Por Santo Afonso de Ligório.
Não se pode amar a Deus sem amar ao mesmo tempo ao próximo. O mesmo preceito que nos manda o amor para com Deus manda-nos igualmente o amor para com os nossos irmãos, porque ambos nascem da mesma caridade. O próprio Deus quer assim.
Deste modo compreende-se o que São Jerônimo diz a respeito de São João Evangelista. Quando perguntaram a São João porque tantas vezes ele lhes recomendava o amor fraterno, ele respondeu: “Porque é o preceito do Senhor; sendo bem observado, basta para a salvação".
Certo dia, Santa Catarina de Sena disse ao Senhor: “Meu Deus, quereis que eu ame ao meu próximo; mas eu só posso amar a Vós". Respondeu-lhe o nosso Salvador: “Minha filha, aquele que me ama, ama todas as coisas que eu amo".
Com efeito, quem ama alguma pessoa, gosta também dos parentes, das imagens e até das roupas da pessoa amada, pela razão de que ela ama tais coisas. E por que é que nós devemos amar ao próximo? Porque ele é amado por Deus.
Por isso, São João escreve que quem diz que ama a Deus e odeia a seu irmão, é mentiroso. Ao contrário, Jesus Cristo afirma que aceitará a caridade que tivermos para com o menor de seus irmãos, como feita a ele mesmo. Avalia-te neste ponto, se até agora tens tido na devida estima o preceito tão importante da caridade, e toma a resolução de seres mais exato para o futuro. “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”, disse o Senhor.
“Vós, como escolhidos de Deus, revesti-vos de entranhas de misericórdia”. Eis aí o que, segundo São Paulo, deve fazer o cristão para conservar a caridade para com o próximo. Ele diz: revesti-vos de caridade. Assim como o homem leva para todo lugar a roupa com a qual está vestido, que o cobre inteiramente, assim deve levar consigo a caridade em todas as suas ações e cobrir-se todo inteiro com ela. São Paulo diz ainda: “revesti-vos de entranhas de misericórdia”. O cristão deve revestir-se, não somente de caridade, mas de entranhas de caridade. Ou seja, deve ter para com os seus irmãos, tão grande ternura de afeto, como se cada um fosse o seu predileto particular.
Quem ama vivamente uma pessoa, pensa sempre bem dela, alegra-se pela sua prosperidade e entristece-se pelos seus males, como se fossem os próprios. Quando a pessoa amada comete uma falta, que empenho em defendê-la! Quando, ao contrário, faz algum bem, o amigo se desfaz em louvores e a enaltece até às estrelas. Eis o que faz a paixão.
Ora, o que a paixão faz nas pessoas mundanas, a santa caridade deve fazer em nós. E não só para com aqueles que nos fazem bem, mas ainda para com aqueles que nos tenham ofendido.
Ah meu Redentor, quão longe estou de me parecer convosco! Vós não fostes senão caridade para com os vossos perseguidores, e eu sou rancoroso para com o meu próximo! Vós rogastes com tanto amor pelos que Vos crucificaram, e eu só penso em me vingar de quem me desagradou! Perdoai-me, ó meu Jesus, não quero mais ser o que fui. Proponho firmemente imitar-Vos de hoje em diante, custe o que custar; proponho amar a quem me ofende e lhe fazer o bem. Dai-me a graça de Vos ser fiel.
Ó Maria, Mãe de Deus, rogai a Jesus por mim; dai-me uma parte de vosso amor para com o próximo; a vossa proteção é a minha esperança.