Os santos, alinhando sua vontade com a de Deus, começaram a participar da felicidade do céu já aqui na terra. Os padres do deserto, por exemplo, gozavam de uma grande paz interior, porque consideravam como vindas das mãos de Deus todas as coisas que lhes sucediam.
É verdade que a virtude não nos torna insensíveis e que as contrariedades ocasionam sempre certa apreensão, mas isso só se dá na parte inferior da alma, ao passo que na parte superior reina a paz e a tranquilidade, contanto que nossa vontade se conforme com a de Deus. "Ninguém vos roubará a vossa alegria", disse o Salvador aos seus apóstolos. E ainda: "Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa". Aquele que sempre tem por objetivo executar a vontade de Deus usufrui de uma felicidade completa e constante, porque possuirá tudo o que deseja e porque ninguém lhe poderá roubar essa felicidade, visto que ninguém pode impedir que se realize a vontade de Deus.
Como é grande a loucura daqueles que não querem se submeter à vontade de Deus! Não sofrerão menos por causa disso, pois ninguém pode impedir os desígnios de Deus. Se Deus nos envia tribulações, é em vista de um bem supeior e porque isso é melhor para nós. Como escreveu São Paulo: "Para os que amam a Deus, todas as coisas cooperam para o bem". A virtuosa Judite nos atesta que o Senhor não nos castiga com a intenção de nos perder, mas de nos corrigir e tornar felizes. Disse ela, "devemos pensar que os flagelos do Senhor devem servir para a correção e não para a punição". Para nos preservar das penas eternas, Deus nos protege com a sua boa vontade como se fosse um escudo. Deus não só deseja a nossa salvação, mas cuida seriamente disso. Se ele nos deu seu próprio Filho, o que nos poderia negar?
Assim, devemos nos colocar à disposição da divina providência com toda a confiança, visto que todas as suas determinações procuram o nosso bem. Portanto, digamos em tudo o que nos acontecer: "Dormirei e descansarei em paz, porque vós, Senhor, me confirmas a esperança". Entreguemo-nos em seus braços, ele cuidará carinhosamente de nós. Disse São Pedro, "lançai nele toda a vossa preocupação, porque ele cuida de vós".
Pensemos somente em Deus e no cumprimento de sua vontade, que ele pensará em nós e cuidará do nosso bem. Um dia, o Senhor disse a Santa Catarina de Sena: "Minha filha, pensa sempre em mim, que eu pensarei sem cessar em ti". Digamos sempre, como a Esposa do Cântico dos Cânticos: "Meu amado é meu e eu sou do meu amado". Meu amado se ocupa do meu bem-estar e eu quero me ocupar em agradá-lo e em me conformar em tudo à sua santa vontade. "Não devemos pedir a Deus que ele faça a nossa vontade, mas que ele nos conceda a graça de fazer o que ele deseja". Se nos acontecer alguma coisa incômoda, recebamos isso das mãos de Deus, não só com paciência, mas mesmo com alegria, seguindo o exemplo dos apóstolos, que se julgavam felizes porque padeciam pelo nome de Jesus.
Certamente, Deus se satisfaz com o desejo de sofrermos por amor a ele. Mas, segundo os mestres da vida espiritual, ele prefere aqueles que não desejam nem alegria nem sofrimento, mas que se entregam inteiramente à sua divina vontade, não desejando outra coisa que praticá-la em todos os seus atos.
Alma cristã, se desejas agradar verdadeiramente a Deus e gozar de uma vida feliz, permanece então sempre e em tudo unida à sua santa vontade. Considera que todos os teus pecados vieram unicamente de te ter desviado da vontade de Deus. De agora em diante, procura exclusivamente agradar o Senhor. E toda vez que te acontecer algum mal, repete: "Assim se faça, ó Pai, porque foi de teu agrado".
Por Santo Afonso Maria de Ligório.