Por São Francisco de Sales.
Não basta deixar de pecar. É necessário abandonar o afeto pelo pecado.
Para isso, é necessário formar uma ideia viva, e a mais perfeita possível, do mal imenso que o pecado traz, a fim de que o coração se sensibilize e desperte em si uma contrição forte e profunda.
Uma verdadeira contrição, por mais tênue que seja, é suficiente para afastar a alma do pecado, principalmente se for unida à força dos sacramentos. Mas, se é penetrante e forte, então pode purificar o coração também de todas as más inclinações que provêm do pecado.
Considera os seguintes exemplos: Se odiamos alguém pouco profundamente, simplesmente ficamos incomodados com a sua presença e o evitamos. Mas, se o nosso ódio é violento e mortal, então não nos limitamos a esta repugnância interior: o rancor que lhe guardamos alcança também as pessoas de sua casa, seus parentes e amigos, cuja convivência nos é insuportável. Até mesmo o seu retrato nos fere os olhos e o coração, e tudo o que lhe diz respeito nos desagrada.
Assim também, o penitente que odeia de leve os seus pecados e tem uma contrição fraca, se bem que verdadeira, fácil e sinceramente se propõe a não os cometer de novo; mas, se seu ódio ao pecado é vivo, e se é profunda a sua dor, não só detesta o pecado, mas abomina também os hábitos maus, e tudo aquilo que o pode atrair, e servir-lhe de ocasião para pecar.
Portanto, é necessário, Filotéia, que tu tenhas dor de teus pecados na maior intensidade e extensão de que fores capaz, para que abranjas até as mínimas circunstâncias do pecado. Foi assim que Madalena, desde o primeiro instante de sua conversão, perdeu todo o gosto aos prazeres, a ponto de não os conservar sequer no pensamento. E Davi exclamava que não só odiava o pecado, mas odiava até mesmo os caminhos que levam ao pecado.
É nisso que consiste a renovação da alma.