Por Monsenhor Ascânio Brandão.
A humildade é o alicerce da perfeição. Uma pessoa que morreu em odor de santidade comparava a humildade com a raíz.
A raiz tira da terra a seiva da vida, que faz crescer as grandes árvores. A raiz é sempre desconhecida, é sempre pisada por quem passa. Trabalha em segredo para uma glória que nunca lhe virá. Recebe para dar. Quem é que louva uma raíz, quando colheu de uma árvore algum fruto belo e saboroso? Ela nunca recebe uma gota de orvalho, nem um raio de sol. Não goza a frescura das brisas. Em torno dela tudo é frio e seco, isolamento e silêncio.
Se uma mão benfazeja derrama sobre a raiz um pouco de água fresca, ela só a recebe muito suja. Alimenta-se de pura lama. O que sustenta a raiz e a torna vigorosa, cheia de seiva, é o esterco.
Se uma pobre raiz julga ter o direito de sair um pouco debaixo da terra e vir respirar o ar de fora, logo é cortada pela foice. Ela não pode absolutamente aparecer. A árvore se carrega de frutos. Ela nunca verá os frutos bons. Os maus, os frutos podres, só estes lhe serão atirados como adubo.
E se a raiz quisesse ver a sua obra de vida, o que produz a seiva que ela fornece, deixaria de ser raiz, ficaria bem seca e nada mais produziria.
Quanto mais oculto e profundo é o trabalho de uma raiz, tanto mais é fecundo.
E quando esta raiz é uma alma, quanto mais a vemos aparentemente aniquilada, tanto mais produz para a glória de Deus e a salvação dos outros.
Se quereis viver unidos a Nosso Senhor, antes de mais nada, é preciso ser raiz, isto é, ser humilde. Ser oculto com Jesus em Deus, para ser fonte de vida em Jesus.
Compreendamos bem, o papel da humildade como raíz da perfeição!
“A primeira virtude dos cristãos é a humildade”, afirma São Jerônimo. E diz o apóstolo, “Deus só dá a sua graça aos humildes".
A humildade é, pois, a chave das riquezas de Deus. E assim como de nada nos vale um tesouro escondido e trancado se não temos a chave para o abrir, assim de nada nos valem as riquezas do Amor Divino e da graça, se não temos a chave da humildade. Nenhuma virtude é mais exaltada na Sagrada Escritura, onde não há página que não contenha pelo menos em substância as seguintes palavras: Deus resiste aos soberbos e dá sua graça aos humildes.
Davi e Golias, Amã e Mardoqueu, o Fariseu e o Publicano, Madalena, a Samaritana, a Cananéia, o bom ladrão. Eis, entre muitos, alguns modelos da humildade nos livros santos. O Antigo Testamento e o Evangelho possuem lições de humildade em cada página, provando-nos ser esta virtude realmente o fundamento da perfeição e a chave das riquezas da graça.
A humildade é a virtude absolutamente necessária a todo cristão.