Por São João Eudes.
"Ele olhou para a humildade de sua serva". Qual é essa humildade de que fala a bem-aventurada Virgem?
Alguns dizem que, entre todas as virtudes, a humildade é a única que não se percebe a si mesma. Pois quem se julga humilde, é orgulhoso. Por essa razão, quando Maria diz que Deus olhou para a sua humildade, não se refere à virtude da humildade, mas sim à sua baixeza e indignidade.
Por outro lado, segundo São Bernardo, existem duas espécies de humildade. A primeira é filha da verdade e consiste no conhecimento. Já a segunda é filha da caridade e consiste no afeto. Pela primeira, a humildade que consiste no conhecimento, nós reconhecemos a nossa própria miséria e a nossa própria enfermidade. Pela segunda, a humildade que consiste no afeto, desprezamos a glória do mundo. Nós aprendemos essa humildade de Cristo, que se rebaixou a si mesmo. Ele, que fugiu quando queriam fazer dele um rei mas não fugiu quando queriam crucificá-lo e mergulhar em um abismo de humilhação.
Deus olhou para a humildade de Maria. Olhou antes para a humildade do que para a pureza, do que para qualquer outra virtude, mesmo tendo todas elas em grau elevadíssimo. Santo Alberto Magno e Santo Agostinho dizem que Deus olhou mais para a humildade, porque Ele se agradou mais de sua humildade do que de sua pureza.
Diz São Bernardo: a virgindade é muito louvável, mas a humildade é necessária. Podeis ser salvos sem virgindade, mas sem humildade não há salvação. Sem a humildade de Maria, ouso dizer que sua virgindade não teria sido agradável a Deus. Se Maria não fosse humilde, o Espírito Santo não teria descido a ela e ela não seria Mãe de Deus. Ela agradou a Deus pela virgindade, mas concebeu o Filho de Deus pela humildade.
Quem não possui humildade, não possui nada. E quem possui humildade, possui todas as outras virtudes.