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Por Antônio Royo Marín.

Deus espera a nossa cooperação para aumentar em nós a virtude teologal da Fé. Devemos buscar esse incremento, até que toda a nossa vida esteja informada por um autêntico espírito de fé. Um espírito que nos coloque em um plano estritamente sobrenatural, a partir do qual vejamos e julguemos todas as coisas.

Para isso, podemos fazer algumas coisas.

Devemos ver a Deus através do prisma da fé, sem dar importância ao vai-e-vem de nossos pensamentos e sentimentos. Deus é sempre o mesmo, estejamos na consolação ou na desolação. Ele é infinitamente bom e misericordioso, independentemente dos acontecimentos, prósperos ou adversos, que podem nos suceder.

Devemos buscar que nossas ideias, sobre os verdadeiros valores das coisas coincidam totalmente com os ensinamentos da fé, independentemente do que o mundo possa pensar ou sentir. Devemos olhar tudo pelo prisma da vida eterna e ficar intimamente convencidos de que, em face da eternidade, é melhor a pobreza, a mansidão, as lágrimas de arrependimento, a fome e sede de perfeição, a misericórdia, a pureza de coração, a paz e o sofrer perseguição, como ensinou Jesus nas bem-aventuranças. Do ponto de vista da vida eterna, tudo isso é melhor do que as riquezas, a violência, os risos, a vingança, os prazeres da carne, o domínio e o império sobre o mundo.

Devemos ver na dor cristã uma autêntica bênção de Deus, embora o mundo não compreenda essas coisas.

Devemos estar convencidos de que é desgraça maior cometer conscientemente um único pecado venial, do que perder a saúde e a própria vida; que mais vale o bem sobrenatural de um só indivíduo, a mais insignificante participação na graça santificante, do que o bem natural de todo o universo; que a vida longa importa muito menos do que a vida santa, e que, portanto, não devemos deixar a mortificação e a penitência, mesmo que tais austeridades abreviem um pouco o tempo de nossa vida neste mundo, que é um desterro, um vale de lágrimas e misérias.

Enfim, devemos ver e julgar todas as coisas do ponto de vista de Deus, pelo prisma da fé, renunciando totalmente aos critérios do mundo e, inclusive, aos pontos de vista pura e simplesmente humanos.

Esse espírito de fé, intensamente vivido, será para nós uma fonte de consolo nas dores e enfermidades corporais, nas amarguras e provas da alma, na ingratidão ou desdém dos homens, nas perdas dolorosas de familiares e amigos. Fará com que vejamos que o sofrimento passa, mas o prêmio por haver sofrido não passará jamais; que as coisas são tais como Deus as vê, e não como os homens se empenham em vê-las, com seus critérios mundanos e cheios de capricho. Quanta fortaleza essas luzes divinas da fé derramam na alma para suportar a dor e até abraçá-la com alegria, sabendo que as tribulações momentâneas e leves desta vida nos preparam o sobrepujante peso de uma sublime e incomparável glória para toda a eternidade! Assim, nada há de estranho que os apóstolos de Cristo e todos os mártires, tendo acesa em suas almas a tocha da fé, tenham caminhado intrépidos aos cárceres, aos suplícios, e a mortes ultrajantes, alegres em padecer aqueles ultrajes pelo nome de Jesus.