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Nesse episódio do Papo Lendário, Leonardo Mitocôndria, Nilda Alcarinquë, Juliano Yamada e Pablo de Assis conversam sobre a imortalidade.

Ouça sobre quatro diferentes formas de encarar a imortalidade

Veja qual a relação da imortalidade com identidade, vida e morte do ser humano.

Entenda como os deuses conseguem ser imortais

Ouça sobre Gilgamesh e outros personagens miticos que tentaram alcançar a imortalidade, alguns com sucesso outros não.

Aprenda o que pode comer para se tornar imortal.

- Esse episódio possui transcrição, veja mais abaixo.

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-- Transcrição realizada por Amanda Barreiro (@manda_barreiro) --

[00:00:00]
[Vinheta de abertura]: Você está ouvindo Papo Lendário, o podcast de mitologias do projeto Mitografias. Quer conhecer sobre mitos, lendas, folclore e muito mais? Acesse: mitografias.com.br.
[Trilha sonora]
Leonardo: Muito bem, ouvintes. Vamos torcer para esse episódio durar muito, já que é disso que a gente vai falar hoje, sobre a imortalidade. É um assunto bem extenso, pois ele trata de todas as culturas do ser humano em geral. (A gente) [00:01:24] sempre refletiu sobre isso, por isso a gente vê repercussão nas religiões atuais, crenças antigas também, então é algo bem amplo, algo que está ligado ao ser humano, está ligado com a vida e morte do ser humano. Então no episódio de hoje a gente vai mostrar tipos de imortalidade, vamos mostrar exemplos de personagens que ou se tornaram imortais ou foram atrás disso, e dá até para falar de alguns conceitos mais científicos relacionados a isso, então tem bastante coisa para falar. Dá para se dividir essa ideia de imortalidade em quatro tipos, que aí a gente vai se aprofundar ao longo do episódio, mas, só para você, ouvinte, ter uma ideia, a imortalidade existe das seguintes formas: como longevidade, que é, querendo ou não, ao meu ver, agora, o mais óbvio, o mais na cara de quando você pensa na questão de imortalidade, que é o viver por muitos e muitos tempos. Tem a imortalidade da alma e do espírito, ou um ou outro ou qualquer coisa que você possa definir como alma, nesse caso, porque como a gente está falando de um conceito amplo que vai de várias religiões, várias crenças, então seja lá o que puder ser definido como alma e espírito, a imortalidade disso. Temos também a questão de ressurreição, que é realmente ali você morrer, mas você ter o corpo revivido, voltar em si da morte. E temos também o legado social, esse é bem interessante, é o mais diferente e talvez o mais plausível, não sei. A gente vai conversar mais sobre isso, porque acho que o nome dele já explica bem, não é? É ter um legado ali da pessoa ou do que quer que seja, e aí se tornando imortal.
Pablo: Acho que antes de a gente aprofundar sobre o que é imortalidade, vale a pena a gente falar um pouco sobre o que seria a vida e a morte, já que imortalidade tem a ver com isso, e essas quatro diferentes noções de imortalidade, a gente tem quatro noções diferentes, porque a gente não tem uma definição clara do que seria vida e morte; consequentemente, a gente entende o final da vida ou a extensão da vida de formas diferentes. Se a gente pensa a vida como sendo uma coisa diferente, por exemplo, vida como sendo uma essência vital que está presente nos corpos, e essa essência vital a gente pode chamar de alma ou de espírito, então o corpo que hospede esse princípio vital é irrelevante. O importante é a permanência e a imortalidade, então, desse princípio vital. Então falar de longevidade não importante, o que importa é você falar de uma alma que seja imortal, porque esse que é o próprio sentido da vida. Então é importante a gente entender o que seria isso que a gente chama de vida, que sentido a gente tem, porque o sentido que a gente parte hoje é muito mais ligado à biologia, e não é esse o único sentido que a gente teve no decorrer da história. Na biologia, tem-se ideia do que seria essa imortalidade, que é uma coisa até interessante, porque, em tese, os genes que a gente carrega hoje são herdados dos nossos pais, que foram herdados dos seus pais, e assim sucessivamente. Então, de certa forma, a reprodução sexuada é uma forma de imortalidade do gene.
Juliano Yamada: Não só a reprodução sexuada, a assexuada também. Em teoria, o nosso DNA é considerado uma das moléculas complexas mais antigas que tem a capacidade de se autorreproduzir, então, apesar das mutações e tudo mais que elas acumulam nesses bilhões de anos de evolução, elas ainda são muito parecidas com a molécula original, tanto que o DNA, muitos milhões de anos atrás, migrou do RNA. O RNA é uma forma mais simples, mas elas usam nesse conceito, tanto que o RNA e o DNA ainda se comunicam, por mais que sejam moléculas diferentes. Nossas células ainda usam o RNA para fazer a produção de proteínas, elas ainda precisam de um sistema mais antigo dentro de um sistema mais novo, e o nosso DNA tem muito lixo, como fala? Muita programação que deixou de funcionar simplesmente porque não tem mais função. A evolução desativou, mas a evolução não apaga isso, ela fica lá dentro. Tem muita coisa no nosso DNA que ninguém sabe para que serve, e está lá desativada.
Nilda: O que é vida? Quer dizer, você pode definir, como você falou, biologicamente, mas você pode definir em termos de experiências, então, se você vive várias experiências... não vou dizer experiências totalmente diferentes, mas se você está experienciando coisas, você está vivendo; mesmo que seja a mesma coisa repetidamente, você está vivendo. É uma definição, não é a única.
Pablo: A gente pode pensar nesse sentido principalmente olhando para a necessidade de a gente falar o que é vida comparando com a morte. A gente só vai pensar que vida é alguma coisa, porque a gente vai ter a experiência de coisas que não estão mais vivas, e é estranho a gente definir desse jeito, a partir da negação, mas é assim que a gente experiencia. De repente a gente tem uma experiência com alguém, vamos pensar em um bichinho de estimação que está lá brincando com você em um momento, aí no outro momento ele para, não responde, e aí ele não está mais lá, mas o corpo permanece lá, e o corpo começa a apodrecer. Então a gente tem essa experiência de que alguma coisa em algum momento ali mudou, logo a gente vai chamar esse estado anterior a essa mudança de vida e o estado posterior de morte. E aí o que seria isso que permitia que esse ser estivesse vivo? E a gente compara que tem coisas, por exemplo, que não passam por isso. Uma pedra, por exemplo, não é viva e não passa por esse momento, diferente de uma planta, por exemplo, que tem, por mais que ela não se movimente como um animal, mas ela também passa por transformações e tem um momento que ela deixa de estar viva e passa a estar não viva. E aí a gente consegue ter diferentes experiências disso, que levam a gente a pensar o que seria essa vida ou não.
Juliano Yamada: O ser humano começou a pensar na morte há aproximadamente cem, cento e poucos mil anos. É muito recente, se você colocar em toda escala evolutiva. Só os homo sapiens e acho que os neandertais tinham costume de enterrar os mortes; os hominídeos e o gênero homo anterior aos homo sapiens simplesmente largavam. Para eles, na verdade, um corpo morto era um estorvo, então eles largavam, geralmente deixavam algumas coisas deles lá, mas a maioria dos fósseis desses hominídeos mais antigos foram encontrados de qualquer jeito. Eles eram largados do jeito que morriam, não eram enterrados, não era feito nada, simplesmente iam embora. Então o conceito pensar na morte, pensar em evitar a morte, acho que é meio que junto com o pensamento da morte em si, o que ela representa para os homens, o que vai acontecer depois.
Pablo: O que a gente pode inferir nesse sentido é que, a partir do momento que a gente encontra corpos sepultados, eles já tinham alguma noção relacionada à morte ou uma ideia de vida após a morte, principalmente porque, quando a gente começa a encontrar esses corpos sepultados, eles geralmente só são encontrados em posição fetal, com as pernas dobradas, como se eles estivessem abraçando as próprias pernas, que é análoga à posição que o feto fica na barriga da mãe antes de nascer, e aí eles são enterrados. E como a gente tem toda a tradição mitológica da Mãe Terra, a gente parte dessa ideia de que talvez eles entendessem que a morte seria um retorno para uma outra vida diferente após essa morte. Mas isso não quer dizer que antes eles não pensassem sobre o morrer e sobre a morte. Simplesmente a gente não sabe o que eles poderiam ter pensado a respeito, porque obviamente eles não deixaram evidências para falar sobre isso. Então há 150 mil anos a gente começa a ter as primeiras evidências de um pensamento de uma vida após a morte, mas não necessariamente de uma ideia de que eles de fato pensavam sobre morte. Porque a gente pode até inferir, por exemplo, que, se a gente abandona um corpo morte, é porque a gente já está em pensamentos primórdios; diferente, por exemplo, de a gente pensar que a pessoa simplesmente caiu porque está dormindo, a gente vai levar a pessoa que está dormindo com a gente. Mas, se a gente abandona alguém que morreu, a gente já sabe diferenciar alguém que está vivo, que pode voltar a acordar, de alguém que já morreu, que vai ficar lá jogado, não vai servir para nada.
Leonardo: Senão, já pensou? A pessoa dormia, acordava, o pessoal foi todo embora, porque achou que não havia diferença.
Nilda: A gente sabe o que é vida, ou melhor, a gente começa a definir a vida em oposição à morte, como várias coisas na nossa vida a gente faz em oposição ao outro lado. Não vou dizer em oposição, mas face à existência de outra coisa. No caso, o outro é deixar de respirar e o coração deixar de bater.
Pablo: Tanto que, se não tinha mais respiração e não ouvia mais o batimento, a gente podia considerar que a pessoa estava morta, e era por isso, inclusive, que as pessoas eram enterradas vivas,