Por São João Eudes.
Meus queridos irmãos, de todo o coração eu vos abraço, nas entranhas de Cristo. Já estamos em 9 de julho e creio que não poderei sair de Paris em menos de 15 dias. Perco assim a esperança de vos ver. Eu vos asseguro que essa mortificação é uma das maiores que eu experimentei desde muito tempo.
A vontade adorável de Deus, que é nossa mãe, ordenou essa separação. Seja sempre bendita! Eu a chamo de nossa amada mãe, porque dela recebemos o ser e a vida, tanto na ordem da natureza quanto na ordem da graça. Ela nos deve governar e de nossa parte devemos lhe obedecer e nos abandonarmos à sua direção com imensa confiança, pois tem um amor maternal para conosco. Eu vos suplico, meus amadíssimos irmãos, que olhemos para a vontade de Deus, que a honremos e que a amemos, como nossa muito amável mãe, e que ponhamos nossa principal devoção em nos aferrar fortemente a ela, de espírito e de coração, para a seguir fielmente em tudo e para obedecer a todas as suas ordens, com coração grande e ânimo valente. Ponhamos nisso toda a nossa glória e nossa alegria, e tenhamos tudo o demais por pura loucura.
Queira Deus nos conceder tantas graças, que possamos dizer verdadeiramente: nada podemos contra a vontade de Deus, mas sim a favor da vontade de Deus. Nada podemos, quer dizer, não podemos nem pensar, nem dizer, nem fazer coisa alguma contra a divina vontade, mas somos fortes e poderosos para lhe obedecer em tudo.
Mas quando chamo a vontade divina de nossa mãe, isso não impede que a Santíssima Virgem seja também nossa Mãe. Porque a divina vontade a cumula, a possui e a anima de tal maneira, que se torna como sua alma, seu espírito, seu coração e sua vida, de tal forma que a Virgem e a vontade de Deus são uma mesma coisa, se é possível falar assim. Desse modo, a muito preciosa Virgem é nossa Mãe e a divina vontade o é também. No entanto, não se trata de duas mães, mas de uma só, a qual me entrego e me abandono de todo o meu coração, com meus queridos irmãos, a fim de que viva e reine em nós, e que cumpra todos os seus desígnios, segundo a sua maneira e não a nossa, agora e para sempre.