Por Monsenhor Ascânio Brandão.
A tibieza, é uma doença espiritual. E das mais graves e perigosas. É o verme roedor da piedade. Micróbio terrível! Debilita o organismo espiritual, sem que o enfermo o perceba. Enfraquece a pobre alma. Amortece as energias da vontade. Inspira horror ao esforço. Afrouxa a vida cristã. Espécie de torpor, que não é ainda a morte, mas que a ela conduz sem que o enfermo perceba, enfraquecendo gradualmente as nossas forças morais. Pode-se compará-la a estas doenças degenerativas, que consomem pouco a pouco algum dos órgãos vitais. É uma sonolência, um sistema de acomodações na vida espiritual.
O tíbio não quer lutar. Tem horror ao combate da vida cristã. Não compreende a palavra de Nosso Senhor no Evangelho: "Eu não vim trazer a paz, mas a guerra!" Guerra ao pecado, guerra às paixões, guerra à indiferença.
"Quem não é por mim, é contra mim!" O tíbio não compreende este radicalismo sublime do Evangelho e da cruz. Numa palavra o define bem o Espírito Santo: é morno. Nem frio, nem quente. Nem o ardor da caridade, o fogo do amor, nem o gelo da descrença e da impiedade e da morte da alma.
A tibieza, um estado lamentável da alma.É a mediocridade, que se contenta com não ofender a Deus pelo pecado mortal, mas não quer evitar o pecado leve, fugir do relaxamento na vida espiritual.
Enfim, para defini-la com precisão e distingui-la do que a ela apenas se assemelha, como a aridez e outras provações da vida espiritual, vamos dar a sua definição.
A tibieza, diz Santo Afonso de Ligório, é o hábito do pecado venial, plenamente voluntário. Guardemos bem esta definição.
Para a tibieza essencial, são necessárias três condições:
1. O pecado venial plenamente voluntário;
2. O hábito do pecado venial voluntário;
3. A paz com este hábito e a ausência de esforços para se corrigir.
Desde que falte uma destas condições, já não há tibieza propriamente dita. Uma alma talvez caia de vez em quando em alguma falta venial. Cai por fragilidade, por miséria. Emenda-se logo. Toma boas resoluções, corrige-se. Todavia, é tão grande a fraqueza humana! Uma vez ou outra chora uma falta venial. Não é tibieza.
Houve o pecado venial, mas não o hábito, e muito menos ainda a paz com o pecado venial. Existe combate, generosidade, boa vontade, arrependimento sincero.
Um certo autor define a tibieza assim: "A tibieza é o hábito não combatido do pecado venial, ainda que seja um só". É um hábito fundado num cálculo implícito: "Esta falta não ofenderá a Nosso Senhor gravemente, não me há de condenar. Então, vou cometê-la". É um ato dificílimo de se desarraigar da alma. É um hábito muito espalhado, sobretudo entre as pessoas que fazem profissão de piedade e entre as almas consagradas a Deus.