Por Santo Afonso Maria de Ligório.
O primeiro meio para viver o amor a Deus é desprender-se de todas as afeições terrenas. Em uma alma que está cheia do mundo, não há lugar para o amor de Deus. Quanto mais lugar o mundo ocupa no coração, tanto menos reina ali o amor divino. Portanto, quem quiser ver a sua alma repleta do divino amor, tem que fazer todos os esforços para dele expulsar tudo quanto lembre o mundo. Para nos tornarmos santos devemos imitar São Paulo, que com o fim de ganhar o amor de Cristo, desprezava todos os bens do mundo, e os considerava como nada.
Sim, peçamos ao Espírito Santo que nos inflame do Seu amor. Então iremos nós também desprezar aqueles bens e considerar como vazio, fumaça e lodo, todas as riquezas, todos os prazeres, todas as honrarias e dignidades da terra, pelos quais, infelizmente, a maior parte dos homens se perde. Quando o amor divino se apodera de um coração, esse não faz mais nenhum caso de tudo quanto o mundo estima.
Logo que cresce o incêndio numa casa, diz São Francisco de Sales, lançam-se pela janela a fora todos os pertences. Ele quer dizer: estando o coração abrasado pelo amor divino, o homem buscará, por iniciativa própria, despojar-se dos bens terrenos, das honras, das riquezas, de todos os negócios deste mundo, e nem desejará amar mais nada a não ser Deus.
Para uma alma que ama a Deus, é coisa bem penosa e insuportável dividir o seu amor por Deus com as coisas deste mundo, amar ao mesmo tempo a Deus e as criaturas.
E diz por sua vez São Bernardo, que o amor é ciumento. Ciumento porque Deus, num coração que Ele ama, não suporta rivais no amor, mas o exige somente para Si, todo inteiro. Tanto mais porque este Deus de bondade, precisamente para ser amado sem partilha, se doou inteiramente por esse coração. "Ele se pôs inteiramente ao serviço da minha felicidade", dizia São Bernardo.
Cada um de nós pode e deve dizer o mesmo: que Jesus sacrificou a Sua vida inteira e imolou todo o Seu sangue na cruz por mim. É igualmente para cada um de nós que, ainda depois da Sua morte, deixou o Seu corpo e o Seu sangue, todo o Seu ser como Homem-Deus, no Santíssimo Sacramento do altar, no qual se torna o alimento e a bebida das nossas almas, a fim de poder Se unir a todos e a cada um.
Ditosa a alma que se eleva a tão sublime grau de amor, que tudo quanto não diga respeito a Deus lhe fica sendo intolerável.
Para chegarmos a tal grandeza, tomemos cuidado de nunca alimentar afeto pelas criaturas, mesmo um afeto desmedido a parentes e amigos, pois tais criaturas nos roubariam parte do amor que Deus deseja todo inteiro. Razão pela qual devemos edificar em nossa alma "um jardim fechado", como o Senhor chamou a Esposa do Cântico dos cânticos.
Um "jardim fechado". É o titulo que convém a toda alma que não abre a porta do seu coração a nenhuma afeição pelas coisas terrenas.
Portanto, havendo criatura que pretenda insinuar-se em nossa alma e até fixar morada nela, é imprescindível recusar decididamente esse intento, e logo em seguida dirigir-nos a Jesus Cristo com um pedido assim: Ó meu Jesus, só vós me sois bastante. Não quero amar nada mais senão a Vós. Meu Deus, Vós deveis ser o único dono do meu coração, meu único amor.
Por isso, não nos cansemos jamais de pedir a Deus que Ele nos conceda o dom do Seu puro amor. O puro amor de Deus consome tudo quanto não seja Deus, e muda tudo em amor.