.19–20).
Um discípulo de Jesus é uma pessoa que, pela fé n’Ele, morreu para si mesmo e, agora, vive para Deus e por Deus. Esse é o preço da cruz! Esse é o preço do discipulado!