O que motiva uma pessoa a se conformar com a vontade de Deus diante das contrariedades? O motivo pode ser o amor puro, ou pode ser alguma outra causa sobrenatural.
Na opinião de São Bernardo, os principiantes geralmente possuem a simples resignação, que é uma conformidade que vem do temor; os proficientes levam a cruz com gosto, e essa conformidade tem por causa a esperança; os perfeitos abraçam a cruz com ardor, e essa perfeita conformidade é o fruto do amor divino.
É fácil perceber que o temor é suficiente para produzir a simples resignação. Mas para que a submissão à vontade de Deus cresça em generosidade, para que suba até o nível da exultação, é necessário um desprendimento mais completo, uma fé mais viva, uma confiança em Deus mais firme. Entretanto, essa generosidade pode ainda não ser fruto do puro amor, já que o desejo dos bens eternos (ou seja, a esperança) pode muito bem nos elevar a tais alturas. Uma alma ansiosa do céu terá por grande sorte as pequenas provas e ainda as grandes tribulações, conforme esteja penetrada pelas sedutoras palavras do Apóstolo Paulo, que dizia: "Os sofrimentos da vida presente não se comparam com a futura glória que se manifestará em nós. Nossas tribulações tão breves e ligeiras nos produzem o eterno peso de uma sublime e incomparável glória".
E existe, enfim, a conformidade por puro amor, que é a mais perfeita, porque não há nada mais elevado, delicado, generoso e perseverante do que o amor sobrenatural. Pois bem, já que a caridade é um mandamento para todos, não existe nenhum fiel que não possa praticar, pelo menos de vez em quando, um ato de conformidade por amor, atos que ele vai produzir melhor e com mais gosto na medida em que for crescendo em caridade. Assim como a alma adiantada pode se elevar continuamente no santo amor, assim também poderá crescer sem cessar na conformidade que nasce do amor.
Por Vital Lehodey.